Estranhamente, a história de Imperatriz parece caracterizar uma inversão de valores, principalmente em relação às cobranças que são realizadas, hoje, por melhor qualidade de vida. Estranhamente porque o período atual em nada se compara ao passado histórico, que na concepção de tempo espaço, está situado nos últimos 40 anos, quando na verdade a cidade nova começa a dar seus primeiros passos apesar das adversidades, entre elas a falta de energia elétrica, água potável, asfalto ou qualquer serviço relacionado ao saneamento básico. Os desafios pareciam ser insuperáveis, mas a determinação de migrantes pioneiros estava acima das dificuldades. O importante era construir a cidade, dotá-la de meios e mecanismos que pudessem atrair investimentos, e assim com competência mudar a fisionomia pelo menos da área considerada como "centro da cidade" e que em nada deveria lembrar as adversidades do passado, mas preservando-o na memória como estímulo a novas realizações, novas conquistas e a busca de uma expansão urbana e o trabalho profícuo que resultaria em sua mais importante e maior transformação de sua história: uma economia sólida e com a capacidade de gerir os seus caminhos em direção ao futuro que pode ser chamado, sem qualquer eufemismo, como sendo o dia de hoje.

Wilton Alves

Quando um assunto é relacionado com a história de Imperatriz desde os seus primeiros dias, torna-se irrelevante apenas o conhecimento, informações que estão, ou deveriam estar, à disposição da sociedade caso houvesse interesse do poder público em criar um museu na cidade. O mais importante neste contexto é ENTENDER o desenvolvimento de Imperatriz, no seu todo, envolvendo questões culturais a partir do trabalho de pioneiros, migrantes e imigrantes que ousaram acreditar que Imperatriz era a cidade da realização do improvável e do impossível.
Trata-se de um conceito desafiador, uma vez que construir uma cidade envolvida por fenômenos adversos e limites naturais contrários à expansão urbana não era uma simples tarefa de tão somente ter o desejo e realizá-lo. O perímetro de expansão urbana a partir de Mundico Barros, para muitos, eram limites intransponíveis, como a lagoa do Murici, um cemitério existente na atual Avenida Getúlio Vargas esquina com a Rua Maranhão, e ainda um período de chuva que durava cerca de nove meses. Ainda assim, cada um deles era vencido e a cidade prosperava, crescia, e muito, para os padrões sócio-culturais da época.
Quem da geração de hoje, se pudesse voltar a este passado, teria a coragem - ou visão - de descrever a Imperatriz atual, cada vez mais exigente, mais desafiadora? A história pode cumprir esse papel e desfilar aos olhos da modernidade uma cidade sem asfalto, sem energia elétrica, sem água potável e sem habitações isentas da proliferação de fungos, bactérias, vermes e os desafios da febre amarela e da malária em razão da ausência de saneamento básico, hospitais, médicos e uma saúde pública que sequer existia.
Limites e limitações - Com grande esforço e as limitações impostas pela falta de recursos financeiros, máquinas e equipamentos, regiões alagadas e grandes areais, a cidade estabelecia em seu crescimento os limites até onde era possível a expansão urbana com um aproveitamento racional das áreas localizadas ao longo das ruas projetadas e abertas por Mundico Barros, uma situação que até o final da década de 70 as confrontações da nova cidade eram compostas pelo emergente bairro do Bacuri; a Rua Ceará, que no início desta década não ultrapassava a confluência com a Rua Gonçalves Dias e a região do Entroncamento, onde a rodovia Transbrasiliana, ainda na década de 70 em seus primeiros anos, se constituísse em um novo limite para a expansão urbana de Imperatriz, inclusive porque foi a partir dela que se desenvolveu o então emergente bairro do Maranhão Novo, e a abertura e ocupação da Avenida Bernardo Sayão ensejou um novo período com a ocupação das "Quatro Bocas", um marco até hoje para o desenvolvimento da cidade e a criação de novos bairros e vilas naquele setor.
Ao mesmo tempo, a antiga fazenda do senhor conhecido por Antonio Galinha dava lugar ao setor Juçara, enquanto que o córrego Bacuri era o limite natural do emergente bairro do mesmo nome, à exceção do "caminho" que era a antiga Rua do Cumaru, então saída de Imperatriz para Montes Altos, Grajaú e Porto Franco, além de ser o acesso ao antigo matadouro municipal, muito distante do centro da cidade, e hoje muito perto, porque estava localizado onde hoje é a Praça Dilermando Reis, mais conhecida como Praça do Violão, e a antiga estrada carroçável iniciada no entroncamento, hoje Avenida Babaçulândia, ligando a cidade ao povoado Gameleira, emancipado em 1961 com o nome de João Lisboa.
Populações - Como principal evidência da expansão urbana e crescimento populacional de Imperatriz, em 1977 a capital São Luís tinha 171.406 habitantes na cidade e no município 330.311 habitantes. As cidades mais importantes do Estado, em suas sedes, como Grajaú, a população era de 4.318 habitantes; Bacabal 13.982 habitantes; Carolina 5.881 habitantes; Barra do Corda 9.665 habitantes, enquanto que Imperatriz no mesmo período já contava com uma população de 36.411 habitantes espremidos pelas limitações e limites existentes, mas que significa afirmar que limitações, limites, adversidades e desafios existiam para ser superados.
Esta é a Imperatriz de ontem, que mesmo sem receber cobranças, venceu suas fronteiras e estabeleceu perspectivas para a cidade de hoje e soluções para a Imperatriz do amanhã com novos desafios, novos limites e novas limitações, e sem perder de vista seus precursores, pioneiros, migrantes e imigrantes que continuam a tarefa de construir uma nova história para a cidade, principalmente considerando que foi a partir desses limites e limitações que hoje a cidade conta com bairros tão importantes como Vila Lobão, Vila Nova, grande Santa Rita e dezenas de outros que certamente vão estabelecer novos limites que serão vencidos pela expansão urbana e pelo trabalho de todos aqueles que continuam acreditando nas potencialidades de Imperatriz e na sua capacidade de enfrentar e vencer todos os limites e limitações impostos por sua própria história.