Seria uma segunda-feira normal para as famílias que até a manhã de ontem habitaram uma área de invasão na região denominada Grande Cafeteira. Os moradores da Vila Santa Luzia que saíram normalmente para trabalhar, alguns deixando os filhos com vizinhos, receberam minutos depois a informação de que todas as casas seriam derrubadas.
“Foi um susto grande quando me ligaram dizendo isso. Meu filho fica com minha vizinha enquanto minha mulher e eu trabalhamos. Tive que vir correndo pra cá e encontrei meus vizinhos na mesma situação”, conta o motorista Cláudio Silva. Para sair do aluguel, Cláudio e a esposa decidiram erguer uma casinha simples, em um cantinho da área invadida. “A gente estava mudando aos poucos. Agora estou tirando telhas, madeira, o que eu puder levar para não ser maior o prejuízo”, declara.
A poucos metros, o lavrador Antônio José reclama a sorte de dois filhos que também voltaram às pressas do trabalho para retirar móveis e matérias usados para construir as residências. Um deles é o também lavrador Paulo Sérgio.
“Vieram um mês atrás dizendo que vinham avisar o dia de nós sairmos. Hoje chegaram para tirar o pessoal sem avisar ninguém. A ordem foi pra sair agora”, referindo-se ao documento de reintegração de posse apresentado por um oficial de justiça, acompanhado de homens da Polícia Militar e do proprietário da terra.
Paulo Sérgio também não teve escolha e deixou a casa que estava em construção já há nove meses. “A gente sabia que era uma área de invasão. Era um local onde o pessoal tirava barro antigamente”, explica.
A cena assistida pelo líder comunitário Raimundo José Bezerra foi descrita como “uma tristeza, pois são famílias, não se pode fazer assim. Era melhor que se negociasse, esperasse que as pessoas tirassem seus tijolos, suas telhas, tábuas, porque esse material não foi roubado, foi comprado com o suor desses trabalhadores”, declarou, apontando pedaços de paredes e telhas caídas, no processo rápido de retirada das estruturas.
Do outro lado da rua, o dono do terreno observava o vai e vem de pessoas com crianças de colo, utensílios de cozinha, trouxas de roupa na cabeça e sem abandonar os bichos de estimação. “Onde coloco o cachorro, pai!?”, dizia a criança, preocupada. Para auxiliar as mudanças, o mesmo homem que, calçado pela lei chegou cedo ao local, levou caminhões para transportar as mobílias.
“Tenho essa área há 23 anos, é a terceira vez que invadem. Na primeira vez fizeram vários baldrames, nós indenizamos e o pessoal saiu. Voltaram a invadir pela segunda vez e agora novamente. Antes de o juiz dar a decisão, mandou um oficial de justiça pela quarta vez e pegou assinatura de todos os que disseram que iriam deixar este espaço. Chegou o dia e foram dados mais 15 dias para eles saírem. O que está sendo feito aqui é justiça”, justifica Rodolfo Miranda de Freitas.
Hemerson Pinto
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