De maneira insofismável e sem estabelecer qualquer dúvida, pode-se afirmar que a informação é o maior e mais importante agente de transformação da sociedade. Historicamente a informação é a responsável pela evolução do pensamento humano, sem ela a sociedade não teria se desenvolvido aos patamares hodiernos de hoje. Assim pode ser visto e compreendido que à medida da velocidade da informação também ocorreram as mais importantes e profundas transformações da sociedade. De escritas antigas até o advento de Gutemberg (imprensa) foi um longo e lento caminho percorrido. No percurso estavam as escritas cuneiforme, sânscrito, aramaico, hieróglifos, koinê (já foi língua internacional); latim e árabe. Das antigas cartas à imprensa foi um salto de velocidade na comunicação e informação, mas os grandes avanços foram iniciados a partir dos anos de 1863 com a invenção do rádio, e logo após, em 1876, a invenção do telefone. Estavam dados os primeiros passos para a velocidade da informação, que culminaria com a invenção da TV, que além do som, transmitiria a informação também com imagens. Esta poderá ter sido a grande revolução quando o assunto é a informação, principalmente porque no contexto ela tem a capacidade, além de informar, também de formar a opinião pública em tempo real, pois são essas características que transformam o comportamento da própria sociedade. Em relação a Imperatriz, desde a sua fundação até os dias de hoje, é marcada por situações atípicas, como no caso de ter conhecido o avião antes do automóvel, e isso também aconteceu com a informação: Antes de ter uma emissora de rádio (legalizada) já possuía o sinal de transmissão do som e imagem da televisão, e esta é a sua história.

Wilton Alves

Praticamente um século após a invenção do rádio em 1863, Júlio Guerra inaugura a rodoviária de Imperatriz em 1974, e com ela a vinda para a cidade do jovem Roberto Miranda, instalando dois circuitos internos, sendo um de rádio e outro de TV. Roberto Miranda conseguia gravar, em Belém (PA), as imagens da copa do mundo de 74, e depois presenteava Imperatriz com os "vídeos tapes" dos jogos, além do mesmo procedimento para apresentação de desenhos animados.
No ano seguinte, nos primeiros dias de 1975, o interventor de Imperatriz, Barateiro da Costa, promete à cidade que no dia 24 de dezembro a cidade iria assistir, ao vivo, à "missa do galo" que seria celebrada pelo Papa, diretamente do Vaticano. No entanto o interventor faz uma avaliação equivocada sobre tempo e equipamentos que seriam necessários ao cumprimento de sua promessa. Assim Barateiro da Costa só começou mesmo a trabalhar o seu projeto de "missa do galo" a partir do mês de julho, muito pouco tempo para a empreitada, não estivesse residindo em Imperatriz o migrante e pioneiro Francisco Ramos.

Buscando soluções
Barateiro da Costa foi informado de que o técnico Ramos seria a única pessoa na cidade com conhecimento e competência para viabilizar o seu projeto. Depois de muita conversa, Ramos aceita o desafio e começa a trabalhar, ele e seus dois e inseparáveis amigos e companheiros de jornada: Osvaldo Nascimento e José Moreira. O primeiro passo foi a utilização de uma casa nas proximidades da torre da Embratel, localizada no Morro da Viúva, que ficou conhecido como Morro da Embratel, para que os equipamentos fossem montados. Na época Ramos dispunha de um pequeno transmissor que ele trouxe do Rio de Janeiro. O mesmo que ele montou a primeira rádio da cidade, a Rádio Educadora, na região do Entroncamento e tinha como proprietário o então migrante Leôncio Pires Dourado. A Rádio Educadora, embora fosse "PIRATA", foi ao ar e o seu primeiro locutor, que foi também o primeiro da cidade, o jovem Aldeman Costa.
Tudo parecia contribuir para que Ramos pudesse cumprir o compromisso feito por Barateiro da Costa, não fosse a intransigência do engenheiro Mário Crispim, residente da Embratel, ao afirmar que não iria liberar o sinal para que a transmissão fosse feita, e fez um desafio: "vocês só fazem a transmissão se eu for preso". Assim, havia mais um desafio insuperável, que era colocar a antena de recepção e transmissão de imagens no alto da torre.

Morro da ilusão
A maior dificuldade para Barateiro da Costa, Ramos, Osvaldo e José Moreira, a partir dos trabalhos adiantados, era Jurivê de Macêdo, que para desestabilizar e desmoralizar o projeto, em sua coluna COMENTANDO, passa a chamar o morro da Embratel de MORRO DA ILUSÃO, afirmando ainda que ainda iria demorar muitos anos para que Imperatriz tivesse a imagem da televisão.
A campanha feita por Jurivê de Macêdo acabou convencendo a cidade sobre a inviabilidade do projeto, e assim os aparelhos receptores adquiridos pelas empresas Armazém Paraíba e Casas Pernambucanas ficaram "encalhados". Nem Luís Danda ou o senhor Prado conseguiam vender sequer um aparelho. Por isso Danda inovou a sua comercialização: Mandou um aparelho para cada cliente da empresa mediante um simples recibo. Se a promessa de Barateiro da Costa não cumprisse sua promessa, bastaria a devolução do aparelho, e o dia 24 de dezembro estava muito próximo. No encalhe do Paraíba e das Casas Pernambucanas estavam mais de dois mil aparelhos de TV da marca Colorado RQ.
Francisco Ramos, com a consciência de quem sabia o que estava fazendo, via o dia 24 de dezembro chegar com mais dois desafios: o primeiro era vencer a resistência do engenheiro Mário Crispim para autorizar o sinal da Embratel, e o segundo é que não havia cabo coaxial na cidade para a conexão do transmissor com a torre.
Para o primeiro desafio Barateiro da Costa consegue uma ligação telefônica com Euclides Quandt de Oliveira, Ministro das Comunicações, que autoriza a liberação do sinal. Este desafio parecia estar vencido, mas havia o segundo que foi solucionado por Luis Danda, que conseguiu um avião do Armazém Paraíba e foi a Teresina (PI), onde adquiriu os cabos solicitados por Francisco Ramos.

A prisão
Pouco antes do dia 25 de dezembro e a antena de transmissão ainda não estava instalada na torre porque Mário Crispim ainda estava resistente, mesmo com a determinação do ministro Quandt de Oliveira em autorizar o sinal; para demonstrar com atitude a sua resistência, comunica que está saindo de férias e ficará ausente da cidade; mas não ficou. Barateiro da Costa recorre então à justiça, e o juiz José de Ribamar Fiquene expede mandado de prisão contra ele por desacato à autoridade.
Não foi preso, mas ficou comovido com a determinação do interventor e da equipe comandada por Francisco Ramos que passou a colaborar com ela, inclusive na instalação de equipamentos que resultaria no sinal. Ramos então dá ao empresário Walterley Moreira de Jesus a tarefa de subir na torre e colocar a antena de transmissão. O resto seria com Ramos, sua equipe e a colaboração do engenheiro Mário Crispim, quando foram realizados os primeiros testes de transmissão.
Pouco antes do 24 de dezembro, clientes do Paraíba procuraram Luís Danda reclamando que os aparelhos cedidos só davam sinais de "chuviscos". Foi quando ele disse aos clientes que para se ter imagem precisavam comprar também uma antena de recepção que estava disponível na Ramos Eletrônica. Foi uma correria, e nesse período o Osvaldo Nascimento não saberia dizer quantas antenas montou para atender quem já tinha na sala uma Colorado RQ.
Francisco Ramos conseguiu sintonizar o sinal, mas já estava dando meia noite e nada de transmissão. Sua saída foi das mais inteligentes: Gravou em "vídeo tape" a "missa do galo", celebrada pelo Papa diretamente do Vaticano e a transmitiu, ao vivo, às quatro da manhã.
Quando no primeiro dia útil mandou recolher os aparelhos que havia cedido por recibo, acabou concretizando a venda de todos os aparelhos que estavam "encalhados", no Paraíba e nas Casas Pernambucanas. Assim, a noite do dia 24 de dezembro de 1975 inseriu a televisão na história de Imperatriz.
Ramos continuou trabalhando... Mas são outras histórias.