Imperatriz é uma cidade que tem histórias para contar, momentos que lembram em muito as noites de lua quando ainda não havia a energia elétrica, e mesmo depois dela, quando floresciam os acordes de um violão ou de uma guitarra saudando com nostalgia a saudade do tempo que estava passando e marcando com suave perfume o orvalho das canções que ainda hoje são lembradas por uma geração que havia aprendido a viver, tanto o sol quente de verão quanto as noites estreladas que mais pareciam um colar de brilhantes sendo refletido nas águas perenes do rio Tocantins. Era a cidade velha se fazendo moça cada vez mais bonita, mais amada e trazendo na alma os traços de cada pioneiro, de cada migrante envolvido e inebriado pela magia da serenata de letras e acordes que falavam de amor. Não havia violência, preconceitos ou discriminações sociais. Eram seres humanos vivendo com intensidade a Imperatriz que eles mesmos estavam construindo com seus bares, casas noturnas e pontos de encontro nos finais de semana. Esta saudade é a mesma de momentos vividos e não são páginas passadas e esquecidas da história de Imperatriz que está apenas começando.

Wilton Alves

Se no princípio a Rua Grande, ou Rua de Dentro, ou Rua XV de Novembro e atual Rua Frei Manoel Procópio foi o berço das igrejas em Imperatriz, tanto católicas quanto evangélicas, coube à Rua de Fora, ou Rua Godofredo Viana, ser o berço da vida noturna da cidade considerando-se que na década de 30 pouco ou quase nada se poderia oferecer como entretenimento à sociedade, salvo os tradicionais festejos em honra a Santa Teresa d'Ávila, já que a matriz somente foi concluída em 1937, e o bar Cachimbo de Aço já existisse desde os primeiros anos desta década.
No entanto o tempo, inexorável como sempre, dotou a cidade velha, como um todo, no período áureo da vida noturna de Imperatriz que muitos hoje a guardam tão somente na lembrança, como o bar Cachimbo de Aço, do José Antonio, que sem energia elétrica para servir, se houvesse, uma cerveja gelada, tinha em estoque uma pinga sertaneja (de alambique), que era degustada como se fosse o melhor uísque importado.
A década de 70 e o início da década de 80 finalmente marcaram o que havia de melhor para a vida noturna de Imperatriz, não se esquecendo que desde a década de 60 já estivesse a pleno funcionamento da Boate Sandra, mais conhecida como Boate Cacau. Assim, no dia 16 de dezembro de 1976, o jovem Reinildo Martins de Barros abre as portas do Barranco com salão de dança, área livre com frente para o rio Tocantins e um palco, onde entre tantos valores musicais da cidade, sempre estava lá a Banda Roda Viva comandada pelo Henrique (canhoto), que era também cantor e apresentando a "croner" Núbia, indiscutivelmente uma das mais belas vozes de Imperatriz, além do Erasmo di Bel. Mas não se pode esquecer que o Barranco veio somar para dar à noite da cidade o que faltava na região, isto é, opções de lazer à sociedade. Lembrando também que na Rua São Domingos (entre a Rua Godofredo Viana e a Praça Tiradentes) existia o Balaio, do João Balaio, que foi um dos precursores desta fase romântica de Imperatriz.
Ainda na década de 70, o empresário Diomedes Luiz da Silva entrega à sociedade a Panificadora do Lar, que se tornou um dos lugares mais cobiçados da cidade. A Do Lar era ponto de encontro obrigatório daquele período magistralmente encantado, e como para formar um triângulo "amoroso", o Clube Recreativo Tocantins inicia suas atividades desfilando também o que havia de melhor na música de Imperatriz, e isso para lembrar a Churrascaria Boi na Brasa e as apresentações extraordinárias do Conjunto The Brother's.
Novas alternativas
No início dos anos 80, Imperatriz começa a viver uma nova fase, mas permitindo flutuar no tempo um retorno à década de 70 para lembrar o Flutuante do Ataíde e a sua melhor caldeirada feita do melhor peixe do Tocantins, que os turistas degustavam, e com a expressão da época "até lamber os beiços". Na verdade a caldeirada, e o Ataíde, que era um mestre da cozinha, a fazia de piranha e lhe dava o nome de PACURANHA.
À medida da expansão urbana na década de 80, novas alternativas de lazer eram oferecidas à sociedade, quase todas ao mesmo tempo, o que significa afirmar que a população de Imperatriz crescia de forma surpreendente.
Nestes primeiros anos da década de 80, na Praça Tiradentes era inaugurado o Berro d'Água; na Avenida Getúlio Vargas, o Bar do Maron e o Bar da Rita faziam história; na Rua Coronel Manoel Bandeira era inaugurada a Palhoça, e na Rua Godofredo Viana o Kanequinho, que se tornou uma referência da vida noturna de Imperatriz. As suas noitadas eram abertas pelo Duo Viva Voz (Mascarenhas e Airton), que atraía grande público todos os dias da semana.
A cidade cresceu, a expansão urbana na década de 80 começou a cobrar novos investimentos, mais alternativas de lazer, em especial quando o assunto era a vida noturna da cidade. Assim Hélio Herênio abre a Fly Back e nela se consagra uma das primeiras e melhores duplas sertanejas de Imperatriz nas vozes de Ray e Raí. Fazendo com que a cidade velha tivesse maior participação nesse setor da sociedade, que em pouco tempo passou a usufruir também do Terraço e do Farol, na antiga Rua XV de Novembro.
Os palcos se multiplicaram, mas Imperatriz tinha, e ainda, tem um estoque de valores musicais imensuráveis, como foi o caso do saudoso Olavo, que fazia violão clássico; do pianista Raimundinho, que executa suas músicas por partitura; e quem não se lembra do Conjunto Alta Tensão e a Banda 4, assim como das noites encantadas na Praça de Fátima ouvindo a voz do Barbosa? Belos dias, belas noites, belas serestas e serenatas... Belas histórias.