No interior das manifestações observamos vários tipos de pessoas. Umas extremamente irritadas com o volume de coisas erradas que nos chegam ao conhecimento. Afinal, errar no Brasil é coisa de todo brasileiro, até essas pessoas já erraram de alguma forma, quando adotam o "jeitinho brasileiro" para resolver alguma pendência de suas vidas. Essas, também, nem deveriam estar tão irritadas assim, o negócio é que aqui no Brasil, nós temos o péssimo costume de viver apontando o dedo pros outros, e esquecemos de apontá-los pra nós também.
Bem, mas aqui se pretende discutir sobre aquelas pessoas que se fazem sempre presentes nesses tipos de manifestações, de cunho democrático, e que têm por objetivo reivindicar algo, cobrar de quem exerce o poder uma outra postura, diferente da que estamos presenciando. Pessoas que adotam a postura agressiva no sentido de quebrar as coisas, e de ferir a autoridade policial à frente do movimento. Quem são essas pessoas? O que querem realmente?
Há um percentual pequeno delas que querem furtar os manifestantes, e quando começa o quebra-quebra elas, de forma oportunista, entram no quebra-quebra pra furtar as lojas. Mas o maior volume de pessoas que participam do quebra-quebra é gente com formação intelectual, são acadêmicos que se dividem nos mais variados grupos ideológicos que só acreditam na luta agressiva. São os seguidores dos teóricos da luta armada, gente que tem estudo, muito estudo sobre as ideologias socialista, comunista, anarquista.
Esses sonham com a derrubada do poder. Eles não estão ali apenas para reivindicar que seja feito algo pela saúde, pela educação, contra a corrupção. Eles querem outro governo, radicalmente diferente dessa coisa hipócrita que temos aí. Esse pessoal que bate, que quebra e grita alto Fora este e Fora aquele, é o pessoal mais indignado com a bandalheira que tem causado as manifestações, e é o pessoal com maior acúmulo de estudo da ciência política. Eles não são homogêneos. Se diferenciam um do outro pela corrente de pensamento que seguem. Em um ponto eles convergem, no ódio que sentem desses governos direitistas que se sucedem em Brasília.
Eis porque não há quebra-quebra nas pequenas cidades, onde não há uma tradição universitária. Os que se aproveitam do quebra-quebra pra furtar não começam isso, eles se aproveitam da situação iniciada pra levar vantagem. Quem começa é o acadêmico de formação nas linhas do pensamento da esquerda armada. Apesar de Imperatriz já possuir faculdades há algum tempo, não há grupos de estudo das ideologias, os acadêmicos daqui ainda não se identificam com este ou com aquele teórico dessas correntes de esquerda. Eis a diferença da capital São Luís, onde tem ocorrido manifesto agressivo, e no rumo do Palácio dos Leões e da Prefeitura.
Então, não se pode pensar que essa rapaziada que quebra é formada por loucos sem causa, do tipo vândalo. Eles sabem muito bem o que estão fazendo e porque fazem assim. A maioria deles não é de saqueadores, eles até combatem quem se aproveita do momento para saquear, para que não se confunda as coisas. Os considerados vândalos talvez sejam mais intelectuais que a grande maioria dos manifestantes, que luta pra baixar o preço de uma passagem de ônibus urbano, ou dos que lutam por melhor Educação e Saúde, ou mesmo contra a corrupção. Esses querem mudar o governo, querem outro governo.
Luis Fernando Pires Pinto.
Professor da FACIMP.
Gerente do Ministério do Trabalho e Emprego.
Publicado em Cidade na Edição Nº 14738
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