Não é sem razão que a Avenida Getúlio Vargas foi cognominada como a "espinha dorsal" da cidade que dava os seus primeiros passos para transformar-se na referência do desenvolvimento econômico de toda a região tocantina, atraindo também, nesse processo de crescimento, os mais importantes e alvissareiros aspectos relacionados ao recrudescimento de suas atividades sociais. Como em toda a história de Imperatriz, nada aconteceu por acaso: com a abertura da Getúlio Vargas e o desafio de vencer o grande areal estava apenas começando com o surgimento dos primeiros homens de negócio que acreditavam ver ali o grande potencial para investimentos na economia da cidade, como de fato aconteceu, de tal maneira que a Getúlio Vargas se constitui verdadeiramente em um divisor na história de Imperatriz e até os dias de hoje é considerada como o pulmão do desenvolvimento econômico da cidade, sendo um dos setores mais valorizados na área imobiliária destinada ao comércio e à instalação de instituições financeiras de sua macrorregião.
Wilton Alves
Pode-se afirmar que a Avenida Getúlio Vargas, que tinha o seu início no final da Travessa do Sul, tornou-se um autêntico contraditório para os céticos da época de sua abertura: consideravam-na "muito larga" para os padrões da cidade que estava começando, e por isso, afirmavam "que em tempo algum haveria uma demanda capaz de justificar a sua construção" (abertura), enquanto que, na verdade, ela se transformou na "espinha dorsal" de todas as ruas paralelas - e transversais também - além de se constituir em um marco para o desenvolvimento do "novo" centro da cidade.
Nesse contexto percebe-se a participação de verdadeiros "pioneiros" na construção de Imperatriz, destacando-se também o trabalho, cada vez maior, de migrantes que chegavam de todos os estados brasileiros, mas com um foco principal para os nordestinos, goianos, mineiros e paulistas, com uma clara e insofismável tendência da cidade em atrair imigrantes de vários países, como o Líbano, Estados Unidos, Inglaterra, Itália e Japão.
Getúlio Vargas
Para a nova geração de Imperatriz, o nome de Getúlio Vargas pode até soar meio estranho, isto é, um desconhecido para a história da cidade, porque nunca houve uma preocupação do poder público em manter viva a imagem dos grandes personagens que emprestam seus nomes para ruas e avenidas da cidade.
Getúlio Dornelles Vargas, um gaúcho de São Borja, nascido no dia 19 de abril de 1883, filho do general Manuel do Nascimento Vargas, que aos 20 anos larga tudo para lutar, como voluntário, na Guerra do Paraguai, herda do pai o amor pelo campo, a vocação para a política e o temperamento que move o homem aos grandes desafios. A relação de Vargas com Imperatriz é histórica, ainda que de forma subjetiva, pois as suas ações trouxeram em seu arcabouço a quebra de paradigmas que não eram sequer imaginados quando do seu exercício na presidência da República na década de 40. Um dos mais importantes projetos elaborados por ele era a construção de hidroelétricas interligadas, como acontece hoje.
No entanto, o seu projeto mais importante em relação a Imperatriz aconteceu na década de 50, quando entrega a Bernardo Sayão a responsabilidade de criar e desenvolver a colônia agrícola que deu origem às cidades de Rialma e Ceres, no estado de Goiás, para que fosse aberta a estrada ligando essas duas cidades a Anápolis, considerada como o "embrião" para que o presidente Juscelino Kubistcheck determinasse a construção da rodovia Transbrasiliana, mais conhecida como Belém-Brasília. Em comum o princípio de Getúlio Vargas para o empreendimento: "integrar para não entregar", que também serviu de modelo para justificar, no regime militar, a construção da rodovia Transamazônica.
A versão oficial da morte de Getúlio Vargas foi o seu suicídio, com um tiro no peito, no dia 24 de agosto de 1954.
Pioneiros
Enfatizar o trabalho pioneiro equivale ao risco de se cometer injustiças, uma vez que importantes nomes e empresas podem não ser lembrados. Ainda assim, vale ressaltar alguns setores desse período de "povoamento" da Avenida Getúlio Vargas, como por exemplo, na área da fotografia, onde aparecem o Zé Ferreira (Stúdio Imperial), Ailton Dezzem (atual Nosso Foto), Walter Garcia e Foto Rocha (o mais antigo da área), entre muitos, que se destacaram na nova avenida, assim como a loja de confecções da dona Jarina, na Praça de Fátima, ou os bares da Rita e do Maron, nas proximidades do antigo Banco do Estado do Maranhão, e a usina de beneficiar arroz do empresário Dorgival Pinheiro de Sousa, cuja residência ficava defronte à usina, que estava localizada onde hoje se encontram os escritórios da CAEMA, e ainda uma instituição financeira cem por cento maranhense, a CREDIMUS, no quarteirão entre as ruas Sousa Lima e Coriolano Milhomem.
Imperatriz começava a ganhar ares de cidade grande com a inauguração do Supermercado Variedades, o primeiro de Imperatriz, que veio juntar-se a outras empresas que aceitaram o desafio de vencer o grande areal da avenida, e ali estavam a Casa Lopes, Sapataria Leite, a Covap, Tipografia Jardim e a mais moderna loja de confecções para homens, a Machão Moda Masculina, a primeira na cidade a montar uma vitrine de exposição.
Em 1º de janeiro de 1960 é fundada a Associação Comercial de Imperatriz, e a sua sede é construída na Getúlio Vargas, onde o seu epicentro continuava criando novas perspectivas e oportunidades para que o novo "centro", no seu todo, pudesse atender a uma demanda cada vez maior e mais exigente. Foi assim que a sociedade testemunhou a construção e os relevantes serviços prestados pelo Hospital São Raimundo, inúmeras farmácias e outros benefícios relacionados à saúde da população.
No entanto, era importante avançar mais, "emendar" a cidade com a rodovia Transbrasiliana. Os investimentos se tornaram mais fortes e houve um recrudescimento da economia jamais imaginado, pois nesse período de crescimento chegaram à Getúlio Vargas o Armazém Cruzeiro do Sul, Casa Garotti, a Loja de Variedades, a Tela Elétrica da Amazônia, lembrando que a primeira sauna de Imperatriz também estava localizada na Getúlio Vargas.
Como registro histórico, foi a Loja de Variedades a primeira empresa de Imperatriz a ter seus serviços informatizados, com o trabalho sendo levado a efeito pelo gerente daquela época, senhor Raimundo Guerra. A segunda a ser informatizada foi a Tela Elétrica da Amazônica e a Imperatriz de hoje, seguindo esse princípio de modernização, pode até dizer que é uma cidade completamente informatizada e que tudo começou na sua "espinha dorsal", a Avenida Getúlio Vargas.
(A matéria de hoje é dedicada aos notáveis Antonio Januário Sobrinho e Gilberto Francisco de Souza)
Publicado em Cidade na Edição Nº 14569
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