Advogados, religiosos, vereadores e a sociedade organizada se mobilizam para adoção de medidas judiciais contra o edital da Funai que prevê a expulsão de 243 produtores rurais de Montes Altos

Gil Carvalho

Montes Altos - Os produtores rurais atingidos pelo edital publicado pela Fundação Nacional do Índio (Funai) no Diário Oficial da União (DOU) no último dia 23 de maio participaram de uma grande reunião realizada nessa sexta-feira (6), às 10h, no clube Luciano Ariolli, em Montes Altos.
De acordo com o edital, a Funai acusa os agricultores --que há mais de 40 anos nas propriedades-- de ocuparem ilegalmente uma área demarcada de 144.775 hectares para os índios Krikati, em Montes Altos. O decreto foi assinado pelo ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva
Na ocasião, o vereador-presidente da Câmara Municipal, Aldefran Barbosa Azevedo (PPS) informou à reportagem que recebeu o ofício nº 133/2014, do coordenador regional substituto da Funai, no Maranhão, Francisco Martins Teixeira, comunicando sobre a publicação do edital que notifica os ocupantes não indígenas que ainda estão dentro dos limites da terra indígena Krikati, situada nos municípios de Montes Altos, Sítio Novo, Lajeado Novo e Amarante do Maranhão.
"Os notificados ficam cientes da obrigação de proceder à retirada de seus familiares e empregados, bem como seus bens imóveis e objetos pessoais do interior da terra indígena Krikati", informa o ofício que alerta: "os agricultores que não retirarem os bens móveis no devido prazo, caracteriza abandono em favor da comunidade indígena krikati".
O presidente da Comissão Permanente de Assuntos da Reserva Indígena Krikati, Nilton Paixão Gomes, o Nil Gomes, considerou positivo a realização do encontro que mobilizou os diversos segmentos da sociedade, entre os quais, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais; a Câmara Municipal; Associações de Produtores Rurais e o poder público de Montes Altos. 
"Esse problema que envolve a reserva Krikati se arrasta há mais de 20 anos, atingindo centenas de produtores rurais, pois a grande luta é para que essas famílias somente deixem seus imóveis caso sejam indenizadas pela União, bem como reassentadas para o cultivo da produção agrícola e não serem expulsas de qualquer modo de suas terras", disse ele, que lamenta a situação da maioria das 243 famílias que não sabem para onde irão depois do dia 23 de junho. 
O padre Raimundo Brandão afirmou que o posicionamento da igreja católica é de apoiar os produtores rurais atingidos pela Funai e tentar garantir os direitos. "Nós não desconhecemos os direitos dos índios, porém não queremos as pessoas que moram a dezenas de anos sejam tratados como coisas e retirados sem proposta de reassentá-los", asseverou. 
Ele observou que a expulsão das 243 famílias causará um grande problema social em Montes Altos. O religioso citou que o município tem sido prejudicado desde 2004 quando o ex-presidente Lula da Silva sancionou essa lei. "Muitas famílias já foram expulsas de suas áreas, empobrecendo a dimensão agrícola do nosso município e deixando várias pessoas jogadas na área urbana sem estarem habilitadas para viver na cidade", avaliou.