É um equívoco histórico imaginar que o desenvolvimento econômico de um município seja reflexo, ou consequência, tão somente de grandes investimentos empresariais. No caso específico de Imperatriz, em especial no início de sua expansão urbana a partir dos anos 60, pequenos e médios empreendimentos comerciais passaram a ocupar as ruas abertas por Mundico Barros, e entre elas a Avenida Getúlio Vargas, projetada para ser a "espinha dorsal" da nova cidade que começava a surgir para completar as ruas então existentes e que passariam a compor uma nova visão da cidade, agora motivada por migrantes que acreditavam nas potencialidades do município, assim como por aqueles que anelavam uma oportunidade de trabalho e a perspectiva de crescimento junto com a cidade, que no período experimentava uma expansão urbana imensurável, pois estava em andamento, também, a ocupação do setor Entroncamento, onde começavam a ser localizados os investimentos decorrentes e para suporte à rodovia Transbrasiliana, então concluída (mas sem asfalto) e sendo transformada no eixo, ou entroncamento, de ligação de três das mais importantes regiões do País, e sem qualquer sofisma, Imperatriz passa a se constituir no mesmo fenômeno de desenvolvimento da cidade de Anápolis, no Estado de Goiás, que era então, no período, a última fronteira, ou eixo, de ligação proporcionada pela Transbrasiliana. Assim foi possível a expansão urbana de Imperatriz em dois sentidos: da cidade velha em direção ao Entroncamento e deste em direção à cidade velha.
Wilton Alves
Até meados da década de 50, a economia de Imperatriz estava restrita aos investimentos comerciais aplicados nas ruas XV de Novembro, Manoel Bandeira e Godofredo Vianna, mas estava alcançando também a região da atual Praça de Fátima sob forte influência, como ainda hoje, da produção rural, e ambas fazendo recrudescer a indústria da construção civil em toda a sua cadeia produtiva.
Não se pode, no entanto, discorrer sobre os aspectos econômicos de Imperatriz omitindo a abertura de farmácias, esta importante atividade comercial que há quase um século tanto contribui com o desenvolvimento da cidade, mesmo considerando que não havia água tratada, energia elétrica, equipamentos ou quaisquer outros instrumentos que possibilitassem um atendimento adequado à população, desde o período histórico da fundação do povoado até o advento do período da rodovia Transbrasiliana.
No contexto histórico, possivelmente o aspecto social desta atividade tenha sido o mais importante, pois o serviço prestado à saúde do município por pessoas que ativamente trabalhavam em suas farmácias, não apenas salvando vidas, mas substancialmente sendo os responsáveis pelo desenvolvimento urbano e humano da cidade, em especial nos períodos mais difíceis e carentes de Imperatriz, como a ausência de médicos e hospitais.
O começo
No dia 23 de julho de 1913, chega à cidade o migrante Raimundo Nogueira de Sousa, vindo de Belém (PA), onde passou alguns anos após deixar Barra do Corda, sua terra natal. Começou trabalhando na venda de secos e molhados, mas a partir de 1916 inicia suas atividades como "vendedor" de remédios, quando então passa a fazer estudos para adquirir conhecimentos sobre medicina e abre a primeira farmácia de Imperatriz após tornar-se um prático-farmacêutico, e conforme sua narração a Antonino Filho, "em muitos casos chegou a fazer cirurgias (amputação de pernas e braços), mesmo sem anestesia e com equipamentos rudimentares, como uma navalha de barbeiro, uma serra de arco e uma agulha de costurar fardos, e isso sem contar os inúmeros partos realizados." Em 1939 foi para São Luís fazer um curso de enfermagem, retornando em 1940 para exercer suas atividades já com o curso concluído.
Quando a expansão urbana de Imperatriz entra em verdadeira ebulição, no início dos anos 60, chega à cidade o migrante Hermínio Aquino Alencar, vindo de Parnamerim (PE), depois de residir em Graça Aranha (MA) onde constituiu família. Na cidade, na Avenida Getúlio Vargas nº 878, (em frente onde hoje está a loja Maranata), abre a sua Farmácia Alencar.
Seu Alencar, como ficou conhecido na cidade, começa a prestar relevantes serviços na área da saúde, inclusive mantendo em um anexo de sua residência, uma "enfermaria" com mais de 15 leitos onde eram tratados os pacientes com maleita e malária, tão comuns na região naquele período, e nenhum desses pacientes, que foram centenas, foi a óbito por causa da doença. Incomuns também para o período eram as cirurgias realizadas por seu Alencar, que tinha pleno conhecimento da anatomia humana porque havia cursado até o terceiro ano do curso de medicina, e somente não se arriscava, conforme ele mesmo, em cirurgias neurológicas e cardiovasculares, "porque quem operava da cabeça, morria."
Em 1967 outro migrante chega a Imperatriz. É Francisco Soares Filho, que abre a sua Farmácia dos Bons Remédios, também na Avenida Getúlio Vargas (esquina com a Rua Amazonas), e passa a prestar relevantes serviços à cidade, inclusive porque também realizava cirurgias em sua casa, porque a maioria dos pacientes, naquele período, não dispunha de recursos para um tratamento que somente seria realizado em Belém.
Notável coincidência
Uma notável coincidência entre Hermínio Aquino Alencar e Francisco Soares Filho, é que ambos realizavam cirurgias e não estavam preocupados com o pagamento. Para eles o mais importante era salvar a vida do paciente. Foi um trabalho social dos mais relevantes para a história de Imperatriz prestado por esses dois homens que acreditaram na cidade, e mais importante ainda, que poderiam ser úteis à sociedade, em especial aos mais pobres.
Neste período, como a expansão urbana de Imperatriz passava pela Avenida Getúlio Vargas, mais um migrante, na "vizinhança" de Hermínio Aquino Alencar e Francisco Soares Filho. Trata-se do senhor Pedro Ramos, que abre uma nova farmácia, a Farmácia São Pedro, pouco acima da esquina com a Rua Amazonas.
Com estes investimentos na área da saúde, pioneiros como Raimundo Nogueira e muitos outros deram uma contribuição inestimável à economia do município, o que reflete nos dias de hoje a importância deste segmento para o contexto dos fatores econômicos da cidade, assim como pela presença da construção civil, que em todos os casos, teve participação efetiva, inclusive na construção de modernos hospitais que hoje prestam relevantes serviços à sociedade de Imperatriz.
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