(continuação da edição passada) - Em 1961 a Rua Babaçulândia ganha grande importância com a emancipação política do povoado Gameleira, que passa à denominação de João Lisboa, um sintoma claro e insofismável de que Imperatriz estava assumindo a responsabilidade de liderar uma grande região que pudesse transformar cada sonho, cada gota de suor em um novo empreendimento, em novos trabalhos que resultariam em investimentos imensuráveis a uma história que estava apenas começando, como foram os primeiros anos da década de 60, demonstrando ainda que fosse possível projetar o futuro antes mesmo de a poeira baixar, antes que as últimas luzes do ocaso desse período histórico se perdessem às margens do rio Tocantins. Mas é bom lembrar que antes do sol da década de 60 se pôr muita coisa ainda haveria de acontecer. Progresso e desenvolvimento estavam apenas começando, vencendo desafios e adversidades, mas cumprindo o papel histórico de construir uma cidade referência para todo o Sul do Maranhão e o verdadeiro elo entre Belém e Brasília para consumar a tão sonhada integração nacional vislumbrada por Getúlio Vargas e executada por JK e Bernardo Sayão.

Wilton Alves

Júlio Guerra (Guerrinha) e muitos outros pioneiros tinham pressa e tinham razões para tê-la, pois o asfalto estava chegando e com ele a necessidade de mudar, para mais e melhor, os aspectos urbanos da cidade. Foi assim também com Leôncio Pires Dourado, que chegou a Imperatriz em 1960 vindo de Redenção (CE), onde nasceu no dia 13 de janeiro de 1923, tendo como um dos primeiros investimentos a construção do Hotel Redenção, onde hoje está situada a Auto Peças Amazonas. Leôncio Pires Dourado ainda colocou no ar a primeira emissora de rádio da cidade, em caráter precário, a Rádio Educadora de Imperatriz. Doou ainda o terreno para a construção da sede do Juçara Clube. Ele morreu no dia 4 de outubro de 1975, vítima de um acidente rodoviário nas proximidades da cidade de São Miguel do Guamá (PA). Em seguida, o hotel foi arrendado por Pedro Ladeira, que pouco tempo depois o passou para o pioneiro Hélio Souza (Madeireira Grajés). Ainda na década de 60, Hélio Souza vende móveis e utensílios do hotel para o mineiro Abel Martins de Oliveira, que poucos anos depois constrói o novo Hotel Redenção, nas proximidades da rodoviária, que foi inaugurada em 1974.
Na esteira do Guerrinha, em 1974, chega o jovem Roberto Miranda fazendo mais um impossível acontecer: na nova rodoviária instala um circuito fechado de rádio para anunciar chegada e partida das empresas de ônibus que já operavam na cidade. Mas a grande novidade mesmo foi um circuito fechado de TV, que proporcionou à cidade assistir à Copa do Mundo de 1974 e brindar crianças e adultos com vários desenhos. Para a copa de 74, Roberto Miranda se deslocava para Belém, gravava o jogo em VT e voltava "voando" para passá-lo na rodoviária.

Nova vocação
Sem dúvida alguma Imperatriz estava predestinada a ser uma referência econômica para a região e o Estado. Assim, antes do sol da década de 60 se pôr, em 1967, o migrante, pioneiro e investidor João Batista Mariano Carneiro abre as portas do Armazém Norte Sul, localizado no meio do quarteirão entre as ruas Getúlio Vargas e Dorgival Pinheiro, frente para a BR 010. Dois meses depois chega a Imperatriz o seu sócio, o imigrante Said Azis Saad. A sociedade dura cinco (5) anos, até 1972, quando Said Azis Saad muda o nome do Norte Sul para Armazém Asa Norte e João Batista Mariano Carneiro abre as portas do Armazém Cruzeiro do Sul.
Eles perceberam que Imperatriz tinha uma nova vocação, que era de se constituir no maior e mais importante centro atacadista de todo o Norte-Nordeste do País.

No meio da poeira
Difícil de acreditar, mas em meio à poeira recusando-se a abaixar, surge um ônibus com passageiros especiais, pois entre eles estava Josias Braga e sua esposa Marlene na primeira viagem, literalmente, entre Brasília e Belém, mas que na verdade a partida para esta viagem inaugural tenha sido de Anápolis.
Como não havia asfalto, o ônibus chegou a Imperatriz vencendo todos os maiores obstáculos, entre eles, quando não era a poeira, eram os imensos atoleiros. Nessa primeira viagem Josias Braga estava mostrando para a opinião pública do sul do País que "a rodovia que não passava em lugar nenhum passava por Imperatriz, e que o acesso a Belém, antes marítima ou aérea, agora era possível também por terra nos ônibus do Expresso Braga, o pioneiro da rodovia Transbrasiliana estava comprovando esta verdade, e o ano era o de 1963.
Na poeira deixada pelo Expresso Braga chegavam os caminhões carregados de mercadorias, ao mesmo tempo em que a cidade conhece o período mais intenso de sua corrente migratória, e entre milhares, dois personagens que fizeram história. A primeira era uma migrante de Pastos Bons que havia chegado a Imperatriz nos últimos anos da década de 50, e em 1965 compra o restaurante do senhor Catarino, nas proximidades da atual entrada do Aeroporto da cidade. O restaurante ganha modernidade e um salão de dança com o nome de Boate Sandra, embora não houvesse uma placa indicativa do nome.
Dona Santinha, a proprietária, faz panfletagem ao longo da rodovia com uma frase que marcou história: "Vida só tem vida quando é vivida envolvida na vida da mulher da vida". Mesmo contra a sua vontade, a Boate Sandra acabou ficando conhecida como Boate Cacau.
O outro personagem é Valdevino Damásio de Sousa, um construtor vindo de Anápolis em julho de 1970 e acabou recebendo a responsabilidade de construir o Hotel Anápolis e a rodoviária. Pela competência demonstrada, acabou também por ser o responsável pela construção da maioria das grandes máquinas de arroz do então emergente bairro do Maranhão Novo.
O sonho de Mundico Barros estava realizado: cidade velha e cidade nova era uma única cidade recebendo os mais expressivos investimentos para a sua economia, e principalmente, estava consolidada a expansão urbana da cidade, a Imperatriz de hoje construída por milhares de anônimos e que ainda hoje continuam escrevendo a sua história.