Edinaldo Porto, aprovado na OAB

Hemerson Pinto

“Não tem vaga para você, pois todos os meninos da sua idade são trombadinhas. E eu nem sabia o que era um trombadinha”, lembra um dos mais novos advogados do país, Edinaldo Porto de Oliveira. A frase acima ele ouviu aos 16 anos, de uma diretora de escola em Santa Inês-MA. Dona Inês não sabia quem era aquele menino de sandálias com cabrestos trocados, muito menos quem ele é hoje.
Aos 37 anos de idade, casado e com dois filhos (uma menina de 11 e um garoto de 4 anos), Edinaldo comemora o sucesso de uma ‘remada’ que começou na infância, em Pindaré Mirim-MA, cidade natal. O casal Antônio Anastácio (78) e Maria Porto (66) teve 18 filhos, entre eles nosso personagem, e seu Antônio ainda arranjou tempo para mais seis foram do casamento.
Ao todo, dos 24 irmãos, seis não conseguiram sobreviver à pobreza e à falta de assistência na pequena cidade. Morreram entre os primeiros minutos após o parto, durante o parto, ou antes dos três anos de idade. Dos que conseguiram seguir pelos difíceis caminhos, Edinaldo é o único com formação superior. Oito dos irmãos ‘Porto’ ainda não são alfabetizados.
Os estudos fizeram parte da rotina do menino somente a partir dos oito anos. “Quando eu pescava à noite, já sabia que o dia era todo na roça”, lembra. Para ir à escola, caminhava cerca de três quilômetros. A distância aumentou quando passou a estudar em Santa Inês. Por muitas vezes pegou carona no caminhão que transportava estudantes indígenas para a escola.
O desejo de estudar na escola tradicional naquela cidade foi frustrado ao ouvir da diretora que não existia vaga para garotos como ele. “Acredito que pela forma como eu estava vestido, com roupas e calçados muito simples”, comenta.
A vinda para Imperatriz aconteceu aos 20 anos de idade. Na nova cidade vendeu cheiro verde, salgadinhos, trabalhou em loja de confecções, foi vendedor de consórcio e, depois de iniciar a faculdade de Direito (Universidade Federal do Maranhão), trabalhou como zelador em uma escola da rede municipal de ensino. “Já dormi no chão e passei fome”, reflete.
Em meio a ‘tempestades’, aos 22 concluiu o Ensino Médio. Iniciou na Universidade Estadual do Maranhão o curso de Geografia. Ao mesmo tempo, conseguiu passar em dois cursos no Instituto Federal do Maranhão, IFMA, quando ainda era Cefet: Técnico em Segurança no Trabalho e Física. Ficou com o primeiro.
Hoje Edinaldo cursa o 10º período de Direito e já conseguiu a aprovação na Ordem dos Advogados do Brasil. “Trajetória de luta foi realmente sair da ‘senzala’ para a ‘casa grande’, não para oprimir, mas para lutar pela liberdade do povo do Maranhão”.