Ao contrário de todas as ruas traçadas por Mundico Barros, a partir da Rua Cumaru (atual Leôncio Pires Dourado), a Rua Henrique Dias, à direita, é a única que começa na Rua D. Pedro I, o que confirma a expansão urbana de Imperatriz, nos anos 50 e 60 no sentido de acompanhar o rio Tocantins em sua direção sul. Nos últimos anos da década de 50, migrantes que buscavam oportunidades de trabalho davam uma imensa contribuição ao crescimento da cidade, embora suas casas fossem rústicas, construídas de taipa, mas que deram início na região do atual bairro São José do Egito, a uma ocupação que viria, a partir dos anos 60, compor toda a Rua Henrique Dias em seus dois importantes trechos: à esquerda e à direita da Rua Cumaru. Mundico Barros tinha conhecimento da importância deste trecho que começava na Rua D. Pedro I para a integração do perímetro urbano da cidade, e fundamentalmente que para isso era também necessário abrir a Rua Henrique Dias até o seu encontro com a Rodovia Transbrasiliana, como de fato aconteceu, para assegurar a construção de uma "nova cidade" para compor o conjunto então projetado desde a Rua Cumaru até a rodovia. O crescimento que viria depois seria natural, uma expansão urbana que pudesse atender uma demanda cada vez maior de novas moradias, visto que na concepção de Mundico Barros, em seu tempo, isso não aconteceria à esquerda da BR 14 (atual Rua Dorgival Pinheiro), em razão dos grandes alagamentos existentes também à época da lagoa do Murici.

Wilton Alves

Primitivamente a Rua Henrique Dias era constituída de poucas casas, e em sua maioria, feitas de taipa. Embora não houvesse alagamento que dificultasse a sua expansão, mas se tratando de uma das regiões mais pobres da emergente cidade no início dos anos 60, praticamente até os dias de hoje, poucos investimentos foram feitos, inclusive em relação à construção civil, muito embora a Rua Henrique Dias, em especial no trecho entre a Rua Leôncio Pires Dourado e a Rodovia Transbrasiliana, tenha se transformado em uma área residencial, com apenas pequenos estabelecimentos comerciais no setor de sua economia, e principalmente porque a proximidade daquele setor à BR 010, para o período, não justificasse melhor atenção dos investidores.
Nos primeiros anos da década de 60, nas proximidades da rodovia, destacavam-se apenas duas construções, sendo uma delas de tábuas onde funcionava um pequeno "quiosque", e a outra, em frente, uma construção de alvenaria que era ao mesmo tempo a residência e também um pequeno comércio que atendia motoristas de caminhão que enfrentavam a poeira da rodovia que ainda não havia recebido a camada asfáltica. Era o começo, e um bom começo, para a expansão urbana de Imperatriz naquele setor.
Ainda assim, a qualidade de vida não era das melhores, tanto pelo padrão das construções quanto pelo grande areal que compunha o cenário da Rua Henrique Dias no período em que Mundico Barros, com pouco tempo à sua disposição, precisava garantir a integração da cidade com as demais ruas já demarcadas, o que para a época, o crescimento horizontal seria suficiente, em especial porque a demanda por novas moradias, apesar de ser em pequena escala, era plenamente atendida, visto que o fluxo migratório era cada vez maior e mais importante para a construção da cidade.

Henrique Dias

Muito pouco se sabe da verdadeira história de Henrique Dias e se houve alguma relação com Imperatriz. Historiadores muitas vezes afirmam que há mais especulação em torno do seu nome do que registros históricos. Nesses relatos até mesmo a gravura de sua fisionomia é especulativa, pois de verdadeiro mesmo é só a certeza de suas ações em Pernambuco e a cor de sua pele, que era negra, pois Henrique Dias era filho de escravos, não se sabendo se ele mesmo era livre ou também escravo.
Na acepção da palavra para historiadores e os poucos registros existentes na Fundação Joaquim Nabuco (Recife-PE), Henrique Dias foi um guerrilheiro brasileiro que se apresentou voluntariamente para lutar contra os holandeses (Pernambuco início do século XVII - Recife, 1662. Em 1638 ele defende a Bahia, o que lhe vale o foro de fidalgo e o hábito da Ordem Militar de Cristo. Henrique Dias foi ainda capitão-do-mato com a missão de extinguir com os quilombos existentes na Bahia.
Contudo, Henrique Dias é citado historicamente pela vontade e determinação na luta contra os holandeses, até mesmo depois de ter sido ferido e ser obrigado a amputar uma das mãos. Sua notoriedade se torna mais evidente depois de haver participado, na luta contra os holandeses, da primeira e segunda batalha de Guararapes em 1648 e 1649, mas principalmente na recuperação de Recife, em 1654.
Na biografia de Henrique Dias consta que ele era casado e que teve quatro filhas, além de ter tido a contribuição de seus genros na luta contra os holandeses, assim como de muitos outros negros e mulatos que estavam decididos a acompanhá-lo nessas lutas.

Nos anos 70
Nada de muito relevante chegou a acontecer na Rua Henrique Dias considerando os dois trechos existentes, isto é, um anterior e outro projetado por Mundico Barros. Relevante é citar que no primeiro trecho que começa na Rua D. Pedro I, a partir dos anos 70, alguns fatores começaram a existir e proporcionar uma expansão urbana de Imperatriz naquela região, que inclusive passava a ter um novo perfil econômico em razão de investimentos que estavam sendo feitos. Entre os mais importantes, para a região, em 1976, estava a entrada em operação da primeira grande cerâmica do setor, a Cerâmica São Bernardo, iniciativa do migrante, empresário e investidor Juracy Souza, mais conhecido como Juracy Baiano.
É evidente que o novo empreendimento foi de vital importância para o crescimento urbano da cidade onde ela se desenvolvia de forma natural, e isso foi decisivo para que a Rua Henrique Dias ganhasse uma nova projeção também a partir da Rua Leôncio Pires Dourado, no trecho projetado por Mundico Barros para alcançar a rodovia Transbrasiliana.
Também no decorrer da década de 70 as antigas casas construídas de madeira ou de taipa estavam sendo substituídas por edificações de alvenaria, mas sem haver grandes investimentos. Mas a verdade é que a Rua Henrique Dias, no contexto, passava a ter melhor qualidade de vida, chegando mesmo a ter uma pequena, mas expressiva valorização imobiliária, o que significa, para hoje, que toda a Rua Henrique Dias está ocupada e se constitui em uma das melhores alternativas residenciais da cidade, mesmo não contando com grandes investimentos na área comercial.
Como se observa e não há como estabelecer qualquer dúvida, Imperatriz teve um crescimento urbano a partir do traçado feito por Mundico Barros e pela ocupação feita por migrantes na região próxima ao rio Tocantins, destacando-se nesse sentido, como precursoras, as ruas D. Pedro I e D. Pedro II, que deram origem primitivamente às demais ruas traçadas por Mundico Barros.