Indiscutivelmente o histórico da expansão urbana de Imperatriz está vinculado a dois dos mais importantes fatores que se tornaram possíveis de registro na ausência de um museu, sobretudo a partir do final dos anos 50 e os primeiros anos da década de 60. No primeiro plano o advento da rodovia Transbrasiliana que seria construída e deveria passar nas proximidades da cidade, e no segundo a visão futurística e a determinação de Mundico Barros para inserir Imperatriz no contexto de tão importante rodovia, que se a cidade não fosse interligada e integrada com ela, teria o mesmo destino de dezenas de outras comunidades que já existiam ao longo do seu trajeto, mas que não souberam ou não tiveram a oportunidade de aproveitar, de forma racional e inteligente, os benefícios que a Transbrasiliana poderia trazer a esta imensa região banhada pelo Rio Tocantins. Mundico Barros sabia mais que ninguém da necessidade de tirar proveito de ruas já existentes e da tímida expansão urbana na década de 50, em especial tratando-se das travessas que cortavam as três mais importantes ruas da cidade velha, as atuais ruas Frei Manoel Procópio, Manoel Bandeira e Godofredo Viana. Assim é que a Rua João Lisboa foi traçada a partir de uma travessa já existente que alcançava um campinho de futebol localizado na atual Praça Tiradentes. Para Mundico Barros estava claro que a Rua João Lisboa deveria começar ali, vencer os alagamentos da lagoa do Murici para finalmente alcançar a rodovia Transbrasiliana, como de fato aconteceu e se constituiu também em uma das marcas da expansão urbana à esquerda da Avenida Getúlio Vargas.
Wilton Alves
Em um período impreciso que pode ter sido iniciado ainda na década de 20, a expansão urbana de Imperatriz tem acentuado crescimento com a implantação de várias olarias na antiga Travessa do Sul, e como consequência o prolongamento das ruas da cidade velha e o surgimento de travessas que haveriam de compor o traçado de uma cidade nova elaborada por Mundico Barros. Entre as travessas está o início, embora com outro nome, da Rua João Lisboa.
O relevante, no entanto, é que a contribuição dada por migrantes neste período histórico de Imperatriz, que é dos mais importantes, pois foi esse início na cidade velha que tornou possível a Mundico Barros projetar um traçado que hoje resulta em um dos setores mais importantes da economia da cidade, não apenas pelo comércio fluente, mas principalmente pela prestação de serviços, que conforme cada trecho identifica um segmento desse trabalho.
Resumo histórico
Para melhor entendimento histórico, quando Mundico Barros traçou a Rua João Lisboa, a partir da atual Praça Tiradentes, é porque o primeiro trecho já existia, iniciando-se na atual Avenida Beira Rio e indo até a Praça Tiradentes. Como é um trecho mais antigo, mantêm até hoje o seu nome primitivo, que é Rua São Domingos. No início da Rua João Lisboa, propriamente dito, defronte o antigo campinho de futebol e na esquina da Rua Coriolano Milhomem, no passado recebia, como também no histórico da Rua Bom Futuro, o título de "caminho da farra velha".
No primeiro trecho, entre a atual Avenida Beira Rio e a Rua D. Pedro II, a região era marcada por uma economia forte em razão das olarias existentes, mas também neste trecho foi instalado o primeiro curtume da cidade, uma iniciativa do migrante e pioneiro João Miranda. A geração de emprego e renda nesta região, por si só, explica a expansão urbana de Imperatriz ao longo do rio Tocantins no sentido Sul.
João Lisboa
João Francisco Lisboa, ou simplesmente João Lisboa, nasceu na cidade de Pirapema-MA, no dia 22 de março de 1812. Escritor, jornalista combativo, historiador e pensador político, João Lisboa deu imensurável contribuição à cultura e história do Maranhão, muito embora por diversas vezes tivesse que abandonar os estudos, razão pela qual não conseguiu sequer concluir um curso acadêmico. Ainda assim, mesmo sem ser diplomado, trabalhou como advogado (rábula) em São Luís sem ser um notável nessa área.
Como jornalista trabalhou e fundou vários periódicos, entre eles um dos mais importantes para o Estado, o Jornal de Timon, onde estabelecia grandes polêmicas políticas com seus escritos. Além disso, tornou-se notável ao ser eleito, por duas vezes, como legislador Provincial, mas sem interromper sua atividade literária. Assim como consegui completar suas obras em quatro volumes, publicada pouco depois de sua morte, entre 1864 e 1865. Sua obra mais importante, no entanto inacabada, é a Vida do padre Antonio Vieira, publicada em 1891.
Foi acusado injustamente de haver participado da Setembrada, em 1831. Mas se não participou da Setembrada, foi um dos mais importantes nomes da Balaiada, entre 1838 e 1841.
João Lisboa, mesmo sem formação acadêmica, mas por sua contribuição literária do País, ocupou a Cadeira 18 da Academia Brasileira de Letras, da qual é patrono por indicação de José Veríssimo, primeiro ocupante da Cadeira.
Na Região Tocantina o antigo povoado da Gameleira, quando emancipado politicamente, recebeu o seu nome, assim como uma das mais importantes ruas de Imperatriz.
Em 1855 João Lisboa foi para Portugal (Lisboa) para estudar a história do Brasil, mas com o agravamento de sua delicada saúde, acabou falecendo prematuramente no dia 26 de abril de 1863, com apenas 51 anos de idade. Seus restos mortais foram trasladados para o Maranhão somente um ano depois de sua morte.
Superando desafios
É interessante observar que o campinho de futebol na atual Praça Tiradentes era conhecido também como "campo da poeira", mas o maior desafio de Mundico Barros era superar um desafio natural para que a Rua João Lisboa chegasse também à rodovia Transbrasiliana: Transpor a lagoa do Murici, que no período chuvoso alagava toda a região. Mundico Barros, mesmo sabendo que no trecho da lagoa do Murici seria difícil conceber a expansão urbana da cidade, fez o seu trabalho e conseguiu superar todos os desafios existentes.
Hoje a Rua João Lisboa é uma referência de valorização imobiliária, assim como na prestação de serviços, o que resulta em imensurável contribuição à economia do Município, sem dúvida alguma em razão dos investimentos que foram feitos em todas as áreas, mas principalmente pela construção civil.
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