Ao longo do tempo, a partir do traçado das ruas e avenidas da cidade elaborado por Mundico Barros, as muitas travessas existentes que surgiram em decorrência das quatro primeiras artérias da cidade, a pressa e a necessidade vislumbradas pelo ex-prefeito com a perspectiva quase que imediata da Belém-Brasília passando por Imperatriz, mesmo sem as condições adequadas de infraestrutura, as ruas foram sendo abertas e, mais uma vez, alguns setores foram os responsáveis pela cidade de hoje, destacando-se a cada vez mais expressiva "corrida" migratória, a necessidade de novo mercado econômico e fundamentalmente a construção civil como agente de crescimento urbano e valorização imobiliária que os céticos denominavam de "construções no meio do mato" e de ruas que "não iam a lugar nenhum", porque elas jamais seriam povoadas, muitos menos com novas residências e estabelecimentos comerciais. Até poderia ter sido assim se as travessas existentes e as novas que foram abertas não chegassem até a BR-010, assim como as ruas transversais que projetaram uma cidade com características e modelo de uma autêntica "capital econômica" de toda a região, e principalmente porque Imperatriz já era de fato e de direito o verdadeiro "Portal da Amazônia" e, como consequência, tornando irreversíveis o seu progresso e desenvolvimento.
Wilton Alves
Em meados da década de 30, a Rua XV de Novembro começou a crescer no sentido rio acima até alcançar um grande descampado onde hoje se localiza a Praça da União. Foi a partir dali, em meados dos anos 60, que Mundico Barros projetou uma das mais importantes ruas de Imperatriz, a Benedito Leite, que também precisava chegar até a BR-010 para completar a "planta" do futuro centro da cidade e possibilitar o seu desenvolvimento em todas as direções.
No início havia apenas a rua. Nenhum morador, nenhum estabelecimento comercial. Era difícil acreditar que naquela região, subindo em direção à BR, tomada por um imenso brejo, fosse possível construir alguma coisa, mesmo porque durante a estação das chuvas, que durava cerca de nove meses, inundava-se tudo... Mas era preciso arriscar, era preciso acreditar para que novos migrantes também acreditassem e arriscassem a fazer ali os seus investimentos.
Timidamente, a Benedito Leite começou a esboçar uma reação contra as intempéries da natureza, mas não a partir da atual Rua D. Pedro I, mas da emergente Rua Godofredo Viana, que também avançava no sentido do atual bairro do Bacuri.
Pouco tempo depois, a Benedito Leite, no trecho compreendido entre as ruas Piauí e Rio Grande do Norte, dava mostras de que os migrantes e a população local haviam acreditado no visionário Mundico Barros. Apesar das chuvas, dos brejos e da lama, começou a florescer a feira hoje conhecida regionalmente como "feirinha da Benedito Leite". Além disso, lá estava a construção civil diante de uma demanda cada vez maior, fazendo surgir novas residências e novos estabelecimentos comerciais.
Mercadinho
Quando assumiu a Prefeitura na década de 70, o médico Carlos Gomes de Amorim, para solucionar, ou pelo menos amenizar os problemas com a "feirinha", que não parava de crescer e com isso trazendo mais problemas de lixo e de saúde pública, constrói o "Mercado Vicente Fitz", para a época, um grande mercado para a cidade emergente, mas que em pouco tempo se tornou pequeno em razão de uma demanda cada vez maior, porque é nesse período que surgem os primeiros e mais importantes granjeiros da cidade, e o ponto de comercialização era exatamente a feirinha.
Contudo, e apesar das dificuldades e falta de serviços públicos, tão difíceis de ser realizados naqueles iniciais anos da década de 70, o comércio da Benedito Leite foi testemunha do crescimento e povoamento, seguido de valorização imobiliária, das ruas transversais que também sofriam o mesmo impacto e fenômeno de uma cidade que crescia tão rapidamente e sem precedentes históricas em toda a região. Ao mesmo tempo em que recrudescia a atividade econômica a partir do comércio, a prestação de serviços consolidava Imperatriz como a maior e melhor alternativa para investimentos, pois a demanda nessa área envolvia dezenas de atividades profissionais.
A evolução da cidade já no final dos anos 70, em especial com a administração do prefeito Carlos Amorim, tornou possível superar obstáculos considerados impossíveis pelos céticos, sobretudo quando o assunto era infraestrutura e urbanização. Mesmo com dificuldades, era possível perceber que a imagem da cidade estava mudando, pois o maior benefício dos anos 70 foi o asfaltamento de importantes ruas e avenidas, o que certamente deu novo impulso ao comércio e à edificação de novas residências, assim como locais adequados à prestação de serviços. Imperatriz era a cidade que aceitava desafios e sabia como vencê-los. A sua predestinação, fruto de visionários que sempre acreditaram em suas potencialidades desde o início de sua história, deu mostras de que foi acreditando e arriscando que a cidade conseguiu superar todas as adversidades e consolidou-se como a "Imperatriz do Tocantins".
Benedito Leite
Embora a rua seja uma das mais conhecidas de Imperatriz, o maranhense que lhe empresta o nome é praticamente um ilustre desconhecido da sociedade, mesmo porque não há na cidade um museu geográfico e histórico, o que resulta na ausência de fontes de informação e a consequente falta de material a ser pesquisado. O fenômeno se repete praticamente em todos os casos da história de Imperatriz, onde se nota também que as referências de nomes de cidades, estados ou datas importantes foram omitidas nesse contexto.
Benedito Pereira Leite nasceu na cidade maranhense de Rosário no ano de 1857. Filho de família importante na época, não demorou muito para transferir residência para São Luís em razão dos estudos secundários, que após ser concluídos, levaram o jovem, como a maioria das famílias influentes e economicamente destacadas, a fazer o curso de Direito em Recife (PE), tendo concluído a faculdade na turma de 1882, e em seguida, após participar de movimentos universitários e políticos na capital pernambucana, retorna a São Luís, onde a classe política era dividida em apenas dois segmentos: monarquistas e republicanos.
Para sustentar posição e garantir projeção, chegou a fundar um partido político e aglutinar forças, o que resultou em sua eleição, em 1892, para deputado federal, e em seguida, em 1896, para o senado da república. Ao término desse mandado, em 1906, é eleito governador do Estado, cujo mandato foi de 1º de março de 1906 a 25 de maio de 1909, morrendo pouco tempo depois de haver concluído o seu mandato, ressaltando ainda que em 1891 ele fez parte da junta governativa do Maranhão.
Superando desafios
Em síntese, a Rua Benedito Leite é mais um exemplo de capacidade demonstrada por Imperatriz na superação de dificuldades, desafios e adversidades. É também a demonstração inequívoca de que Mundico Barros estava certo quanto às transformações que ocorreriam em razão da Belém-Brasília: a cidade cresceu em todos os sentidos e direções, em um tempo tão curto que era impossível imaginar a Imperatriz de hoje.
Superar desafios é também um divisor de tempo na história de Imperatriz em relação ao antes e o depois da BR-010, assim como, no mesmo período do depois, a influência da "febre" chamada Serra Pelada, nos anos 80, que deixou a cidade à beira da falência, o que se constituiu no maior desafio de superação de sua história; para continuar crescendo, progredindo e desenvolvendo, foi a chegada da energia elétrica. (A matéria de hoje é dedicada à memória dos notáveis Gilmário Café e Luís Brasília.) O histórico da Rua Benedito Leite continua na próxima edição - a Rua Benedito Leite de hoje.
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