Em algum lugar do passado, migrantes em busca de oportunidades de trabalho começaram a chegar a Imperatriz. A maioria sequer tinha uma qualificação profissional definida, mas alimentavam a esperança de que uma emergente cidade que seria uma referência na região tocantina, tanto pela indústria da olaria que proporcionava um surto na economia quanto pela proximidade da Rodovia Transbrasiliana, cujos reflexos começavam a ocupar grandes áreas das fazendas existentes em núcleos habitacionais, que em princípio, constituíram as primeiras favelas na cidade, e entre elas o Bacuri, que no decorrer do tempo transforma-se em uma alternativa de investimentos e acelera o surgimento de novos bairros na cidade. Assim no período de Mundico Barros faltava apenas interligar essa região localizada entre a Rua Cumaru e o rio Tocantins à nova rodovia. A Rua José Bonifácio, parte integrante deste projeto, não era exatamente uma rua como na concepção de hoje, mas tão somente uma abertura com perspectiva de fazer parte da expansão urbana que não demoraria muito tempo para ser concretizada, em especial porque exatamente nesse período houve o maior fluxo migratório na cidade, pessoas que chegavam e eram contratadas para trabalhar na própria Belém-Brasília. A história estava apenas começando.

Wilton Alves

Neste começo de história, a partir da década de 60, a Rua José Bonifácio concebida e traçada por Mundico Barros, como as demais à direita da Avenida Getúlio Vargas, começa na Rua Cumaru (atual Leôncio Pires Dourado), embora um trecho mais antigo existisse a partir da Rua D. Pedro II.
Para moradores mais antigos da região, a explicação parece ser simples: "A Rua Cumaru nasceu da necessidade de ligar o centro da cidade à região do Cacau, onde estavam localizados os melhores "puteiros" de Imperatriz, enquanto que a região mais antiga, a partir da Rua D. Pedro II, era uma expansão urbana natural como consequência de migrantes que chegavam para tentar a sorte na cidade".
Em sendo assim, a quase totalidade das edificações da Rua José Bonifácio nesse período da década de 60, era feita de taipa e apenas poucas residências eram construídas de tijolos artesanais produzidos pelas olarias existentes, em especial na região mais antiga da cidade que ainda hoje segue o curso do rio Tocantins e que deu origem a vários bairros da cidade.
Embora as edificações de taipas não existam mais, a Rua José Bonifácio é um grande desafio para a administração pública do município, não por causa dos antigos areais, mas porque há um quase interminável conjunto de casas geminadas - duas em lugar de uma - em terrenos com 8 ou 10 metros de frente e sem qualquer recuo na frente, já que em casas geminadas não existem recuos laterais. Outro problema sério é que ao longo da Rua José Bonifácio, da Rua Leôncio Pires Dourado até a Rodovia Transbrasiliana, não existe sequer uma placa indicando o nome da rua.
Este conjunto de deficiências mais a ausência de um comércio expressivo ou de indústrias podem explicar a baixa valorização imobiliária, assim como a falta de investimentos, públicos ou privados, que poderiam transformar a Rua José Bonifácio em uma das melhores alternativas habitacionais da cidade.

JOSÉ BONIFÁCIO
José Bonifácio de Andrada e Silva nasceu em São Paulo em 1765 e faleceu no Rio de Janeiro em 1838. É considerado como homem de ciências, mas é notável como estadista, escritor, orador, parlamentar e poeta. De cultura invejável, José Bonifácio diplomou-se em filosofia e leis na Universidade de Coimbra (Portugal), onde inclusive fez parte do corpo docente em mais de uma disciplina, tendo em Coimbra realizado pesquisas que ligaram seu nome à ciência europeia.
Com formação acadêmica e uma visão política além do seu próprio tempo, José Bonifácio exerceu fundamental participação junto a D. Pedro I na preparação da Independência do Brasil, o que lhe valeu o título de "Patriarca da Independência".
Também em razão do seu nível intelectual, José Bonifácio foi ministro do Império e tutor do herdeiro do trono, o futuro D. Pedro II e de seus irmãos. As pesquisas científicas ele as transformou nos escritos conhecidos como "memórias científicas". Produziu também suas memórias políticas e literárias, e no seu tempo foi considerado o homem mais culto do País.
Como poeta, José Bonifácio é considerado como um dos precursores do romantismo. Legou como patrimônio literário o seu livro "Poesias avulsas", publicado em 1825 sob o pseudônimo de Américo Elísio.
Em sendo assim, ainda que indiretamente, o nome de José Bonifácio está relacionado com a história de Imperatriz, pois como educador de D. Pedro II, esposo da Imperatriz Teresa Cristina, estabelece um vínculo histórico que justifica, e plenamente, que na cidade haja uma rua com o seu nome.

UM EQUÍVOCO?
À medida que as ruas projetadas por Mundico Barros se distanciam da "espinha dorsal", a Avenida Getúlio Vargas, parece perder em importância e valorização imobiliária, principalmente pela ausência de grandes empresas, comerciais ou industriais, mesmo nas proximidades da Rodovia Transbrasiliana, que no período se transforma no maior e mais importante agente da expansão urbana de Imperatriz naquela região.
Mundico Barros teria se equivocado em priorizar o lado direito da Avenida Getúlio Vargas para a expansão urbana da cidade, e não o lado esquerdo tão somente em razão da lagoa do Murici e outras áreas alagadas? Parece que não. O desenvolvimento de Imperatriz demonstra que não houve nenhum equívoco, principalmente porque a expansão urbana, na região considerada mais crítica, teve um processo natural de ocupação com maiores investimentos da construção civil, de tal forma, sequer imaginado na época.
Se por um lado havia uma completa valorização imobiliária e investimentos à esquerda da Avenida Getúlio Vargas, onde se destaca o surgimento do grande mercado econômico que abastece toda uma região, inclusive de outros estados, por outro o lado esquerdo, historicamente, parecia estar destinado a um crescimento urbano para abrigar uma população de menor poder aquisitivo, formada principalmente pelos migrantes que buscavam na emergente Imperatriz uma oportunidade de vida haja vista o recrudescimento também do mercado de trabalho em todas as suas áreas e atividades, mas em especial na própria construção civil.
A conclusão é que a partir da concepção de Mundico Barros e seu trabalho realizado, a expansão urbana de Imperatriz, no contexto, passou a se concretizar de forma natural, com uma ocupação, na maioria das vezes sem qualquer planejamento, em especial por causa das constantes invasões que aconteciam, o que explica a razão de tantas ruas na cidade começarem em vários pontos, como é o caso da Rua José Bonifácio, e a falta de uma numeração adequada e placas indicativas de nomes, como acontece também na maioria das praças e logradouros públicos da cidade.