A história de Imperatriz não seria a mesma se em seu contexto não fossem considerados como improváveis vários de seus aspectos, entre eles as perspectivas do crescimento urbano a partir dos anos 50, e em especial os anos 60. Até mesmo Mundico Barros ao traçar as ruas da nova cidade parecia não acreditar que seria possível, ou provável, que as regiões mais críticas seriam exatamente as mais viáveis para que Imperatriz conhecesse o desenvolvimento da construção civil. Mundico Barros, em razão da lagoa do Murici, que ficou mais conhecida como lagoa da Covap, via nele um obstáculo intransponível para o crescimento urbano, a tal ponto, que a partir da "espinha dorsal", a Avenida Getúlio Vargas, à sua esquerda, apenas quatro ruas foram traçadas: BR 14, João Lisboa, Antonio Miranda e Bom Futuro. Para Mundico Barros, o futuro de Imperatriz, com todas as perspectivas de crescimento urbano, estava localizado à direita da Getúlio Vargas, onde foram traçadas e abertas dez ruas, começando com a Rua Luís Domingues até a Rua Ana Nery, hoje Rua Enrique de La Roque, demonstrando que realmente estavam em andamento os aspectos improváveis da história: não somente os obstáculos e desafios da lagoa do Murici foram vencidos, como também, à esquerda da Getúlio Vargas e até a Avenida Bernardo Sayão foi construída uma nova cidade.
Wilton Alves
Não é de estranhar os equívocos de Mundico Barros, uma vez que os dois setores divididos pela Avenida Getúlio Vargas apresentavam os mesmos problemas e desafios. Além disso, estavam sendo definidas, no período, quais as áreas destinadas ao comércio e ao setor residencial, sem perder de vista a expansão urbana com investimentos que possibilitassem, inclusive, uma valorização imobiliária para a emergente Imperatriz como resultado da Belém-Brasília e do que ela iria representar como entroncamento para o Norte-Nordeste do País, assim como para toda a região tocantina.
A povoação das ruas à direita da Avenida Getúlio Vargas, em especial depois da Rua Benedito Leite, era lenta e com poucas alternativas ou perspectivas de crescimento, principalmente porque quase toda a região era alagada e a cidade, em relação à construção civil, ainda não dispunha de uma tecnologia capaz de superar esse desafio. Uma solução seria "aterrar" tudo, mas de onde retirar o material para tanto?
Neste contexto de desafios e equívocos estava a Rua Achiles Lisboa, muito mais como um traçado levado a efeito por Mundico Barros que uma alternativa, propriamente dita, para o crescimento urbano de Imperatriz, considerando-se que a nova rua era um desafio ao seu próprio crescimento e desenvolvimento, pois começava em um alongamento da cidade velha e deveria alcançar a Rodovia Transbrasiliana, um trecho muito longo para ser povoado, e ao mesmo tempo, possibilitando novos empreendimentos que pudessem contribuir com o recrudescimento da economia da cidade, de tal forma, a atrair novos migrantes e com eles não apenas a força do trabalho, mas principalmente a capacidade de se iniciar novas atividades produtivas para que a rua não se transformasse apenas em uma referência geográfica.
Achiles Lisboa
Achiles de Faria Lisboa era natural de Cururupu, onde nasceu no dia 26 de setembro de 1872, tendo falecido no Rio de Janeiro no dia 12 de abril de 1951, aos 79 anos de idade, depois de prestar relevantes serviços ao Maranhão e ao Brasil, pois foi o primeiro cientista brasileiro a estudar e combater, no período de sua vida, uma doença incurável, a hanseníase (lepra), cujos números no Maranhão eram assustadores, em especial nas cidades de São Luís, a capital, e em Caxias, na época a segunda população do Estado.
É interessante notar que Achiles Lisboa, como a maioria dos intelectuais maranhenses do passado, também estudou fora do seu Estado, tendo cursado farmácia na Universidade da Bahia e medicina no Rio de Janeiro, tendo desenvolvido a partir de 1930 o maior trabalho de combate à lepra, período também que elaborou seus melhores discursos, tanto científico quando pedagógico sobre a doença que sequer preocupava os setores de saúde pública, já que não havia qualquer estudo ou iniciativa governamental nesse sentido.
Achiles de Faria Lisboa continua trabalhando contra o recrudescimento da hanseníase no Maranhão e no Pará, principalmente porque já havia o risco da doença chegar a outros estados. Nesse mesmo período ele presta relevantes serviços ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro, sendo nomeado diretor da instituição nos anos de 1931 a 1933, quando retorna ao Maranhão para continuar seu trabalho de combate a lepra, inclusive dedicando os anos de 1928 a 1930 ao mesmo trabalho no estado do Pará, que já enfrentava os mesmos problemas do Maranhão.
Embora não se dedicasse à política partidária, pois não se identificava com nenhum grupo maranhense, candidatou-se e foi eleito governador do Estado, exercendo seu mandato tão somente de julho de 1935 a junho de 1936.
Evolução
Em qualquer análise histórica que se faça de Imperatriz, percebe-se distintamente dois importantes períodos, que vão desde as primeiras ruas do antigo povoado até a abertura da Rodovia Transbrasiliana, que teve sua abertura concluída no início dos anos 60. No intervalo destes dois períodos, nada praticamente teria acontecido com relevância para a cidade.
Em relação à Rua Achiles Lisboa, como relevante para o seu desenvolvimento e contribuição à expansão urbana, no dia 15 de novembro de 1969 é inaugurada uma escola do município em convênio com o governo federal, na administração do prefeito Raimundo Silva. Esta escola, em razão de trabalho e articulação política do vereador Nelson Martins Bandeira Neto, ela é transferida para a CNI, que instala em Imperatriz uma unidade do SESI, que até os dias de hoje presta relevantes serviços à cidade. Esta unidade do SESI está localizada na esquina da Rua Piauí. A inauguração da unidade do SESI em Imperatriz aconteceu no dia 1º de março de 1974.
Para dinamizar ainda mais o desenvolvimento da Rua Achiles Lisboa, além de uma contribuição imensurável à expansão urbana da cidade, no início dos anos 80 é inaugurada a Praça da União, onde começa a rua, a partir da Rua D. Pedro II, e também o mercado Vicente Fitz, que tem uma de suas entradas pela Achiles Lisboa. Nesse período os obstáculos e desafios estavam sendo vencidos e parece, confirmando a visão de Mundico Barros para aquele setor. No entanto, o desenvolvimento econômico com maiores investimentos se deu a partir do mercado, que deu à rua os mecanismos de trabalho para que ela se transformasse no maior e mais importante centro atacadista de frutas de toda a região.
É evidente que outros fatores também deram suas contribuições, uma vez que é notória a presença comercial, assim como investimentos efetivados na construção civil, com a Rua Achiles Lisboa de hoje em nada lembrando a rua do passado, contribuindo ainda com a povoação e desenvolvimento urbano de outras ruas em sua área de influência, e todas à direita da Getúlio Vargas. Mundico Barros estava certo e a história da Rua Achiles Lisboa é a sua testemunha em todo esse processo.
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