Pode até parecer irrelevante ou sem nexo conceituar a história da expansão urbana de Imperatriz por seus diversos setores, em especial pelas ocorrências naturais em um período em que a cidade sequer tinha a perspectiva de crescimento, como de fato aconteceu, a considerar os grandes avanços dos anos 60 que culminaram em uma década de 70 com investimentos e o surgimento de uma "cidade nova" sem prejuízos à cidade velha, ainda porque no período da década de 50 a expansão urbana acontecia de forma lenta, embora gradual, em razão de pequenas propriedades rurais que haveriam de dar início a inúmeros bairros, notadamente em relação às margens do rio Tocantins, onde uma população carente dispunha, sem qualquer custo, da oportunidade de construir uma casa de morada, ainda que fosse de taipa. Foi neste contexto que a primeira etapa da Rua Euclides da Cunha foi aberta, longe ainda de alcançar até mesmo a Rua Cumaru (hoje Leôncio Pires Dourado), de onde partia um pequeno caminho cortando a "quinta" do farmacêutico "seu" Alencar onde já existiam pequenas hortas e também pequenas plantações de arroz, feijão, milho e mandioca. Somente depois de alguns anos passados desde o traçado feito por Mundico Barros ligando a Rua Euclides da Cunha à rodovia Transbrasiliana, é que o caminho da quinta do senhor Alencar foi se transformando em uma rua com a construção de pequenas casas, todas feitas de taipas, como também aconteceu, no mesmo período, no sentido da BR 010.
Wilton Alves
Até o final da década de 60, os aspectos da Rua Euclides da Cunha estavam inalterados. Poucas casas haviam sido edificadas no trecho entre a Rua Leôncio Pires Dourado e a rodovia Transbrasiliana, assim como se poderia perceber a ausência de investimentos na área comercial. Somente a partir da década de 70 é que começaram melhores investimentos em relação à expansão urbana, mesmo assim de forma bastante tímida, e à direita da Rua Leôncio Pires Dourado, também na década de 70, depois da construção e entrada em atividade do quartel da Polícia Militar (1977) é que houve um recrudescimento da expansão urbana, mas conforme o senhor José Luís da Silva, um dos mais antigos moradores da rua, algum desenvolvimento mesmo só a partir dos anos 80.
É interessante observar que mesmo nas proximidades da rodovia Transbrasiliana, a Rua Euclides da Cunha parece ter parado no tempo, não fosse a demolição das casas de taipa que foram substituídas por melhores edificações, e ainda assim, com poucos investimentos e qualidade muito inferior ao que se esperava em razão do desenvolvimento urbano nas proximidades da rodovia.
Na verdade, toda aquela região da Rua Euclides da Cunha, à direita da Avenida Getúlio Vargas, parece seguir uma tendência de desvalorização imobiliária, muito embora tenha uma localização privilegiada e esteja muito próxima do centro da cidade, e se por um lado a ocupação urbana tenha demonstrado a sua viabilidade econômica, por outro é fácil observar que os investimentos não chegam e podem levar à constatação de que Imperatriz está sendo construída e dividida em várias cidades, sendo algumas "ricas" e outras imensamente pobres.
Euclides da Cunha
Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha, dito Euclides da Cunha, nasceu em Cantagalo (RJ) no dia 20 de janeiro de 1866 e morreu (assassinado) na cidade do Rio de Janeiro no dia 15 de agosto de 1909.
Euclides da Cunha foi um homem à frente do seu tempo. Não era apenas um escritor, pois em sua biografia consta que por profissão acadêmica era engenheiro civil, mas por vocação abraçou o jornalismo. Por isso, antes de ter seu nome consagrado na literatura brasileira, Euclides da Cunha foi professor de lógica no Colégio D. Pedro II, ao mesmo tempo em que se destacava na atividade jornalística, o que lhe valeu ser enviado à Bahia, como correspondente, à época do episódio de Canudos, tendo testemunhado o final dos combates, de onde nasceu uma de suas mais importantes obras, o livro Os Sertões, publicado em 1902, que o tornaria famoso.
Considerado como uma figura rara de homem de ciência e de letras, Euclides da Cunha apresenta no seu livro, Os Sertões, uma dramática visão sociológica do Brasil em um estilo de poder e força verbal. No entanto, em razão de suas experiências como jornalista, acaba se constituindo como um dos mais importantes humanistas do País e com uma visão sociológica que foi alcançada por muito poucos, em especial ao longo de sua vida.
Depois de Os Sertões, Euclides da Cunha ainda publicou mais dois livros: Contrastes e Confrontos (1907) e À Margem da História (1909). No entanto, ele ainda produziu muitas outras obras, inclusive contos e poesias, que foram publicadas postumamente. Assim por sua grande contribuição à literatura brasileira, bem como à cultural nacional, Euclides da Cunha tornou-se membro da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira nº 7, cujo patrono é o poeta baiano Castro Alves.
Expansão desordenada
Duas importantes quintas (pequenas propriedades rurais, granjas, sítios) existentes na região mais antiga do crescimento urbano de Imperatriz, sendo a primeira de propriedade de Simplício Moreira (Quinta do ouro), que estava localizada na região onde hoje se encontra a Praça da União, e a segunda, do farmacêutico Alencar, onde hoje se encontra o quartel do 3º BPM e a guarnição do Corpo de Bombeiros (antiga CIMEC), na confluência da Rua Euclides da Cunha com a atual Rua Leôncio Pires Dourado, determinaram uma expansão urbana completamente desordenada, onde a Rua Euclides da Cunha se divide em dois trechos, sendo um da Rua Leôncio Pires Dourado até a Rua D. Pedro II, onde antigas casas a interrompem, e em um quarteirão após lhe dá seguimento até as proximidades do rio Tocantins, que apesar do surgimento de grandes cerâmicas na década de 70, a região acabou se transformando em uma das mais carentes e pobres da cidade, inclusive com baixa valorização imobiliária.
Estranhamente a Rua Euclides da Cunha, assim como outras em suas imediações, tão próxima do centro da cidade, não consegue atrair investimentos e não se consolida como uma das melhores alternativas habitacionais de Imperatriz. Este aspecto pode ser um reflexo da expansão urbana desordenada, fora de contexto da visão estabelecida por Mundico Barros. Esta é a Rua Euclides da Cunha, e esta é a sua história.
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