Apesar do isolamento geográfico em razão da ausência de estradas, das distâncias e da falta de energia elétrica, quem ousaria dizer que o crescimento e desenvolvimento de Imperatriz eram apenas obra do acaso? Poderia alguém afirmar que a cidade era fruto de uma circunstância, de uma predestinação qualquer? Ao mesmo tempo, alguém poderia imaginar, nas décadas de 50 e 60, a Imperatriz de hoje? Em todos os casos, a resposta poderia ser, em princípio, apenas um sonoro não, mas também haveria sempre a dúvida em relação a um sim. Há ainda uma terceira opção que poderia ser considerada um sofisma, ou ainda um paradigma, ao se imaginar um entrelaçamento de todas essas referências, uma vez que historicamente todos os casos passam a fazer parte da própria história da cidade, senão vejamos: em todos os tempos havia os céticos, mas sempre estiveram presentes os pioneiros, aquelas pessoas que acreditaram e continuam acreditando nas potencialidades sociais, políticas e empresariais da cidade. Muitas dessas pessoas são anônimas, esquecidas em qualquer canto da própria história, e muitas outras aí estão com seus nomes em ruas, avenidas e praças de Imperatriz. E é assim que se faz, que se escreve uma verdadeira história.

Wilton Alves

Embora Imperatriz fosse constituída de apenas três ruas e o início de algumas travessas que também se transformariam em ruas, até meados dos anos 50, mesmo para os mais otimistas, era difícil acreditar que a cidade fosse desenvolver tanto, e acima de tudo, continuar atraindo novos migrantes, e com eles os novos investimentos que haveriam de consolidar os aspectos econômicos da "nova" cidade.
As ruas XV de Novembro (rua de Dentro), Coronel Manoel Bandeira (do Meio) e Godofredo Viana (de Fora), mantinham a identidade e característica de Imperatriz como pólo de desenvolvimento de toda a Região Tocantina. Os políticos locais tinham consciência do desafio e sabiam que era preciso avançar no tempo e no espaço se quisessem construir uma grande cidade, e também que aqueles novos migrantes que chegavam, precisavam acreditar nessas ideias, e para isso, era importante ajudá-los, incentivá-los a investir e tornar a economia da cidade cada vez mais forte.

Pioneirismo corajoso

Ainda não existia a Rua Simplício Moreira, a quarta em relação à Rua XV de Novembro, quando nos primeiros anos da década de 50 chega a Imperatriz o senhor João de Brito Lira, nascido em Cajazeiras, na Paraíba, que lhe rendeu ficar conhecido por João Paraibano.
Intrépido como a maioria dos migrantes que chegavam a Imperatriz, João Paraibano tinha a vista aguçada, capaz de ver à frente do seu tempo. Foi assim que ele adquiriu um imenso terreno onde hoje existe a esquina da Rua Simplício Moreira com a Rua Bom Futuro, para ali construir sua residência e sua loja comercial, um dos maiores investimentos que a cidade daquele período conheceu, a Casa Paraibana.
Não havia rua onde estava localizado o terreno, mas isso não intimidou João Paraibano, que contratou homens e mandou roçar tudo até onde hoje está localizada a Avenida Dorgival Pinheiro. Muitos fizeram deboche da iniciativa, "porque somente um doido construiria sua casa e seu comércio no meio do mato". João Paraibano sorriu, pois tinha a consciência de que Imperatriz iria crescer, e ele cresceria junto com ela e acabaria atraindo outros pioneiros à sua iniciativa.
Por volta de 1955, Simplício Moreira que havia assumido a Prefeitura em razão da tragédia que ceifou a vida de Urbano Rocha, de quem era vice, esperou a rua ser "roçada" e então determinou que ela fosse definitivamente aberta pela própria Prefeitura. João Paraibano construiu sua residência e inaugurou a Casa Paraibana, a maior da cidade, mas já não estava sozinho nessa empreitada. Não seria o único morador e nem a Casa Paraibana o único ponto de referência da rua.
A AICEB - Aliança das Igrejas Cristãs Evangélicas do Brasil, que havia iniciado seus trabalhos em uma casa alugada na Rua XV de Novembro, tendo à frente três missionários, que ao retornarem à igreja de origem, transferem a responsabilidade da congregação ao obreiro Tenente-PM Pereira (avô do pastor Raul Cavalcante Batista), que também por volta de 1955, adquire um terreno na nova rua e começa então a construir o primeiro templo da AICEB na cidade, tornando-se também uma nova referência. (o primeiro templo na Simplício Moreira foi iniciado pelo pastor Domingos Costa, que o viu ruir completamente após intenso temporal havia se abatido sobre a cidade. A reconstrução do templo teve a iniciativa do pastor Olívio Alencar com o apoio do irmão Lucas Carneiro. A conclusão do templo foi efetivada pelo pastor Josué Santos).
A partir de João Paraibano, outra família "tradicional" da cidade se transfere para a nova rua, a família do senhor Djalma Marinho, cujo filho Leônidas Marinho, hoje com 77 anos, ainda reside na mesma rua. Em 1963, quem constrói sua residência e se transfere para a Simplício Moreira é o senhor Mário Brandão, que ali cria seus filhos e dá uma imensa contribuição ao progresso e desenvolvimento da cidade, ao abrir ali também um novo ponto comercial, depois de muito trabalho, inclusive como motorista de caminhão.

Simplício Moreira

Simplício Alves Moreira - que dá nome à rua - era natural de Grajaú, onde nasceu no dia 2 de março de 1897, tendo vindo para a Vila Nova da Imperatriz aos 2 anos de idade, em 1899, trazido pelos pais Felinto Alves da Costa e Maria Alves Moreira. A vida escolar não passou de seis meses, estudando com o professor Manoel Bandeira, e aí se revelando um autodidata de primeira linha.
Das lides no campo e nos castanhais do Pará, Simplício Moreira após a morte prematura do pai, percebeu sua vocação também o comércio, inaugurando sua primeira casa comercial após experiências como "caixeiro viajante". Com a experiência adquirida, sentiu em suas reflexões que em seu íntimo pulsava também a vocação política. Assim, aos 51 anos de idade, chega à Prefeitura de Imperatriz para um mandato entre 1948 e 1950, implementando os mais ousados projetos que certamente contribuíram para o desenvolvimento da cidade.
No entanto, foi em seu segundo mandato, depois de ser eleito como vice prefeito em 1950, e em razão da morte do titular, Urbano Santos, no dia 19 de junho de 1953, que Simplício Moreira conseguiu dar a Imperatriz uma projeção jamais imaginada, como a demarcação do primeiro "campo de pouso" que possibilitou à cidade receber vôos comerciais e de passageiros, e principalmente a doação de uma área para a construção da Matriz de Fátima, entre muitos outros benefícios conseguidos, e o seu apoio decisivo para que a cidade continuasse crescendo e se constituindo verdadeiramente como pólo de desenvolvimento de toda a Região Tocantina, e sobremaneira demonstrando mais uma vez que era preciso motivar o cada vez mais expressivo processo migratório, que indiscutivelmente está ligado ao progresso e desenvolvimento da cidade, porque também ele, Simplício Moreira, era filho de uma geração de migrantes entre as mais importantes na história de Imperatriz.

Desenvolvimento urbano

Ao contrário do que se imaginava, considerando-se que na Rua Simplício Moreira estava localizada a maior e mais importante casa comercial nos anos 50, o coração financeiro da cidade continuou nas ruas Manoel Bandeira e Godofredo Viana. Contudo, a importância da nova rua deveu-se a um novo fator: o desenvolvimento urbano. Exatamente após 1955, a Rua Simplício Moreira transformou-se na grande opção residencial de Imperatriz, considerando-se apenas o trecho que começava na esquina da atual Rua Bom Futuro e ia até a atual Rua Dorgival Pinheiro.
Outra grande contribuição de Simplício Moreira foi não somente o surgimento de novas travessas, mas principalmente a garantia de edificação de inúmeras outras residências, o que significa afirmar, que a população da cidade aumentava sistematicamente e passava a exigir novos investimentos em todos os setores da comunidade, decorrendo daí nos anos seguintes com a evolução da Rua Simplício Moreira como alternativa do crescimento urbano, mas também pela instalação das mais importantes instituições públicas da cidade. (a matéria de hoje é dedicada aos notáveis Oscar Aquino e Dema de Oliveira)