Um histórico da Rodovia Transbrasiliana (BR 010) em Imperatriz seria inócuo e vazio e se não fosse considerado um perfeito entrelaçamento com a Avenida Babaçulândia, este verdadeiro sentido do Entroncamento da cidade para o desenvolvimento econômico, cultural, urbano e social que emergia, no início dos anos 60 para se constituir na Imperatriz de hoje, cuja história de migrantes e pioneiros é praticamente desconhecida, sobremaneira porque nunca houve uma iniciativa do poder público, destacando-se a Câmara Municipal, para que fosse criado o Museu Histórico e Geográfico, que cumprindo a sua finalidade, além de resgatar o passado da cidade, preservaria para as gerações futuras o grande trabalho realizado por personalidades, a maioria ainda anônima, que resulta na Imperatriz de hoje. Não há como reconhecer o presente sem estabelecer ligações com o passado; não há como se entender a evolução histórica de Imperatriz sem observar a importância de cada pioneiro, de cada migrante, que dedicaram suas vidas à construção da cidade, de tal maneira que ela viesse a se tornar o maior e mais importante município do interior do Estado. O Entroncamento não é apenas um marco de referência geográfica da cidade. Ele é na verdade o sentido, na acepção da palavra, o grande entroncamento de Imperatriz em relação ao Norte e Nordeste do País.

Wilton Alves

No contexto histórico, em 1960 a Belém-Brasília passava muito perto da cidade de Imperatriz. Três pistas largas que levantavam uma nuvem de poeira quando nela trafegavam um caminho ou os primeiros ônibus que começavam a ligar o sul com o norte do Brasil. Entre os primeiros caminhoneiros de 1958 a 1960, encontrava-se o jovem Raulino Silva (Raul Silva, como era mais conhecido), e seu irmão José Silva, em um caminhão Mercedes ano 1953 modelo 312.
Conforme relato de Raul Silva, "muitas vezes uma viagem de Anápolis até Belém poderia durar três meses de estrada no período das chuvas, principalmente por causa do famoso atoleiro que chamavam de gaúcho, porque o proprietário dos tratores que puxavam os caminhões era de um gaúcho". Quando a estrada ficou pronta em 1960, os ônibus do Expresso Braga iniciaram suas atividades na poeirenta ou barrenta Transbrasiliana, e o principal ponto de apoio estava localizado no Entroncamento de Imperatriz, distante 1350 quilômetros de Anápolis, o ponto de partida para Belém. Nos anos seguintes, após o asfaltamento da rodovia, uma sociedade dos empresários Josias Braga e Odilon Santos deu origem à empresa de ônibus Transbrasiliana (1973), uma empresa que até os dias de hoje opera no trecho Belém-Brasilia e possui uma direção regional em Imperatriz.
Há 42 anos, no início do prolongamento da BR 14, era instalada uma das primeiras revendas de autopeças de Imperatriz, uma iniciativa do migrante e pioneiro "seu" Waldemar, que até os dias de hoje, aos 80 anos de idade, presta relevantes serviços à cidade. Trata-se da Auto Peças Estrela Dalva.

Uma nova história

Em 1962, quando a região do entroncamento era apenas uma referência das tempestades de poeira em Imperatriz, chegou à cidade o ainda jovem Júlio Guerra, natural de Anápolis, trazendo na bagagem a mesma determinação de migrantes e pioneiros que estavam trabalhando a construção de uma nova história ao longo da Belém-Brasília. E assim Júlio Guerra, onde hoje é o começo da Avenida Babaçulândia, constrói um dormitório e lhe dá o pomposo nome de Hotel Anápolis. Constrói um anexo para instalar um restaurante para atender à clientela, assim como passageiros que começavam a passar por Imperatriz nos primeiros ônibus, que na verdade, à exceção do Expresso Braga, naquele período a maioria era constituído de caminhões pau-de-arara. Em um salão construído ao lado, manda pintar na fachada com letras garrafais: venda de passagens. Este foi o primeiro passo para a construção da primeira rodoviária ao longo de toda a rodovia.
A exemplo da Belém-Brasilia que não passava em lugar nenhum, a primeira construção de Imperatriz com concreto aparente e na acepção da palavra uma verdadeira rodoviária, localizada também no meio do nada, mas que foi a responsável por uma expansão urbana quando não havia a menor perspectiva do crescimento horizontal de Imperatriz naquele período, que testemunhou também a construção do novo Hotel Anápolis, com restaurante, suítes e piscina. O melhor de toda a rodovia e ponto de referência do desenvolvimento da cidade.
Como ênfase de uma história, em síntese, foi a partir do entroncamento que houve a maior expansão urbana de Imperatriz, dividindo-a praticamente em duas cidades: à direita e esquerda da BR 010, contribuindo de maneira extraordinária com a evolução cultural, econômica e social da então emergente "polis" da região tocantina. (A matéria de hoje é dedicada à memória de Júlio Guerra e seus irmãos Roosevelt (Carabina), Vonges e Romeu)

As fotos mais antigas do Entroncamento foram gentilmente cedidas pelo odontólogo Giovanni Guerra, sobrinho do Guerrinha e filho do migrante e pioneiro Vonges Guerra.