Por Raimundo Primeiro
Gostava do jeito de ser, de agir e, principalmente, de opinar sobre assuntos nacionais, notadamente aqueles inerentes a cultura, do dramaturgo, romancista e poeta, Ariano Suassuna. Áspero, mas com pitadas de humor.
Tive a satisfação de assistir duas palestras dele, uma em Natal, Rio Grande do Norte, e outra aqui, em Imperatriz, no Salão do Livro (Salimp), cuja edição não me vem à mente no momento.
Ariano não tinha papas na língua, era denso no verbo, no falar sobre a cultura nordestina, com forte resistência nos chamados grandes centros do país.
A rejeição fulgurante sofrida pelas nossas mais efetivas manifestações culturais por habitantes de outras regiões da nossa terra, era presença constante no discurso do ex-integrante da Academia Brasileira de Letras (ABL). Nordestino de sangue quente, paraibano arretado!
O autor não se conformava, principalmente ele, criador de um movimento com o objetivo de tornar erudita a cultura popular nordestina. O jeito simples dele, tornou-o ainda mais conhecido e admirado.
Falava aberta e fortemente sobre o preconceito sofrido pela cultura popular nordestina, tão rica e cada vez mais em crescente processo de evolução, ganhando espaços além de nossas fronteiras.
O humor de Suassuna agradava, ilustrava suas apresentações. A propósito, ressaltou: “a arte pra mim não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa”. Simplesmente, genial!
Ariano frisava não ser hostil com quaisquer manifestações culturais. No vídeo “Riquezas e encantos da cultura brasileira”, ele pede para a juventude de nosso país nunca deixar cair a chama de “nossa cultura”, mantendo-a cada vez mais em lugar de destaque. Em síntese, viva!
Realmente, é preciso valorizar a cultura brasileira. Ariano chegou a enfatizar não ser ufanista. Tinha, sim, orgulho, mas ponderado, da cultura popular brasileira. Em todas as suas nuances, nossa arte tem de predominar.
Com orgulho, Ariano dizia: “não troco o meu ‘oxente’ pelo ‘ok ‘de ninguém!”
Concordo com o autor. Entretanto, os brasileiros já vêm evoluindo no que refere a assuntos culturais. Segundo Ariano, “a massificação procura baixar a qualidade artística para a altura do gosto médio. Em arte, o gosto médio é mais prejudicial do que o mau gosto... Nunca vi um gênio com gosto médio”.
Estamos às vésperas do Salimp 2019. Um momento, portanto, para reflexão sobre a visão de Ariano em relação a cultura popular, a arte nordestina de um modo geral, mas, principalmente, de valorização de nossas coisas e lousas, participando, enfim, indo ao Centro de Convenções, já revitalizado e climatizado, mantendo encontro real com nossos fazedores de artes, com autores, etc...
Concluo, agora, parafraseando o autor em epígrafe, “acredito que toda arte é local, antes de ser regional, mas, se prestar, será contemporânea e universal”.
Ariano, só pelo “Auto da Compadecida”, já teria realizado sua missão. Vi o filme algumas vezes, inclusive reprises exibidas pela “Sessão da Tarde” (Rede Globo). Memorizei cenas. Bacanas!
A Academia Imperatrizense de Letras (AIL), autores, organizadores, público, todos, a união em prol da cultura brasileira, criando espaços para os escritores, artistas locais/regionais/tocantinos. Os chamados “pratas da casa” têm talento, são bons. Também estarei circulando pelos corredores do Salimp, participando dos eventos, conferindo in loco as novidades em exposição.
Venha, faça o mesmo. Valeu, Ariano!
Que venha, o Salimp 2019!
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