Por analogia, a história de Imperatriz poderia ser dividida em dois principais períodos, sendo o primeiro o século XIX e o segundo o século XX, quando então a antiga povoação fundada por frei Manoel Procópio foi elevada à categoria de cidade. Ainda assim, pode-se afirmar que a história cultural pouco ou quase nada mudou, haja vista que Imperatriz, embora tenha alguns casarões antigos, não passa pelo crivo do "tombamento histórico", e eles continuam sendo demolidos sem que as autoridades do Município assumam a responsabilidade de preservá-los, assim como compete ao poder público - Câmara e Prefeitura - a criação e instalação de um museu histórico e geográfico. Em síntese, é ratificar a concepção de que os valores históricos e culturais continuam sendo estuprados e a cidade continua perdendo a sua identidade e a memória daqueles que a construíram e transformaram na Imperatriz de hoje, do século XXI.

Continuação do histórico da
rua XV de Novembro

Wilton Alves - Pouco antes da virada do século XIX, alguns estabelecimentos comerciais se destacavam no povoado, as conhecidas "vendas" da época, onde não podiam faltar o querosene e a banha de porco, embora outros e indispensáveis produtos estivessem presentes, notadamente gêneros alimentícios, de limpeza (higiene), vestuários e algumas ferragens (ferramentas), e já começavam, em algumas delas, a comercialização de medicamentos.
Entre os principais comerciantes da época, destacavam-se Guilherme Cortez, Caboclo Cavalcante, Alfredo Rocha e Simplício Moreira, além de outras vendas de menor porte e importância, mas que contribuíram de forma decisiva para o desenvolvimento econômico e social da povoação, agora denominada de Vila Nova da Imperatriz, desde 05 de dezembro de 1862.
Embora a virada do século não trouxesse grandes novidades, serviu para demonstrar, em toda a história da cidade, que o processo migratório seria o grande marco para o seu progresso e desenvolvimento, pois somente a partir dos anos 50 é que Imperatriz alcançaria a projeção que lhe é peculiar em relação ao interior do Estado, pois nesse período a geografia maranhense, além da capital São Luís, em sua região sul apenas Grajaú, Barra do Corda e Carolina se destacavam em importância comercial com fomento a educação e cultura.

Migração

No início do século XX teve grande importância um dos principais fluxos migratórios na antiga Vila Nova da Imperatriz, chegando a essas paragens do Tocantins inúmeras famílias, que somando às existentes, deram um avanço extraordinário à povoação. Entre as famílias desse período, destacam-se os Nogueira, Cortez, Moreira e Milhomem.
Marcelino de Paula Cortez foi um deles, incentivado nessa mudança o já cidadão local Emiliano Herênio. Marcelino Cortez morava no local denominado de Repartição (um pequeno vilarejo situado em terras do atual município de Ribamar Fiquene, a mais de 10 quilômetros de distância da margem direita da atual rodovia Belém-Brasília, e que hoje não existe mais), deixando posteriormente seu comércio sob a responsabilidade de seu filho Guilherme Cortez, um dos pioneiros no ramo farmacêutico, ao lado de Raimundo Nogueira de Souza, que chegou à Vila em 1913, e depois de outras atividades comerciais, dedicou-se também ao mesmo ramo, sendo uma espécie de "médico" para a população que ainda não contava com nenhum profissional da medicina. No entanto, para registro histórico, pode-se afirmar que eles foram os primeiros a desenvolver essa atividade farmacêutica na Vila.
Em razão do crescimento vegetativo, em especial considerando o fluxo migratório, outras atividades vieram somar aos benefícios públicos já existentes, como uma Prefeitura, em que o executivo era desempenhado pelo presidente da Câmara. Ainda assim, os primeiros anos do século XX, mesmo promissores, não significavam grandes mudanças, até que a Vila foi elevada à categoria de cidade pelo Decreto 1.159 de 22 de abril de 1924, pelo então presidente do Estado do Maranhão, Godofredo Mendes Vianna.

Energia elétrica

À medida do crescimento urbano e populacional, cresciam e se tornavam mais exigentes os anseios daquela sociedade. Um dos principais reclamos era a falta de energia elétrica, que somente aconteceu no ano de 1952 com um gerador instalado no antigo prédio da Prefeitura, mas que tinha horários limitados de funcionamento. Outro benefício, bem mais antigo, foi a instalação do Telégrafo Federal (agência de correios), que em 1922 passou a ser chefiada pelo senhor Raimundo Nogueira de Souza, que ficou até 1939.
Outro fator relevante foi a construção do primeiro "campo de pouso" em Imperatriz para atender às necessidades do Correio Aéreo Nacional. Este campo de pouso foi construído em uma área atrás de onde hoje está localizado o Hospital da Unimed. Já estavam também em pleno funcionamento uma delegacia de polícia e cartórios de registro. Também, mas sem comprovação documental, porém de acordo com remanescentes de famílias tradicionais, a primeira pensão localizada na XV de Novembro pertencia ao senhor José Camilo, pioneiro em hospedagem na cidade, e posteriormente a mais famosa da rua, a pensão da Dolores, que por uma noite hospedou o médico e guerrilheiro Ernesto "Che" Guevara.

Evolução

Nos últimos anos da década de 50, pode-se afirmar que Imperatriz conheceu e estava demonstrando toda a sua potencialidade em relação aos anos vindouros. A cidade já contava com uma de suas primeiras indústrias na XV de Novembro, uma usina processadora de castanha do babaçu (esquina da atual rua Gonçalves Dias), de propriedade do senhor Hélio, um empresário de Carolina; somando-se à Casa de Saúde São Vicente Ferrer, assim como à Fundação SESP, passou a funcionar, em uma casa alugada de propriedade do "seu" Nogueira, o Hospital Santa Teresa (esquina da atual rua Magalhães de Almeida), de propriedade dos médicos Carlos Gomes de Amorim e Ovídio Raposo.
Ainda nesse aspecto da evolução, ressalte-se que Imperatriz, que durante anos viu juízes despachando em cartórios, passou a contar também com a instalação do FÓRUM, em uma casa que havia pertencido ao senhor Elias Bastos e onde funcionou o antigo cartório do escrivão Antenor Bastos, que era filho do proprietário do imóvel.
Dois outros importantes fatos ainda marcaram a XV de Novembro: a construção da primeira igreja católica, a de Santa Teresa d'Ávila, e o primeiro templo da Assembleia de Deus, sendo que o primeiro culto foi realizado na residência da senhora conhecida como Irmã Bilú Bandeira, ministrado pelo pastor Plínio Carvalho.
Para o senhor Juvenal Dias Barros, um dos antigos moradores da XV de Novembro e que forneceu importantes informações para esta matéria, mais dois fatos relevantes não podem ficar omissos: a construção do primeiro mercado na cidade, o Bom Jesus, e a morte do prefeito Urbano Rocha, morto em uma troca de tiros com a polícia ocorrida também na XV de Novembro. (A matéria de hoje é dedicada aos notáveis pioneiros de Imperatriz, José Lopes e dr. Ubirajara Pereira)