Hemerson Pinto
Uma cena que chamou atenção na noite da última sexta-feira. Enquanto uma das boates de Imperatriz era preparada com teste no equipamento de som, do lado de fora dois repentistas tiravam sons das violas, remetendo às raízes nordestinas e assim atraindo um pequeno público, formado por dois rapazes, além de um casal e duas crianças que acompanhavam as rimas de dentro do veículo estacionado ao lado.
Um pernambucano de Araripina e um cearense de Crato. Duas vozes que têm suas cidades apenas como base para um descanso junto às famílias, quando a saudade bate e os convida a um retorno breve para suas origens, mesmo que por pouco tempo. Pois a maior parte do tempo esses dois nordestinos passam viajando.
Entre roteiros e mais roteiros, as rimas dos dois passaram por estradas de chão, rodovias, ferrovias, praças, feiras agropecuárias, festejos, bares, centros comerciais, até se encontrarem no estado do Pará. Juntos resolveram visitar o Maranhão pela segunda vez, justamente a cidade de Imperatriz, onde são recepcionados pelo violeiro prata da casa ‘João Bonitinho’.
Eles caminhavam pela calçada da boate onde certamente nunca imaginaram entrar quando foram abordados por um jovem que pediu uma rima. Gravou tudo em vídeo no celular e prometeu divulgar na internet “para não deixar morrer essa cultura nordestina”, acrescentou.
O rapaz sugeriu uns versos para ‘homenagear’ o amigo que o acompanhava. Um dos violeiros perguntou o nome do homenageado e o que ele fazia, como profissão. O amigo não resistiu e pregou logo uma peça: “ele é raparigueiro”. Foi um prato cheio para os dois improvisarem nos versos.
Milton Ferreira é o pernambucano que tem 25 anos de profissão. É profissão mesmo. O que tem, o que veste, o que come, é fruto do dedilhado ligeiro que arranca das cordas da viola o ritmo que combina com as palavras improvisadas, que surgem rapidamente na ponta da língua.
Bernardo Feitosa é o cearense que nasceu em Crato, cidade ao lado da terra do padre Cícero Romão Batista. Faz os famosos repentes desde jovem, quando começou a viajar para vários estados brasileiros.
A apresentação dos dois em frente à boate demorou poucos minutos. Mas agora podem dizer por onde chegarem que na segunda maior cidade do Maranhão foram respeitados e foram os primeiros a se apresentarem naquela noite, ‘na boate’, da Praça da Cultura. Como o encanto das rimas permite a viagem entre o real e o fictício, ninguém vai questioná-los. Depois da apresentação, seguiram pelas ruas da área central, guiados por ‘João Bonitinho’.
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