Modelo do avião DC-3 que fazia linhas regulares entre Imperatriz e a capital do Estado

Se por um lado o avanço tecnológico do século passado é um passado desconhecido da nova geração, por outro, constitui surpresa para os mais velhos, principalmente quando o assunto envolve o setor aeroviário, primordialmente em relação a Imperatriz. Ora, considerando que o primeiro voo do mais pesado que o ar (14º BIS) só aconteceu em 1911, como imaginar 30 anos depois um desses aparelhos, bem moderno, estivesse fazendo um pouco na cidade, e muito mais, pouco tempo depois transportando passageiros? E se comparado com o primeiro voo do Correio Aéreo Militar, em 1937, apenas 26 anos depois da grande invenção de Santos Dumont? A conclusão é de que Imperatriz, desde a sua fundação, é uma cidade predestinada a estar sempre à frente do seu tempo. Verificar cada período histórico é constatar a importância de todos os setores e segmentos sociais, que somados, foram a base de uma economia estável, capaz de superar desafios e adversidades de todas as ordens conforme a cidade tem demonstrado ao longo dos anos. Assim, pode-se afirmar que Imperatriz não é uma cidade comum, mas o resultado histórico de migrantes, imigrantes e pioneiros que também sempre estiveram à frente do tempo e fazendo projeções que são alcançadas antes mesmo de se desenhar o seu futuro, ou que sejam delineados - se possível for - o surgimento de outros períodos históricos, em especial com referência à economia do município e o seu sistema aeroviário, hoje com aeronaves modernas e com um fluxo de passageiros que em nada lembra os primeiros dias do antigo e primeiro campo de pouso da cidade, assim como o primeiro campo de aviação da cidade (década de 30), para atender ao pioneirismo do Correio Aéreo Militar.

Wilton Alves

Certamente que a nova geração há de rir, pela falta de conhecimento, dos desafios e adversidades enfrentadas por Imperatriz ao longo de sua história. Na era das maiores conquistas tecnológicas, em especial das comunicações, quem acreditaria que na década de 50 já existisse o computador, e é evidente, sem a nano tecnologia do sistema tecnológico hodierno, com um disco rígido (HD) pesando uma tonelada e só poderia ser transportado via aérea? O fenômeno, se é que assim pode ser expresso, aplica-se também em relação ao sistema aeroviário e suas conquistas em seus diversos períodos históricos.
Em razão da importância do Correio Aéreo Militar fazer escala em Imperatriz para alcançar o seu destino final em Belém (PA), na rota de São Paulo, o primeiro campo de pouso, ainda que muito curto, localizado entre a atual Rua Santa Teresa e o Cemitério São João Batista, não poderia atender maiores pretensões em relação às aeronaves que estavam sendo importadas pelo Brasil, em especial dos Estados Unidos, para o transporte de passageiros.

Novidade surpreendente
Conforme a predestinação de Imperatriz de estar sempre à frente do seu tempo, e de haver conhecido o avião antes mesmo do automóvel, não é de estranhar que em 1937 a população da cidade, então limitada por apenas três ruas, fosse surpreendida pelo ronco de um avião pousando no rio Tocantins. Um avião anfíbio (hidroavião), que pouco tempo depois transportaria passageiros por uma companhia alemã, a Condor.
No mesmo período, o Correio Aéreo Militar, em sua rota São Paulo-Belém, tinha escala obrigatória em Imperatriz. Era muito pouco para uma cidade que passava por um processo de evolução e expansão urbana sem precedentes no interior do Maranhão, assim como da antiga Região Norte, onde o Estado estava inserido.
Por esta razão, além de outras, houve várias mobilizações políticas no sentido de dar à cidade um verdadeiro campo de aviação que pudesse atender o recrudescimento inimaginável de uma demanda de passageiros para o período, pois antes da abertura da rodovia Transbrasiliana, só se chegava a Belém por via marítima ou aérea, o mesmo acontecendo com a capital São Luís. Assim, pode-se facilmente deduzir que a grande alternativa para Imperatriz, no período, era realmente um campo de aviação, na acepção da palavra, para atender uma demanda, agora abrangendo também toda uma região sob a influência de Imperatriz.
Campo de aviação
Pressionado pelas circunstâncias, em 1954 o então prefeito Simplício Moreira demarca uma área e faz o "croqui" para abrigar um campo de aviação. Vai a Belém, no Comando Aéreo da Região, e consegue uma verba de $ 200.000,00 (duzentos mil cruzeiros) para iniciar e concluir a construção.
Aproveitando todo o tempo disponível e a mão-de-obra indispensável, Simplício Moreira vence desafios e supera adversidades para entregar à cidade o campo de aviação tão esperado pela comunidade, localizado em áreas pertencentes ao município, que depois foi doada ao Ministério da Aeronáutica. Conforme o "croqui" feito por Simplício Moreira, a área do novo campo de aviação, por suas duas cabeceiras, alcançava uma distância de um quilômetro, iniciando-se onde hoje está localizado o Hospital Materno-infantil e indo até as proximidades do Cemitério São João Batista, com a pista de pouso e decolagem medindo 30 metros de largura, mais área de segurança, dos dois lados, de 15 metros cada uma.
Pela localização da pista de pouso, uma das áreas de aproximação estaria localizada onde hoje está a Praça Tiradentes, e outra bem próxima do Cemitério São João Batista, sendo que toda a área foi cercada de arame farpado em estacas de aroeira, tendo sido consumidas, conforme documento de prestação de contas do prefeito Simplício Moreira, mais de mil carradas de piçarra de primeira qualidade para garantir uma pista de pouso e decolagem das mais seguras dos campos de pouso até então existentes no País.
Este campo de aviação entrou em operação em 1955, período em que passou a receber aeronaves de grande porte que transportavam mais de vinte passageiros, como o DC-3, que marcou história na cidade, uma vez que um aeroporto, na acepção da palavra, só foi construído na década de 70, com pista asfaltada e capacidade para receber os então modernos Boeing, com capacidade para mais de cem passageiros, além de uma estação de embarque moderna para atender uma demanda cada vez maior de passageiros.
No antigo campo de aviação da cidade hoje estão localizados diversos prédios públicos. No sentido norte, pelo lado direito, estão o Hospital Materno-infantil, Fundação Nacional de Saúde, Escola Juracy Conceição, Universidade Federal, Receita Federal, SENAC, Escola Graça Aranha, Unidade de Pronto Atendimento (UPA), complexo esportivo Barjona Lobão e SENAI. Pelo lado esquerdo, no sentido sul estão SENAI, Colégio Dorgival Pinheiro de Sousa, Restaurante Popular (antigo prédio da COBAL), Fórum, OAB, FUNAI e Câmara Municipal.