Não, não se trata de nenhum comentário sobre o clássico do historiador Sérgio Buarque de Holanda, que aborda aspectos centrais da história da cultura brasileira, mas sim das raízes de verdade, daquelas que curam e que até hoje são usadas pela “medicina doméstica” das várias maneiras e combinações possíveis. Admito que o termo possa ser politicamente incorreto, entretanto servirá para definir o conjunto de “receitas” ou fórmulas, passadas de pai para filho, de avô para neto,   extraídas da nossa rica flora para curar uma  infinidade de males que afetam a saúde.
Com o avanço da medicina e da indústria farmacêutica, é certo que a busca por esse método alternativo de tratamento tem diminuído ao longo dos anos, todavia ainda não acabou. Efeito placebo ou não, o número de pessoas que recorrem aos chás, infusões e às tradicionais garrafadas ainda é muito elevado, principalmente neste lado do Brasil. Por aqui, a maior parte dos usuários apresenta sempre  um testemunho de alívio ou mesmo cura, e não perde a oportunidade de indicar o tratamento para quem está ou tem um amigo, ou ente com o mesmo problema.
E é dessa forma, no “boca a boca”, que os raizeiros continuam sendo, mesmo quase anônimos, um componente importante no auxílio ao tratamento de doenças não resolvidas pelos poderosos fármacos da atualidade. A sabedoria popular desses seres popularmente chamados de “raizeiros” continua viva, bem viva e serve de esperança para milhares de pessoas, algumas até tidas como “desenganadas dos médicos”.
O que levam essas garrafadas? A maior parte dos raizeiros não conta. Quem quiser que acredite, compre e sinta, ou não, os resultados. Talvez esteja aí o “segredo” do segredo do sucesso dessas   “milagrosas misturas”.
Em Imperatriz não é difícil encontrar, ou ter notícia de um raizeiro, ou herbolário, como também são conhecidos. Basta num local público abrir a boca e dizer que sente isso e aquilo; que já tomou todo o tipo de medicamento e em questão de segundos aparecerá alguém com algum tipo de testemunho afirmando conhecer um homem ou uma mulher que “faz um remédio” que no máximo três dias resolve o problema.
Essa semana, ao comentar, em locais distintos, que estava a sentir dores intermitentes na costa e que desconfiava de ser “pedra nos rins”, apareceram pelo menos umas cinco pessoas indicando quem poderia encontrar a solução do problema sem que eu precisasse recorrer aos medicamentos alopáticos.
Admito que, mesmo antes de procurar socorro médico, fui atrás de um raizeiro, este, por sua vez, disse-me que para me ajudar precisava saber se era realmente pedra nos rins e qual o tamanho delas.  Fiz os exames - não era pedra, contudo, para aliviar as dores, voltei ao raizeiro e ele rapidamente juntou três raízes e recomendou-me fervê-las e, por fim, tomar dois copos diariamente. A beberagem, pra mim, funcionou.
A tradição de buscar a cura dos males do corpo pela utilização de plantas medicinais e rituais no Brasil, segundo Tresvenzol, é o resultado da influência cultural dos indígenas locais miscigenada às tradições africanas e à cultura europeia trazida pelos colonizadores.
Muitas vezes, pelo que pode-se constatar, na busca da cura, os conhecimentos empíricos e científicos  se cruzam com as crendices populares. É interessante ressaltar que esse tipo de conhecimento vem sendo transmitido desde as antigas civilizações; o que fez das raízes e plantas uma prática generalizada na dita “medicina doméstica” e a provocar o surgimento dos nossos  raizeiros”.

* Elson Mesquita de Araújo, jornalista