A expressão mais correta a ser aplicada em Imperatriz na década de 70 é que era uma cidade em ebulição, sacudida por novos migrantes que chegavam aos milhares ao lado de novos investidores que vinham somar esforços e trabalho junto à população existente, que no município não passava de 60 mil habitantes, e na sede, pouco mais de 20 mil. Trabalho era o que não faltava, em especial no sentido de promover um crescimento horizontal que pudesse atender uma demanda cada vez maior por novas moradias, visto que surgiam novos bairros sem qualquer planejamento, a maioria como resultado de invasões. Loteamentos organizados seria a resposta esperada pela cidade. Investidores acreditaram nas potencialidades da construção civil e no processo da seleção natural, e assim loteamentos para atender à demanda em todos os seus níveis e camadas sociais como requeria a Imperatriz que estava sendo construída após o fenômeno da abertura da rodovia Transbrasiliana foram lançados, entre eles o Jardim 3 Poderes.
Wilton Alves
A influência da expansão urbana da cidade em razão da rodovia Transbrasiliana parecia não ter limites, e com isso atraindo cada vez mais investidores para a construção civil, como estava acontecendo com o emergente bairro do Maranhão Novo, no período com todas as evidências de um setor industrial em face da instalação das grandes usinas beneficiadoras de arroz, notáveis também pelo crescimento econômico do município e impulsionando a área da construção civil, além da necessidade de ocupação dos imensos espaços vazios existentes que dificultavam a própria expansão urbana e um zoneamento adequado para dar seguimento à nova cidade que estava sendo construída.
Nos primeiros anos da década de 70 o empresário anapolino Wilson Lisboa Alencar, que já possuía terras no norte de Goiás e na região do Pindaré (MA), além de áreas na região paraense de Marabá, em um dia de sol escaldante, pilotando o seu monomotor, sobrevoa Imperatriz e resolve dar um voo panorâmico sobre a cidade. Fica profundamente impressionado com o que vê e decide retornar para conhecer de perto o que havia visto do alto.
Projetando o futuro
No retorno a Imperatriz, o investidor Wilson Lisboa Alencar compra uma grande área, até então um imenso vazio, e se propõe a lançar na cidade um loteamento diferenciado e com todas as características de uma cidade grande. Compra ainda uma pequena fazenda nas proximidades de onde hoje está localizada a Lagoa Verde e nela coloca gado, em especial gado leiteiro e cultiva hortaliças, além de plantar um excelente pomar.
O primeiro passo, no entanto, foi convidar o seu irmão empresário do ramo de caça e pesca, Hipérides Lisboa Alencar, para implantar na cidade uma filial do Café 3 Poderes. A filial foi implantada, mas Hipérides Alencar acabou perdendo o prazo para conseguir licença junto ao Instituto Brasileiro do Café - IBC - para torrar, moer e embalar o produto. Sem essa licença (ou registro) ficou inviável a sua comercialização face o surgimento de outras torrefadoras e a consequente competitividade de preços. O 3 Poderes torrado, moído e empacotado em Anápolis tinha um custo final muito mais alto que os concorrentes que já estavam operando em Imperatriz.
O importante é que no início dos anos 70 o segundo passo já estava em andamento, que era o planejamento e lançamento de um dos mais importantes loteamentos de Imperatriz, o Jardim 3 Poderes, que apenas nos primeiros meses já estava praticamente vendido e as primeiras casas, verdadeiras mansões, começavam a ser construídas, sendo que em 1979 o Jardim 3 Poderes já se constituía na referência imobiliária e habitacional da cidade, com uma expansão urbana das mais valorizadas em toda a história da construção civil em Imperatriz, até aquele momento.
Pioneiros
Entre dezenas de pioneiros que estavam construindo no Jardim 3 Poderes, uma referência habitacional na cidade, podem ser citados Oscar Gudim, Ozires Carrijo, Antonio Julimar de Queiróz, Agostinho Noleto Soares, Dr. Roberto Barreto, médico José Walter e o empresário Orcerce Mariano Carneiro. Imperatriz estava mudando sua feição urbanística de forma extraordinária e o Jardim 3 Poderes estava dando uma contribuição imensurável para o desenvolvimento da cidade, inclusive em relação ao emergente bairro da Nova Imperatriz e ao já existente Setor Juçara. A integração da cidade estava em andamento e ocupando todos os espaços vazios até então existentes.
Nesse período de transição urbanística da cidade, em 1979 retorna a Imperatriz o contabilista Mauro Gonzaga Jaime, da mais absoluta confiança do empresário Wilson Lisboa Alencar, para rever toda a documentação do loteamento Jardim 3 Poderes, em especial porque parte do loteamento, com escritura pública de doação, é transferida para a propriedade de Hipérides Lisboa Alencar, que ficou responsável pela comercialização do loteamento. No mesmo período na metade da década de 70, Hipérides Alencar abre as portas do seu comércio, a Casa do Caçador, localizada na Avenida Getúlio Vargas, próxima do Entroncamento.
Mutilação arquitetônica
A partir do final dos anos 80 começou uma verdadeira mutilação arquitetônica no Jardim 3 Poderes e os aspectos urbanísticos de suas construções já não eram mais os mesmos. As mansões que foram construídas com suas fachadas cada uma mais bonita que a outra, circundadas por jardins bem cuidados e que justificavam, inclusive, visitas de outros moradores daqui e alhures para momentos de verdadeira contemplação às arrojadas linhas das construções que foram feitas.
Fachadas e jardins foram sendo cercados por altos muros e a visão de cada mansão tornou-se inócua, praticamente sem nenhum atrativo em relação ao esmero arquitetônico em que foram projetadas. Muitas delas foram demolidas para dar lugar a condomínios fechados e prédios de apartamentos, decorrendo daí que o Jardim 3 Poderes começou também a crescer no sentido vertical até os dias de hoje.
Embora esse fenômeno valorize ainda mais os aspectos imobiliários da cidade, assim como uma nova visão urbanística, as razões é que são duvidosas, pois são decorrentes da falta de segurança na Imperatriz hodierna, mas que não fica restrito apenas ao Jardim 3 Poderes, mas estando presente em todos os setores, bairros e vilas da cidade que continua em crescimento, tanto na horizontal quanto na vertical, e o mais importante, atraindo cada vez mais novos investimentos, e com essa valorização imobiliária e da construção civil, assegurando a Imperatriz um dos períodos mais importantes da sua economia.
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