Ao longo do tempo onde se entrelaçam o romantismo, tragédias, desafios, características únicas de pioneirismo e miscigenação cultural, definem-se a uma rua como prefácio histórico de Imperatriz ao escrever uma nova história a partir da abertura e desenvolvimento da Rua Ceará. No pequeno trecho entre as ruas Dorgival Pinheiro e Aquiles Lisboa, a impressão era a de um alagadiço que jamais teria fim em consequência do esgoto correndo a céu aberto. No sentido da Nova Imperatriz, o cruzamento da Rua Ceará com a Avenida Bernardo Sayão estabelecia uma fronteira natural entre a tragédia, o romantismo e a magia que haveriam de transformar a história de Imperatriz em um conto de puro realismo mercado pelo trabalho, muitas vezes de verdadeiros visionários que nunca deixam de acreditar no "impossível" porque a maioria deles era formada por migrantes cearenses, e como para eles não existe limite entre o impossível e o realizável, a cidade teria que ultrapassar a fronteira natural das Quatro Bocas para se constituir em um novo tempo para a própria história de Imperatriz, para deixar claro que o trabalho, quando desenvolvido com determinação e honradez, abre novos caminhos e se apresente como a capacidade humana de superar todas as adversidades e construir uma nova cidade. Este é o perfil de Imperatriz e a sua trajetória que culmina na cidade de hoje na sua forma transcendental de prever o futuro trabalhando no presente a sua construção.

Wilton Alves

Sob todos os aspectos, o histórico da Rua Ceará deve ser compreendido por períodos distintos em relação ao tempo, desenvolvimento urbano e transformações socioculturais imensuráveis, notadamente porque moradores de todos os níveis davam a mesma contribuição para que fossem planejados e executados os mais diversos cronogramas progresso que pudessem alcançar toda a região em que a Rua Ceará tivesse uma projeção capaz de transformar e tornar possível a evolução de Imperatriz na prestação de serviços, e fundamentalmente na sua capacidade transformar-se, em pouco tempo, no modelo econômico que norteia a visão de investimentos na cidade até os dias de hoje.
Ainda na segunda metade da década de 60, percebia-se que a Rua Ceará haveria de transformar-se em um diferencial na história de Imperatriz, uma vez que nesse período os desafios se tornaram maiores e os problemas naturais decorrentes da formação geológica e topografia da região demonstrava que quase nada, ou muito pouco, poderia ser feito para melhorar a qualidade de vida de migrantes e pioneiros que fizeram a opção de escolhê-la para viver e investir em seu desenvolvimento. Foi nessa perspectiva que em 1968 o dentista Antônio Otaviano da Silva construiu a sua casa, a primeira da Rua Ceará, com janelas de vidro, o que equivale à projeção de investimentos na construção civil, mesmo em um tempo adverso quando relacionado a uma possível valorização imobiliária.
Nesse mesmo período, no final da década de 60, a Rua Ceará alcançava a Avenida Bernardo Sayão, deixando em sua trajetória uma série de investimentos que culminaria em seu prolongamento para dar vida a um novo bairro, o da Nova Imperatriz, até mesmo porque, embora parecesse muito distante do perímetro urbano, havia sido construído o cemitério Campo da Saudade, e com ele a perspectiva de crescimento da própria cidade, que via novos migrantes e pioneiros chegando à Rua Ceará, e com eles uma evolução que justificaria, em pouco tempo, o cognome de Imperatriz como a "Princesa do Tocantins". Entre tantos pioneiros e migrantes da década de 60, no trecho entre a Avenida Getúlio Vargas e Rua Benedito Leite, alguns nomes são lembrados, como o senhor Lilí Fialho (pai do empresário Regis Fialho), o velho Couraça, Zé Baianinho (Rei das Verduras), o Juiz José Guimarães e muitos outros que não foram historicamente registrados.
Ceará - O Estado do Ceará com 148.016 km2 e contrastes indescritíveis, assemelha-se à sua gente e à capacidade de superar tudo, desde secas prolongadas no interior à falta de investimentos do poder público que poderiam resultar em melhor qualidade de ida. Políticas públicas nas áreas da educação, saúde, segurança, saneamento básico e transportes, completamente ausentes, são motivos mais que suficientes para explicar porque o cearense busca novas experiências em outras terras e hoje é considerado como o maior e mais importante migrante do País.
Não é falta de amor à sua terra. O cearense é acima de tudo uma criatura capaz de vencer as adversidades com a criatividade, com o sorriso largo e um temperamento excepcional que somente ele tem: pode ser dócil e explosivo ao mesmo tempo, mas não perde nunca a sua característica humana. O cearense tem demonstrado isso no Brasil inteiro, e principalmente em Imperatriz onde até os dias de hoje trabalha e contribui com o desenvolvimento da cidade.
Se por um lado o estado do Ceará tem contrastes imensos entre o interior e o litoral, por outro se acentuam as diferenças sociais e culturais, mas nenhum contraste ou diferença diminui a importância do Estado e a sua contribuição com a história brasileira, além de colocar o cearense no topo de todas as correntes migratórias do País. O cearense é um migrante por natureza porque o Ceará é por excelência o estado que vislumbra praias maravilhosas como a de Iracema, e o chão torrado pelo sol inclemente sem se intimidar com as adversidades, com os desafios que lhe são impostos pela própria natureza. Assim é o Ceará, assim é o cearense.
Novo período -Excepcionalmente pode-se chamar a década de 80 como um novo período para a Rua Ceará. Novos e grandes empreendimentos resultaram em investimentos que demonstravam ao município também um novo crescimento de sua economia com valores permanentes, sem os valores especulativos que norteiam o mercado imobiliário, e em consequência, surgindo a construção civil cada vez mais atuante e moderna.
Embora se constituísse em um novo período para o desenvolvimento urbano da cidade, em especial no início dos anos 80, com a Rua Ceará sendo uma referência no crescimento horizontal de Imperatriz, já ultrapassando inclusive a região das Quatro Bocas, continuava sendo um desafio até mesmo para o seu prolongamento em razão de grande tráfico de veículos mas sem condições de trânsito, tanto pela precariedade da rua quanto por ser de mão dupla, o que resultava, sempre, em inúmeros acidentes fatais.
Apesar das dificuldades, migrantes e pioneiros continuavam acreditando e contribuindo para que a Rua Ceará encontrasse também a sua evolução social e urbana, com investimentos que pudessem transformá-la em uma referência tanto residencial quanto comercial, pois ela se apresentava como uma das melhores alternativas para o desenvolvimento econômico da própria cidade com reflexos extraordinários para a área social e abrangendo, e muito, o setor da prestação de serviços.
Indiscutivelmente a década de 80 foi o período das grandes transformações da Rua Ceará, com casebres de taipas sendo substituídos por construções modernas e já com demonstrações de sua vocação comercial inigualável. A fronteira do setor Quatro Bocas estava vencida, e com o avanço da rua naquela região, proporcionou o surgimento de núcleos residenciais e ainda a criação de novos e importantes bairros na cidade.
Investimentos - Não se podem enumerar os investimentos feitos em razão da dificuldade em discorrer sobre a diversidade dos empreendimentos realizados, mas pode-se destacar alguns dos mais importantes, entre eles a sede da Embratel, o conjunto residencial Minas de Prata, Supermercado Timbira e muitos outros que refletem o crescimento econômico da Rua Ceará, mas principalmente os avanços sociais que tornaram possíveis alcançar com a abertura de empresas geradoras de emprego e renda, resultando daí uma melhor qualidade de vida para grande parte da população da cidade.
Por isso a Rua Ceará de hoje em nada lembra a rua de ontem, embora conservando as marcas de migrantes e pioneiros que continuam trabalhando e forjando a sua história, inclusive com a setorização do mercado de peças, acessórios e consertos de motos de todas as marcas, além de uma diversidade comercial abrangendo todos os setores que estimulam e formam o desenvolvimento econômico da cidade.
(A matéria de hoje é dedicada à memória dos notáveis Antônio Otaviano da Silva, Juiz José Guimarães e migrante Lilí Fialho)