É possível que nenhuma outra rua de Imperatriz tenha tantos contrastes históricos como a Rua Piauí. Seja pela precariedade e periferia pobre do passado à transformação social e área de investimentos do presente, seja pelos desafios considerados intransponíveis à modernidade que ela se apresenta hoje como núcleo de integração da própria cidade. Se no passado a Rua Piauí era intrafegável e sem perspectivas de melhorias urbanas, percebe-se claramente que mais uma vez o trabalho e a determinação de pioneiros e migrantes foram fundamentais para uma aceleração de investimentos em suas duas áreas principais, que são a residencial e a comercial, e nos dois casos, a participação ativa da construção civil acabou se transformando nesse período de desenvolvimento da Piauí, na responsável pela abertura de novas e grandes empresas de materiais de construção nas ruas a ela adjacentes, assim como um forte comércio voltado para o campo e também para a prestação de serviços, além de fomentar a valorização imobiliária de forma real e sem o fantasma da especulação decorrente da falsa imagem de prosperidade com o ouro de Serra Pelada, que na verdade acumulava bens de muitos para reparti-los com poucos.

Wilton Alves

Em princípio, considerando-se tão somente a década de 60, poder-se-ía afirmar que a Rua Piauí não exerceria qualquer influência no desenvolvimento de Imperatriz, e muito menos na sua contribuição como - elo de ligação - para que a cidade alcançasse uma projeção econômica como de fato aconteceu, principalmente porque a cidade velha, a partir da Praça de Fátima, como um autêntico centro urbano e recebendo as maiores e mais importantes empresas comerciais que chegavam à cidade, e ao mesmo tempo o fenômeno da Rodovia Transbrasiliana recebendo investimentos em todos os setores da economia imperatrizense, em especial na região do Entroncamento, pois isso significaria deixar um "claro intransponível" entre os dois setores a desafiar migrantes, pioneiros, as autoridades políticas e também investidores que buscavam alternativas viáveis para o comércio e a prestação de serviços.
Historicamente é possível observar que Imperatriz sempre foi a cidade dos desafios, e com a Rua Piauí não foi diferente, pois os investimentos chegaram, e a partir dos anos 70 e 80, ela se transformou no principal elo de ligação de dois dos mais importantes setores da cidade, que são o Bacuri e a Nova Imperatriz, constituindo a Nova Imperatriz em um dos mais importantes setores residenciais da cidade, além de empresas prestadoras de serviços, que deram à região não apenas uma importância econômica, mas também de modernidade na área da construção civil.
No outro extremo, no sentido Bacuri, a Rua divide-se em dois segmentos importantes para o desenvolvimento da cidade, como um todo, o residencial e o comercial, além da forte influência, como já foi afirmado, no crescimento e desenvolvimento das ruas adjacentes, que no conjunto, não seria ufanismo dizer que a região hoje se constitui no "coração econômico" da cidade, inclusive em relação à região conhecida como "mercadinho".

Piauí
O estado do Piauí não é apenas a maior fronteira com o Maranhão, porque historicamente o sul do Piauí foi a porta de entrada para a colonização do sul do Maranhão, o que sempre estreitou os migrantes piauienses com a cidade de Imperatriz, resultando em um entrelaçamento social, cultural e econômico, inclusive rompendo fronteiras tradicionalmente mantidas com outros estados, mas em especial com o próprio Maranhão e São Luís, a sua capital.
Pode-se também afirmar que o Piauí é o estado dos grandes contrastes em todos os sentidos. Se por um lado o sul piauiense é castigado por grandes secas, guarda também tesouros arqueológicos inestimáveis, a exemplo das 7 Cidades. Por outro lado, a região sul, constituída também de um vasto serrado, transforma-se em eminente produtor de soja. Enquanto isso, o extremo norte do Piauí revela-se como um dos mais exuberantes contextos turísticos do País, em especial na região do delta do Parnaíba, nas proximidades de onde está localizada a cidade de Parnaíba, uma das mais importantes do Estado.
Um aspecto interessante em relação ao Piauí, e que ele poderia ser dividido em duas regiões geográficas, uma vez que a região sul é caracterizada, em todos os sentidos, com a região nordeste, enquanto que o norte, assim como no Maranhão, se assemelha à Região Norte, inclusive pelo fenômeno de chuvas regulares sem a incidência de prolongadas secas. No entanto, o mais importante é a influência de migrantes pioneiros para Imperatriz, que deram e continuam dando uma contribuição inestimável em todas as áreas da economia do município, e principalmente uma contribuição social e cultural das mais relevantes.

Vencendo desafios
Até meados da década de 70, se a Rua Piauí não tinha o problema da Lagoa do Murici, enfrentava as grandes poças d'água que se formavam no período das chuvas, tornando intrafegável o fluxo de veículos e até mesmo de pedestres, o que resultava sempre na mesma opinião dos céticos: "A Rua Piauí foi e vai continuar sendo a periferia de Imperatriz, pois ninguém vai fazer investimento ou construir qualquer coisa nela. Se na cidade há uma rua sem nenhum valor, essa rua é a Piauí."
Mesmo com opiniões tão contrárias, os migrantes demonstravam o inverso e continuavam acreditando nas potencialidades do município, de que era possível acreditar na força do trabalho, considerando-se principalmente as carências de Imperatriz naquele período dos anos 70. Foi com essa visão que o dr. Barreto construiu o Instituto de Ginecologia e Obstetrícia - IGO - na esquina da Rua Piauí com a Rua Luís Domingues, onde hoje está localizado o Hospital das Clínicas.
Isso significa afirmar que os desafios estavam sendo vencidos, e sobremaneira, servindo de exemplo para novos investimentos fossem realizados. No entanto, o maior desafio era do poder público, o de tornar a Rua Piauí trafegável, e não apenas isso, mas também solucionar o problema do esgoto que "corria a céu aberto" e parecia ser um desafio intransponível. Não foi, e apesar das dificuldades do município, em especial pela falta de recursos financeiros, a Rua Piauí foi urbanizada e estava pronta para receber os investimentos que seriam feitos a partir da década de 80.

Pioneiros
No final da década de 70 a Rua Piauí não era mais a mesma desde a sua abertura. Entre muitos pioneiros e migrantes, destacavam-se no período a Escola Ebenezer, o escritório Afi Contabilidade, do Afi Aprígio de Souza e a primeira residência em Imperatriz do jovem Luís Brasília, um dos mais importantes nomes da comunicação em Imperatriz, além de outros relevantes migrantes, entre eles Marco Polo Garcia e Magno Borba.
Declinar nomes corresponde ao risco de se cometer injustiças, em especial porque é preciso considerar o trabalho de uma legião de pioneiros e migrantes anônimos que continuam contribuindo com a construção de Imperatriz, com o seu progresso e desenvolvimento, o que leva à constatação de que a Rua Piauí, nos dias de hoje, é indiscutivelmente uma das mais importantes da cidade e o resultado de pessoas que incansavelmente continuam escrevendo também a sua história.

Investimentos
Sem qualquer margem de dúvida, a Rua Piauí é a demonstração clara de que Imperatriz é a cidade das alternativas e oportunidades para investimentos em todas as áreas da economia do município, em especial quando o foco e o temo hodierno, onde dentre muitos outros, pode-se destacar o Hospital Santa Mônica, Tocantins Shopping, Hospital das Clínicas, Rádio Terra e um sem número de empresas comerciais e de prestação de serviços que colocam a cidade na vanguarda de todos os municípios da Região Tocantina.
Contudo, é preciso lembrar que nada é resultado do acaso, mas de um trabalho dinâmico que envolve todas as atividades empresariais a esse fim. Por isso a Rua Piauí e Imperatriz se identificam e se completam nesse contexto e fazem parte de uma mesma história. (a matéria de hoje é dedicada ao notável Oscar Aquino e à memória de Luís Brasília)