Desde o ano de 2016, a Comissão Episcopal para a Amazônia e a Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam) têm promovido seminários em todos os regionais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na Amazônia Legal, identificando e fortalecendo iniciativas socioambientais no contexto amazônico. Entre os dias 10 e 12 de fevereiro de 2017 aconteceu o primeiro seminário no Estado do Maranhão, em Imperatriz. O próximo deve ocorrer no município de Zé Doca (MA), de 17 a 19 deste mês.
O Seminário "Os desafios ambientais na Amazônia" contou com um público de 120 pessoas entre representantes das diversas pastorais sociais da Igreja Católica, organizações, entidades, movimentos populares, sociedade civil organizada, indígenas, sertanejos, ribeirinhos, quilombolas, pescadores artesanais, geraizeiros (populações tradicionais que vivem no Cerrado), quebradeiras de coco e catadores de materiais recicláveis que fazem parte das dioceses de Imperatriz, Viana, Grajaú, Carolina e Balsas. O evento, promovido pela Rede Eclesial Pan-Amazônica, é um chamado à defesa da Vida e da Natureza, sob a iluminação da Encíclica Laudato Sì (Louvado Sejas), do Papa Francisco.
As reflexões sobre os danos causados pelo homem à Natureza permearam todo o Seminário, a começar pela encenação teatral durante a abertura do evento, na noite do dia 10, onde o planeta Terra (representado por uma mulher) chorava a destruição do meio ambiente, que na cena era simbolizada pelo lixo. Houve também apresentação de danças tradicionais, como o cacuriá, pelo grupo imperatrizense Kizomba.
No dia 11, representantes das quebradeiras de coco, dos catadores de materiais recicláveis, do Mutirão do Trabalho Escravo, dos movimentos negro e indígena tiveram espaço de fala e relataram as várias violações sofridas nos contextos e territórios onde estão inseridos, buscando construir uma síntese da realidade onde atuam. Logo após, o professor Fernando Babilônia, mestre em Desenvolvimento Social, realizou uma análise de conjuntura, trazendo dados ambientais, sociais e econômicas do Estado.
Ele afirmou que o Maranhão ocupa o segundo lugar no ranking do desmatamento, pressionado principalmente pelo agronegócio. A área total plantada com a monocultura de soja, milho e algodão já chega a 2 milhões de hectares. Além disso, pontua que embora o Estado tenha crescido economicamente, a distribuição da renda continua sendo um grande problema. "Falta transformar crescimento em desenvolvimento", ponderou.
A situação do Maranhão é um reflexo da própria estrutura socioeconômica do Brasil e do mundo. Segundo as reflexões trazidas pela diretora do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) e assessora da Repam, Moema Miranda, a nossa economia se baseia muito na exportação de commodities (mercadorias primárias, como o minério de ferro e os grãos).
Ao final de todos os seminários da Repam, uma carta compromisso é elaborada pelos participantes, com o objetivo de propor ações concretas de transformação local. Há a possibilidade de que, posteriormente, essas cartas cheguem às mãos do Papa. Na carta produzida em Imperatriz, os participantes se posicionavam ao chamamento para cuidar da nossa casa comum. "Refletindo à luz dos ensinamentos da Encíclica Laudato Sì do Papa Francisco, nos damos conta da necessidade de unirmos forças na luta comum, apoiados nos diálogos entre as pastorais sociais e os movimentos dos povos tradicionais. Somos, em nossa maioria, os oprimidos e afetados pelos grandes empreendimentos desenvolvimentistas, que privilegiam poucos".
Sobre a Repam
A Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam) foi fundada oficialmente em setembro de 2014. Abrange os nove países do bioma amazônico e os nove estados brasileiros ali situados - incluindo o território da Amazônia Legal. Os Seminários Laudato Sì estão sendo realizados nos vários cantos desse território, dialogando as realidades locais com a Encíclica do Papa Francisco. A região amazônica é um dos maiores berços de biodiversidade ecológica e cultural do planeta. A preocupação da Igreja com esta região é histórica e volta-se para o cuidado e proteção deste grande território. (Idayane Ferreira)
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