A expansão urbana de Imperatriz, literalmente, foge à regra de um crescimento de "dentro para fora". Na maioria dos casos em que foram criados novos bairros, eles se desenvolveram sem qualquer relação com a vida da considerada cidade velha. O bairro mais antigo da cidade, o Bacuri, foi consequência natural de uma ocupação a partir de algumas propriedades rurais, como as pertencentes a Simplício Moreira, Alencar e Coriolano Rocha, e ainda porque a única saída da cidade para Porto Franco, Montes Altos, Grajaú e outros municípios da região, era a antiga Rua do Cumaru, atual Leôncio Pires Dourado. Do outro lado da cidade emergia a Vila Nova, em especial pela razão da estrada que ligava Imperatriz ao antigo povoado da Gameleira (atual João Lisboa), e hoje Avenida Babaçulândia, que foi o embrião do desenvolvimento urbano de toda a região do Entroncamento, e como no período o município era constituído de terras devolutas da União, sucessivas invasões davam contribuição expressiva à expansão urbana da Vila Nova, onde inclusive pequenos investidores abriam modestos estabelecimentos comerciais (quitandas e quiosques), a maioria, como também as casas, não passavam de construções rústicas sem qualquer perspectiva de valorização. Ainda assim a Vila Nova cresceu e contribuiu para que a expansão urbana fosse além de suas fronteiras, pois outros bairros e vilas surgiram em razão do seu crescimento urbano, em especial depois de concluída a rodovia Transbrasiliana, que deu um impulso à região a partir do Entroncamento e da emancipação política da Gameleira, ocorrida em 1961, porquanto o asfaltamento da rodovia só foi concluído em 1973.
Wilton Alves
Com a conclusão do asfaltamento da rodovia Transbrasiliana em 1973, a expansão urbana de Imperatriz a partir do Entroncamento recrudesceu, e muito, o intercâmbio com o vizinho João Lisboa, em especial porque o mercado de trabalho de Imperatriz havia aberto suas portas para o emergente vizinho, até porque bens de consumo, vestuário e alimentício eram fornecidos por empresas que chegavam e se instalavam agora também na atual Avenida Babaçulândia, outrora apenas um "caminho" que ligava a cidade ao antigo povoado da Gameleira.
Assim, por volta de 1975, pioneiros deram início à abertura de uma nova rua na cidade enfrentando o mato e uma imensa região alagada, que veio a se transformar na atual Avenida São Sebastião. Era também o início de uma nova ocupação e expansão urbana para dar origem à Vila Nova, indiscutivelmente um dos mais antigos bairros de Imperatriz. No entanto novas ruas, habitações e primeiros investimentos comerciais, mais expressivos, somente a partir dos anos 80, e como não havia um loteamento planejado, as invasões se tornaram uma prática tão natural que os próprios invasores e primeiros moradores indicavam as ruas em ordem alfabética: Rua A, Rua B e assim sucessivamente.
Sem planejamento
A expansão urbana da Vila Nova a partir da atual Avenida São Sebastião deu origem à rua que no período era conhecida apenas como Rua Principal e é hoje a Rua Euclides da Cunha, que cresceu em direção oeste, como um retorno à cidade, alcançando um espaço vazio que se transformou na Praça Ferro de Engomar, hoje oficialmente Praça Manoel Cecílio, conforme projeto aprovado pela Câmara Municipal, e historicamente a Rua Euclides da Cunha acabou se transformando em um verdadeiro beco sem saída. A alternativa foi a abertura de uma nova rua de acesso à Avenida Babaçulândia. Com o decorrer do tempo acabou se transformando na principal entrada da Vila Nova, e hoje, por projeto também aprovado pela Câmara Municipal, recebe o nome de Rua Tancredo Neves.
Considerando-se que não havia planejamento, ruas tortuosas davam ao crescimento urbano da Vila Nova uma projeção de problemas e grandes desafios futuros, assim como a ausência de uma perspectiva de integração com o restante da cidade. No entanto, apesar das dificuldades e adversidades, a Vila Nova contribuiu para o surgimento de novos bairros e novas vilas, e o mais improvável, que era a integração de suas ruas com a cidade, serviu também para a expansão urbana de Imperatriz, e mesmo sem planejamento, a Vila Nova se transformasse em um eixo de ligação de todos em relação à rodovia Transbrasiliana e à cidade.
Referência
Por mais absurdo que possa parecer, no final dos anos 70 e início dos anos 80, a principal referência da Vila Nova era a casa da Rita Baiana, um prostíbulo de luxo para os padrões da época, pois Rita Baiana importava de Goiânia as prostitutas profissionais para atender sua exigente clientela. Conta-se que uma dose de uísque custava o equivalente a um litro do produto.
Apesar das adversidades, vinte anos depois do início de sua ocupação, a Vila Nova passou a ter vida própria e vários investimentos foram realizados, em especial na construção civil, que fez desaparecer os casebres de taipas, assim como a abertura de novos pontos comerciais, e na área social de cunho religioso, várias denominações evangélicas construíram templos, bem como a Igreja Católica. Com todas essas mudanças, a Vila Nova recebe também os benefícios públicos, entre os mais importantes, a construção de escolas e postos de saúde. Muitas ruas receberam o benefício do asfalto, da água tratada e do transporte coletivo.
Hoje, pouco mais de 40 anos após o surgimento da Vila Nova, em alguns setores é possível observar também uma nova fase econômica, visto que novas empresas foram abertas, inclusive na prestação de serviços, cobrindo praticamente todas as necessidades de seus moradores, como se pode observar, também, uma expressiva mudança em relação à construção civil, o que resulta afirmar que também na Vila Nova houve uma valorização imobiliária seguindo as tendências econômicas da cidade.
Inovando a história
Se por um lado o começo da Vila Nova apontava para o surgimento de mais uma favela na cidade, por outro havia se transformado no ponto de partida para novos e importantes bairros que foram surgindo no seu entorno, o que significa uma inovação histórica para o desenvolvimento da expansão urbana de Imperatriz, apesar de haver contribuído, e muito, para que ocorressem novas invasões na cidade e inibir, durante muito tempo, uma verdadeira valorização imobiliária.
Relevante ainda nesta inovação histórica o fato da Vila Nova, por seus pioneiros, obter um desenvolvimento urbano como se houvesse um planejamento adequado a esse fim quando se observa a Vila Nova de hoje como um dos setores mais importantes de Imperatriz, além de dar e uma contribuição imensurável à economia da cidade.
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