Qualquer tentativa para conhecer e entender a importância e influência da rodovia Transbrasiliana, em relação a Imperatriz, se tornaria inócua e vazia, sem sentido e permitindo uma lacuna destinada à especulação se não ficasse conhecida a história da própria rodovia, a compreensão de Getúlio Vargas absorvida por Juscelino Kubitschek da necessidade de integrar para não entregar. Esta foi uma das razões para a transferência da Capital da República do Rio de Janeiro para o planalto central e, fundamentalmente, a complementação de um grande projeto dessa integração, que era abrir uma rodovia ligando o Sul com o Norte, que até então somente era possível por via aérea ou marítima. Não seria fácil construir uma rodovia com mais de dois mil quilômetros de extensão e menos fácil ainda elaborar a sua história contando todas as adversidades, desafios e muitas vezes à custa de sacrifícios irreparáveis, como os trabalhadores que perderam a vida vítimas de acidentes, e principalmente da maleita, e ainda a morte de Bernardo Sayão de Araújo Carvalho, responsável pela obra, atingido por uma das milhares de árvores que foram derrubadas para que a rodovia pudesse transpor a floresta amazônica e abrir novos horizontes para a própria história do País. Apesar de tudo, Sayão viu seu trabalho concluído, mas não participou de sua inauguração. Ele venceu a floresta e acabou sendo vencido por ela.
Wilton Alves
Bernardo Sayão havia sido eleito vice-governador de Goiás, e quando assume o cargo em razão de uma licença do titular, José Ludovico de Almeida, o presidente Juscelino Kubitschek cria a NOVACAP, a estatal que seria responsável pela construção de Brasília. Para a presidência escolhe o mineiro Israel Pinheiro, e como diretor para tocar a obra, convida Bernardo Sayão, que não pensa duas vezes em abandonar a política para enfrentar esse novo desafio de sua vida. A construção de Brasília estava a todo vapor quando JK dá a Bernardo Sayão um novo desafio: construir uma rodovia de Anápolis (GO) até Belém (PA) em apenas dois anos, pois o desejo do presidente era inaugurar a grande rodovia na mesma data de inauguração da nova capital.
Voltar a ser "estradeiro", construtor de estradas, era tudo que Bernardo Sayão mais desejava em sua vida. Assim, sem perder tempo, começa a arregimentar o seu exercido de chapéu de palha e dá início à rodovia que recebe o nome de Transbrasiliana, que ele comenta com seu secretário e amigo Conrado Horácio, apelidado por ele de "Secretário de Ferro" pelos relevantes serviços prestados: "Gosto do nome que foi dado a ela: Transbrasiliana. Soa bem nos ouvidos e diz tudo da nossa ligação." O tempo era tão curto para uma tão longa estrada que Sayão, mesmo com a Comissão Executiva da Belém-Brasília ter sido criada em 15 de maio de 1958 não lhe assustava, nem ele se envaideceu por ter sido nomeado seu supervisor-geral.
Mãos à obra
Se por um lado era difícil sobrepor-se ao limite de tempo para a rodovia ficar pronta, por outro o desafio de vencer o mundo desconhecido da floresta amazônica parecia agigantar-se à medida que homens e máquinas avançavam em dois sentidos contrários: De Anápolis para Belém e de Belém para Anápolis, em direção ao marco zero localizado no encontro da Avenida JK com a BR 060, que liga esta cidade goiana a Brasília.
Para vencer o tempo e entregar a rodovia no tempo determinado pelo presidente JK, o engenheiro agrônomo Bernardo Sayão constitui 17 frentes de trabalho com o suporte de 17 acampamentos que eram abastecidos para fornecimento aos trabalhadores e máquinas, de alimentação, combustível e assistência humana e técnica a todas as frentes de trabalho envolvidas na construção da rodovia. Assim cada equipe tinha um encontro marcado em cada frente. O último estava marcado para acontecer em terras do Maranhão, nas proximidades da atual cidade de Açailândia, e também próximo a Imperatriz, conforme bilhete de Bernardo Sayão endereçado a Benjamim Rondon, atirado do seu teco-teco na tarde do dia 9 de janeiro de 1959. Dizia o documento: "Açaí - 17,02 horas - 9 de janeiro de 1959. Pedimos manter o rumo de 230 magnéticos por onde vindo nossa turma que está distante uns 60.000 metros de vocês. Abraços. B. Sayão." Rondon seguiu o rumo indicado e chegou exatamente no campo, onde no dia 15 Bernardo Sayão perderia a vida. A abertura da Transbrasiliana estava pronta, mas ele não sobreviveu para a sua inauguração, e ainda conforme ele mesmo, para os dias de hoje, "De Açaí até o Estreito é só um pulinho".
Fator histórico
Entre tantas declarações de Bernardo Sayão, uma das mais relevantes é quando ele afirma que "ao longo da Transbrasiliana estariam plantando novas cidades, e que eles seriam como sementes plantadas pelo caminho". É bem verdade que Imperatriz já existisse e estava no caminho da nova rodovia, mas é verdade também que este fator histórico foi o responsável pela construção vislumbrada por Mundico Barros para os dias de hoje, e é bom lembrar que o acampamento chamado por Açaí era a atual Açailândia, que como muitas outras, floresceu em razão da Transbrasiliana.
Ainda como fator histórico, embora o nome da rodovia fosse e ainda é Transbrasiliana, tecnicamente todo o seu trajeto de Anápolis a Belém era definido como BR 14. Essa nomenclatura durou até 1964, quando a rodovia, no Estado de Goiás recebe a nomenclatura de BR 153 e o trecho maranhense de BR 010.
Este fator histórico explica porque a atual Rua Dorgival Pinheiro de Sousa, na época de sua abertura, havia recebido o nome de BR 14, o que significa um tributo, um reconhecimento de Imperatriz pela nova rodovia, assim como a Bernardo Sayão, o desbravador da floresta amazônica que resultou na rodovia da integração nacional. No entanto o sonho inacabado de Bernardo Sayão para ver a "sua" rodovia asfaltada demorou quatorze anos, pois somente em 1973, com a Transbrasiliana entregue ao tráfego é que o asfalto chegou, e com ele um novo período de progresso e desenvolvimento para Imperatriz.
Lá se vão pouco mais de cinquenta anos desde aquele dia 15 de maio de 1958, que inclusive deu origem à criação da RODOBRÁS, de tantas histórias envolvendo pioneiros e migrantes que também dedicaram parte de suas vidas para que a rodovia Transbrasiliana, ou BR 14, se constituísse no elo entre Imperatriz, o Centro Oeste e o Sul do Brasil.
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