O idealizador da balsa posa com acadêmicos e ativistas culturais
Noé Von Atzingen autografa o livro ao vice-presidente da AIL, Trajano Neto

Domingos Cezar

No início do século passado, quando a Amazônia ainda era povoada pelas lendas dos seres que protegiam a floresta e as águas, como a cobra boiúna, que espantava os colonizadores; o Nego D’Água, que espantava os meninos travessos que banhavam nas águas do rio Tocantins, começou pelo Médio Tocantins uma migração de nordestinos, rumo às riquezas do Pará, mais especificamente, Marabá.
A historiadora Carlota de Carvalho, que empresta o nome à biblioteca da UNISULMA e irmã do professor e historiador Parsondas de Carvalho, que tem escolas com seu nome em Montes Altos e nome de rua central em Marabá (PA), descreveu com muita propriedade essa verdadeira corrida do ouro rumo às terras paraenses, em busca da extração do látex da borracha e, posteriormente, da castanha.
“Desde o Piauí, todo o sertão exportava víveres, carne de boi e porco; toucinho, farinha seca e de fubá, açúcar, rapadura, cachaça, tabaco, doces, queijos, galinha, ovos, bois vivos, porcos e vacas paridas, até laranjas, abóboras e inhames para a fantástica e maravilhosa Marabá, surgida de repente, como obra da magia na foz do escuro rio”.
Mas o rio Tocantins não serviu de transporte somente para as gigantescas balsas que desciam suas águas no período invernoso. Por intermédio dele (Tocantins) também se transportava a riqueza, o comércio, as mercadorias, através de possantes barcos, deles de até 120 cavalos, a exemplo do “São José de Ribamar”. E tudo isso em enorme percurso que se iniciava em Pedro Afonso (TO), até Belém (PA).
Sabedor da saga desses desbravadores, por intermédio de conversas com antigos pilotos de embarcação, o irrequieto ativista cultural, biólogo Noé Von Atzingen, presidente da Fundação Casa da Cultura de Marabá, idealizou para marcar os 100 anos de emancipação política do município de Marabá, em cinco de abril de 2013, essa fantástica viagem na balsa de buriti, entre Carolina a Marabá (PA).
Para colocar em prática seu projeto, Noé Von Atzingen foi primeiro em busca de parceiros, depois partiu para a pesquisa e construção da balsa, que apesar de pequena, mas uma réplica perfeita das originais, deu muito trabalho desde a coleta dos talos de buritis, uma vez que teve dificuldades em encontrar os pés de buritis na região de Carolina, pois foram engolidos pelas águas da hidrelétrica de Estreito.
Com todos esses percalços naturais, a comitiva de Noé, composta de 16 pessoas, entre vogueiros (que conduzem a balsa), barqueiros, pesquisadores, ambientalistas, biólogos e pessoal de apoio, a Balsa de Buriti partiu de Estreito passando por Tocantinópolis (TO), Itaguatins (TO) e Imperatriz, onde foi recebida por autoridades locais. A partir de Imperatriz, levando a bandeira do município, a balsa seguiu o seu destino até ser recebida com muita festa no porto de Marabá.
Na noite dessa sexta-feira (21), Noé Von Atzingen esteve em Imperatriz fazendo o lançamento do livro “Balsa de Buriti – Cartografia de uma Viagem, no auditório da Academia Imperatrizense de Letras – AIL. O presidente da Fundação Casa da Cultura de Marabá foi recepcionado pelo presidente da Fundação Cultural de Imperatriz, Lucena Filho; o assessor-chefe de Comunicação da Prefeitura, Élson Araújo, e pelos acadêmicos Trajano Neto, Domingos Cezar e Zeca Tocantins.