Não bastasse a leitura diária de deprimente estatística referendando as mortes que ocorrem em nossa maltratada cidade, fomos defrontada com uma fatalidade que ceifou a vida de uma criança em recente acidente aqui ocorrido. Não pude represar indagações a respeito dessa “coisa” que se chama morte. Deixando a sensibilidade filosofar me vi diante desse texto cujo foco é tão somente espreitar a morte para que ela não nos intimide (tanto?...)
Maria Helena Ventura Oliveira
Membro da Academia Imperatrizense de Letras
Cadeira 24
Para que serve a morte?
A fatalidade biológica estabelece que tudo quanto nasce morre.
Em que consiste a morte? - “Na interrupção dos procedimentos vitais que mantém o organismo em atividade.”
Desde os primórdios do pensamento que se tem a morte como parte da vida. Considerada por alguns como etapa final e inevitável do ser, é considerada por outros como a alternativa que dá ensejo a novas experiências transcendentais.
Alojadas no corpo humano adulto, setenta trilhões de células, aproximadamente, se movimentam em constantes transformações, propiciando que a máquina orgânica prossiga em trabalho incessante e harmônico.
A cada segundo morrem trinta milhões de hemácias que são substituídas por outras. E nessas substituições, a memória das células repete as experiências das anteriores, em admirável automatismo.
Há de se reconhecer a luta da inteligência - através da ciência e da tecnologia - para preservar o corpo aos agentes destrutivos. Mas há também a busca da morte. Isso é algo perturbador como solução enganosa em sua luta contra o instinto de conservação.
Aquele que se prepara para morrer de maneira digna e natural sabe que o corpo é um abençoado presídio celular que retém temporariamente o Espírito. Assim, depois de desbravar os continentes existenciais que a vida lhe ensejou, ele se liberta de limites porque o seu horizonte é o infinito para onde ruma.
ANGÚSTIA MATERNA
Oh! Lua branca, suave e triste,
–A Mãe pedia, fitando o céu –
Dize-me, Lua, se acaso viste
Nos firmamentos o filho meu.
A morte ingrata, fria e impiedosa,
Deixou vazio meu doce lar,
Deixou minhalma triste e chorosa,
Roubou-me o sonho – deu-me o penar.
Se tu soubesses, Lua serena,
Como era grácil, que encantador
Meu anjo belo como a açucena,
Cheio de vida, cheio de amor!...
Disse-lhe a lua – “Eu sei do encanto,
Dum filho amado que a gente tem;
E das ausências conheço o pranto,
Oh! se conheço, conheço-o bem!...”
– “Então, responde-me sem demora,
Continuava, sempre a chorar:
Em qual estrela cheia de aurora
Foi o meu anjo se agasalhar?...”
João de Deus
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