Não fossem as dezenas de invasões que deram origem a bairros e vilas com o nome de políticos; não fosse o fator histórico de praças públicas que foram loteadas e doadas a cabos eleitorais, amigos e parentes do executivo municipal, poder-se-ia afirmar que Imperatriz teria sido uma cidade planejada, não fossem também as ruas que foram fechadas e transformadas em propriedades particulares em toda a cidade. A única exceção com registro histórico é a Rua Antonio Teles Antunes, literalmente aberta quase que na "marra" pelo ex-prefeito Davi Alves Silva para que ela voltasse a fazer parte do patrimônio público da cidade, e fizesse parte do contexto que deu origem ao lado mais valorizado e importante do bairro Bacuri, historicamente também o setor que mais sofreu transformações em seu desenvolvimento urbanístico e humano, pois de uma imensa favela revelou-se não apenas como alternativa habitacional, mas principalmente como alvo de investimentos que lhe dão hoje uma importância imensurável à economia do município. Na contextualização histórica dessas transformações está a Rua Leôncio Pires Dourado, antiga Rua Cumaru*, que no início dos anos 60 não passava de um caminho lamacento até o córrego Bacuri, que após receber uma pequena ponte de madeira, ensejou novos investimentos e deu início à Feirinha, que ao longo do tempo foi a responsável pela expansão urbana e o surgimento de iniciativas que certamente contribuíram para que fosse edificada a Imperatriz de hoje.
*Referência a grande árvore leguminosa amazônica, cujo fruto contém a semente denominada no Brasil de fava-tonca, e na Europa como fava-da-índia.

Wilton Alves

É incontável o número de migrantes que chegaram a Imperatriz na década de 60, como também é verdade que muitos vieram atraídos pelas alternativas de investimentos em uma cidade emergente influenciada pela rodovia Transbrasiliana, e muitos outros em busca de uma oportunidade trabalho, da possibilidade de "fazer a vida" não importando o sacrifício e as adversidades que haveriam de enfrentar. O Bacuri era uma dessas alternativas, uma dessas oportunidades que historicamente apenas os migrantes acreditaram.
Nesta década de 60 quando Mundico Barros já havia concluído o traçado da nova cidade, a Rua Leôncio Pires Dourado era um lamaçal cercado de favelas por todos os lados, e à sua frente o desafio de romper o córrego Bacuri para alcançar a rodovia Transbrasiliana. O difícil era acreditar que isso fosse possível, sobremaneira sem grandes e expressivos investimentos na região que possibilitassem uma expansão urbana, a curto e médio prazo, com um planejamento que não viesse, no futuro, mutilar o trabalho então realizado por Mundico Barros, uma vez que a Rua Leôncio Pires Dourado, mesmo já existindo precariamente, não passava de um prolongamento da Rua Amazonas.

Investimentos
No início da década de 70 já era visível e previsível que a antiga Rua Cumaru passaria por grandes e profundas transformações e que a Feirinha existente nas proximidades do córrego Bacuri, seria um marco para a expansão urbana da cidade, assim como o desenvolvimento de atividades que resultariam em promissores investimentos econômicos. O primeiro deles foi em 1971, quando o Sindicato Rural transferiu o Parque de Exposições da Quinta de Ouro, pertencente a Simplício Moreira, para o Sítio de propriedade do senhor Manoel Ferreira, no local onde hoje está situada a Cooperleite.
Quase em seguida, em 1977, é inaugurado o 3º Batalhão de Polícia Militar em terras da Quinta pertencente ao cidadão Alencar, onde também em 1979 é instalada pelo governo do Estado uma unidade da CIMEC, ligada à Secretaria de Agricultura. No local hoje está instalada a unidade do Corpo de Bombeiros de Imperatriz. O interessante é que o Parque de Exposições ficava além do córrego Bacuri, sentido BR 010, e o quartel da PM aquém, muito mais próximo da atual Praça da Bíblia. De qualquer forma, tanto Parque de Exposições quanto o quartel da PM deram contribuições imensuráveis ao desenvolvimento da antiga Rua Cumaru, e principalmente ao fortalecimento e expansão da Feirinha do Bacuri. Vale ainda lembrar que a antiga Rua Cumaru era o caminho inicial para se chegar ao antigo matadouro municipal, que era localizado na atual Praça Dilermando Reis, mais conhecida como Praça do Violão.

Leôncio Pires Dourado
Migrante cearense natural da cidade de Redenção, onde nasceu em 1912, Leôncio Pires Dourado é um dos nomes mais importantes da história contemporânea de Imperatriz, onde deve ter chegado, possivelmente, no final dos anos 50, mas foi no início dos anos 60 que fez os primeiros e mais importantes investimentos na cidade, como a aquisição de imóveis (terrenos) na rodovia Transbrasiliana (região do Entroncamento) e na antiga BR 14. Em ambas Leôncio Pires Dourado investiu na construção civil e no desenvolvimento urbano da cidade.
Para a comunidade maçônica Leôncio Pires Dourado foi considerado como um membro de excelência, inclusive pela fundação da Loja União e Fraternidade nº 10 no dia 3 de setembro de 1970, onde foi venerável e deu grande contribuição às ações sociais desenvolvidas pela maçonaria em Imperatriz.
Pelos relevantes serviços que prestava à cidade e sendo reconhecido por sua determinação em trabalhar pela sociedade, Leôncio Pires Dourado é eleito vereador em 1967 pela antiga ARENA, e mais uma vez em razão do trabalho desenvolvido, em 1970 é reeleito para um mandato tampão de dois anos. Nesse período é eleito presidente da Câmara de Vereadores e toma uma das mais importantes decisões relacionadas ao legislativo: Retirá-lo das dependências e da subserviência da Prefeitura transferindo a Câmara para instalações próprias para demonstrar, em especial, a independência entre esses dois poderes.
A primeira Câmara fora da Prefeitura foi na atual Praça Brasil, em imóvel alugado do ex-vereador José Rodrigues, e a segunda na Rua Dorgival Pinheiro de Souza esquina com a Rua Rio Grande do Norte, um imóvel de propriedade do próprio Leôncio Pires Dourado, que depois de desocupado foi cedido para abrigar um templo maçônico.

Nova dimensão
Com os investimentos realizados na década de 70, começa a emergir na década de 80 uma nova Rua Leôncio Pires Dourado, onde novas casas comerciais são abertas, a construção civil surge como alternativa de novos empreendimentos e a prestação de serviços, cada vez maior e melhor, foram também um novo cenário econômico na cidade. No contexto a Rua Leôncio Pires Dourado é a espinha dorsal dessa também nova expansão urbana, em especial a partir da construção e funcionamento da Cooperleite, marco importante para atrair novos investimentos econômicos nas áreas industrial, comercial e habitacional.
Ao mesmo tempo surgem os problemas e desafios, e entre os maiores a Feirinha, que chegou a ser tratada como problema de saúde pública, como também a necessidade urgente de dotar a região de serviços de infraestrutura para comportar o crescimento horizontal da cidade a partir daquele setor onde já estavam instalados supermercados, farmácias e um expressivo comércio varejista.
Chegando os novos investimentos a Feirinha foi transformada em mercado público e a Rua Leôncio Pires Dourado, em todo o seu trajeto até alcançar a rodovia Transbrasiliana, é hoje um dos setores mais valorizados de Imperatriz e responsável pelo surgimento do conhecido "grande Bacuri", que envolve outros bairros e vilas. E assim a Rua Leôncio Pires Dourado, o antigo "trieiro" para o matadouro, transformou-se em uma das principais referências de Imperatriz, em todos os setores da economia do município.