Raimundo Primeiro

Não só o Brasil, mas o mundo amanheceu diferente hoje. Sem dúvida, 29 de novembro de 2016 entrará para a história como o dia mais triste para o futebol brasileiro, tendo em vista ser a nossa terra o país do futebol e de extraordinários gênios da redondinha, levando para além fronteiras craques do quilate de Pelé e, nos dias de hoje, de Neymar, admirados aqui e lá fora. Não é equívoco afirmar que o Planeta Bola não é mais o mesmo. O mundo também chora a morte prematura de verdadeiros integrantes da arte de atuar.

A exemplo dos brasileiros que assistiam ao telejornal exibido pelo Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) na madrugada dessa terça-feira, a comoção também tomou conta de mim quando soube do acidente com o avião que transportava a delegação da Chapecoense até Medellín (Colômbia).

Representando, com orgulho, o nosso Brasil, a Chapecoense iria participar da decisão da Copa Sul-Americana, contra o Atlético Nacional de Medellín, lá na Colômbia, quando o avião que transportava a sua delegação, convidados, jornalistas, cinegrafistas e radialistas, teve de fazer um pouso forçado numa região montanhosa, matando 71 pessoas. A partida aconteceria na quarta-feira (30), e era esperada com grandes expectativas, principalmente pelos chapecoenses, cidade distante 17 quilômetros da capital, Florianópolis, feito inédito para os catarinenses.

O acidente aéreo também deixou de luto a imprensa brasileira, pois o avião transportava 22 jornalistas que trabalhariam na cobertura da final da Copa Sul-Americana. No domingo, saboreando umas cervejinhas, acompanhadas, obviamente, de churrasquinhos, no Bar do nosso amigo vascaíno Neguinho, nas proximidades de onde resido, conversando sobre futebol, lembramos do desempenho da Chapecoense, inclusive falando sobre os salários de seus jogadores, quando o flamenguista Ronaldo lembrou-se do nivelamento da folha de pagamento do clube, isto é: todos os atletas recebem os mesmos valores.

Lembrando o mestre da crônica esportiva, dramaturgo Nelson Rodrigues: “Pero Vaz de Caminha diria que, nesta terra, até os paralelepípedos dão flor, até as zebras estão florindo. E outra coisa: - outrora, o que matava o brasileiro era o subdesenvolvimento pessoal. Sim, um falido da esperança. Depois de 58, o país continua subdesenvolvido, ao passo que cada brasileiro, pessoalmente, está investido de uma imensa potencialidade criadora”.

Aproveitando o espaço para esclarecer, a propósito, que, por meio da sua criatividade, o brasileiro foi avante. Deu, enfim, a volta por cima e mostrou o seu valor, as suas potencialidades. No futebol, houve expressivo crescimento. A terra do rei Pelé revelou e continua mostrando talentos, jogadores que atuam com garra e, sobretudo, harmonia. Jogam com estética, entendem do assunto. A torcida é, sim, o segundo técnico, mesmo que simbolicamente, já que elaboram estratégias de ações para as suas equipes.

Hoje de manhã, às 7h10, ao sair de casa em direção à panificadora, onde costumo tomar café, estupefatas e atônitas, algumas pessoas interrogavam: “Realmente, o Brasil e o mundo estão de luto, pois o futebol é praticado hoje em dia nos lugares mais remotos do planeta”. Vale trazer à baila a frase de Augusto Branco, destacando que, “se todas as batalhas dos homens dessem apenas nos campos de futebol quão belas seriam as guerras”.

Nos dias conturbados de hoje, principalmente no Oriente, seria de fundamental importância que os homens atentassem para os exemplos dados cada vez mais pelo futebol. Aliás, pelos esportes de um modo geral. Até Adolfo Hitler curvou-se ante a força advinda dos esportes, em suas distintas modalidades.

Minhas condolências e dos futebolistas também para familiares dos atletas, dirigentes, convidados e dos colegas de imprensa que cobririam o jogo da Chapecoense em Medellín, Colômbia.

Nação chapecoense, concluindo, lembro da máxima “a verdadeira afeição se prova na longa ausência”. Com certeza, a nossa vitoriosa equipe continuará efetivando gols de placa, nos estádios além terra.

Artigo escrito na manhã de terça-feira.