Quando o assunto é o desenvolvimento urbano de Imperatriz em relação à chegada da rodovia Transbrasiliana, nada pode ser mais envolvente e fascinante que esse período repleto muitas vezes de histórias que nem foram registradas ou contadas por seus autores, a maioria de migrantes sonhadores e pioneiros que trouxeram na bagagem de suas almas a determinação de construir uma nova terra regada por esperanças nessas paragens do Tocantins. É como se tudo acontecesse em um passo de magia fazendo surgir do nada, dos imensos montões de areia, a realização de um sonho, de ver emergir uma perfeita integração social, humana e urbana, que em princípio só existia na visão utópica de Mundico Barros ao vislumbrar em um futuro muito próximo a concretização idealista de uma Imperatriz capaz de superar, carregada por migrantes e pioneiros, todos os obstáculos e adversidades que a própria história lhe impunha naquele momento transcendental que haveria de iniciar, e concluir, a construção de uma cidade à frente do seu tempo e de suas próprias aspirações. Assim é a rodovia Transbrasiliana, seus mitos e milhares de anônimos que a construíram e legaram para que fosse possível a Imperatriz de hoje
Wilton Alves
Quando brilhar de novo o sol descortinando no horizonte o passado histórico de Imperatriz, a sua expansão urbana e o avanço de uma rodovia que reuniu e uniu brasileiros dos mais longínquos rincões, permitirá às novas gerações compreender a trajetória mesclada de sonhos, pelo trabalho que resultou no suor derramado a regar os novos caminhos, preencher o vácuo da saudade sem perder a esperança e a determinação que transcendem a construção e a projeção do futuro desse antigo e inóspito pedaço de sertão que hoje transborda progresso e desenvolvimento para toda a região.
A ousadia de Mundico Barros temperou e contagiou migrantes e pioneiros, que também acreditavam, que era realizável o impossível de uma integração da cidade velha por meio de uma expansão urbana, face os desafios naturais existentes, assim como o imenso vazio que separava a antiga cidade da rodovia que estava chegando, e com ela a realização do improvável que todos acreditavam nele e nos resultados profícuos que pareciam fazer parte de uma predestinação como pode testemunhar a Imperatriz de hoje.
Portanto, não é de estranhar que em meio à poeira levantada pelo vento e pelas rodas de um caminhão percorrendo os mesmos caminhos de JK e Bernardo Sayão, chegasse a Imperatriz coberto pelo pó da estrada e banhado pelo suor de um sol escaldante, o jovem Júlio Guerra (Guerrinha) para implantar o primeiro hotel da rodovia e a rodoviária com seus "pau de arara" para transportar pessoas ao interior do município e cidades que nem eram tão próximas assim.
Não é de estranhar também que esta poeira pudesse refletir, como em um espelho, uma volta ao passado, a 1949, quando Simplício Moreira construindo estradas de Imperatriz a Porto Franco, Montes Altos, Amarante e Grajaú, construísse também, de madeira, uma ponte sobre o riacho Cacau. Esta "estrada" começava na Rua do Cumaru, que depois virou apenas Rua Cumaru.
Muito mais que um começo, antes mesmo da poeira baixar, os sonhos de Mundico Barros, utópico para os incrédulos e pessimistas, se tornaram em uma realidade das mais extraordinárias para a história de Imperatriz.
Década de 60
Se a cidade velha conheceu o avião antes de conhecer um carro, a cidade nova teve o privilégio de ver chegar as máquinas pesadas e os caminhões trazendo novos migrantes, pioneiros e investidores, levantando cada vez mais poeira na região do atual Entroncamento. Em meio ao burburinho do período, em 1961 o investidor Juraci Francisco de Souza (Juraci Baiano), troca a Bahia por Imperatriz, e começa a trabalhar, o que resulta em 1962 na inauguração do primeiro posto de gasolina da cidade vendendo combustíveis da TEXACO.
No meio dessa poeira um caminhão corta a rodovia com destino a Belém. O motorista, dono do caminhão, ao passar por Imperatriz fica fascinado e fala consigo mesmo: Este é o meu lugar. Aqui será a minha nova cidade. Retornando a Anápolis comunica à esposa Elenita: comece a arrumar nossas malas. Estou viajando novamente e na minha volta nós vamos mudar e morar em Imperatriz. Era o migrante pioneiro Ubirajara Parreira, que nessa odisseia tem a companhia do seu irmão Ubsay Parreira, que em menos de seis meses também retorna à cidade trazendo a sua esposa Vanilda. Era o ano de 1963.
Mãos à massa e a determinação de fazer investimentos na nova terra, em pouco tempo os irmãos Parreira entregam à sociedade a primeira concessionária de veículos da cidade, a DIVIL - Distribuidora de Veículos Imperatriz Ltda. - com revendendo veículos da marca Ford. Para a solenidade de inauguração esteve em Imperatriz o "mister" O'neil, presidente latino-americano da marca.
No período o Maranhão vivia a euforia de ser o segundo produtor de arroz do País, e aí estava mais um motivo para novos investimentos dos irmãos Parreira, uma das mais antigas usinas de beneficiar da cidade, a Arroz Santa Luzia, que também comercializava equipamentos agrícolas. Findo este período, a usina deu lugar a um novo investimento, o Armazém Goiano.
O passado
Mais uma vez o olhar retorna ao passado, para o início da Rua Babaçulândia, pois ali começava também o caminho para o povoado Gameleira, e foi ali que desembarcou Júlio Guerra para construir o Hotel Anápolis, um restaurante e a rodoviária... Mas esta é uma nova história. (continua na próxima edição)
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