Não resta a menor dúvida de que Mundico Barros, ao assumir a Prefeitura de Imperatriz, estava vislumbrando além do seu tempo o que seria a cidade do futuro. Não é sem razão, também, que ao fazer o traçado de ruas e avenidas com o nome de estados brasileiros, estaria prestando uma homenagem aos migrantes que acreditaram nas potencialidades e oportunidades que seriam criadas para o progresso e desenvolvimento do "Portal da Amazônia" para as gerações vindouras. Mundico Barros tinha a consciência dos visionários e ousados pioneiros alicerçados na força do trabalho. Sabia que em pouco tempo, a partir da Transbrasiliana, que o seu projeto de integração da cidade estaria concluído. Contudo é preciso lembrar que essa visão de forma alguma anula o trabalho pioneiro de seus antecessores e contemporâneos para que Imperatriz superasse o tempo e espaço de sua trajetória histórica, porque exatamente nesse contexto se registra a presença marcante do processo migratório, verdadeiramente o responsável pela construção da cidade como hoje é conhecida, sem anular, também, os imigrantes que aqui chegaram e deram imensurável contribuição a todos os setores que norteiam o crescimento social e econômico do município.
Wilton Alves
De forma clara e insofismável, há uma equivalência de valores quando se presta um tributo aos migrantes de todos os estados brasileiros na formação de Imperatriz. Daí a concepção de Mundico Barros em optar por uma ordenação geográfica para indicar o nome de cada rua projetada e aberta, visto que a importância de todas elas também se equivale. A primeira rua, após a escolha de nomes notáveis para as primeiras ruas da cidade antiga, é a Rua Amazonas, cujo histórico é tão fascinante como as demais.
No final dos anos 60, a Rua Amazonas não passava de um prolongamento da Lagoa do Murici, mas não era impedimento para que investimentos fossem feitos, pois a visão era de que um trabalho de infraestrutura não passava de uma questão de tempo, o que certamente haveria de contribuir com o surgimento de novos empreendimentos comerciais e prestação de serviços. Essa determinação dos moradores de Imperatriz, em poucos anos (menos de uma década), demonstrou o quanto a cidade haveria de crescer, e fundamentalmente que as oportunidades continuariam surgindo e criando condições para novos investimentos, em especial na área da construção civil, indispensável para novos pontos comerciais e novas residências, agora com mais e melhor planejamento, sem os casebres e casas de taboas existentes em seus primeiros dias. A periferia de Imperatriz estava cada vez mais longe do antigo centro da cidade.
Valorização imobiliária
No decorrer da década de 70, até meados da década de 80, Imperatriz passou por transformações inigualáveis, e a Rua Amazonas, no seu contexto, contribuiu de maneira extraordinária com o desenvolvimento de uma imensa região sob a sua influência, advindo daí uma nova dinâmica para o setor comercial da cidade, como também na prestação de serviços. O resultado simples é que a influência da Rua Amazonas passou a contribuir, também, com a valorização imobiliária da cidade, e como consequência natural, com o crescimento da construção civil.
Grandes lojas de confecções foram abertas, assim como lojas de sapatos, dinamizando ainda mais um comércio que começava a ser responsável pela geração de emprego e renda na cidade, demonstrando ainda a grande potencialidade econômica que resultou na Imperatriz de expressivos investimentos nas décadas posteriores. No entanto, vale lembrar que entre os pioneiros da Rua Amazonas, estava o senhor Aderson Baiano, que abriu a primeira garagem para estacionamento e guarda de veículos da cidade, além de uma imensurável contribuição com as obras sociais de Imperatriz, além de muitos outros pioneiros da rua.
Fora do contexto
Embora a Rua Amazonas estivesse contribuindo com todos os setores do desenvolvimento econômico e social de Imperatriz, inclusive abrigando a primeira escola de piano da cidade, fora do seu contexto, nela foi instalada uma clínica clandestina de aborto, localizada entre a Avenida Getúlio Vargas e Rua Luís Domingues. Durante um longo período ele esteve a serviço dessa ilegal e criminosa prática, até que uma denúncia anônima feita à Polícia Federal, nessa época com uma delegacia em Estreito, lado do Estado de Goiás, colocasse um fim a essa clínica, inclusive prendendo os responsáveis por ela.
Durante o período de sua existência, centenas de abortos foram realizados ceifando a vida de embriões e fetos, possivelmente frutos de relacionamentos imorais e condenados pela sociedade, conforme relato de antigos moradores daquela região, inclusive ressaltando que "havia uma grande revolta contra essa prática, mas na época não tinham a quem recorrer para impedir essa prática criminosa." De acordo ainda com relatos de moradores antigos, "duas técnicas em enfermagem eram as responsáveis pela clínica, colocando em risco a vida de suas clientes gestantes de filhos indesejáveis."
Amazonas
Em todo o processo migratório que serviu de base para a construção e evolução de Imperatriz, em um primeiro momento aparecem nomes de cidades vizinhas que fazem parte dessa história, como Grajaú, Carolina e Porto Franco, no Maranhão, assim como a antiga Boa Vista, Estado de Goiás, e hoje Tocantinópolis, no Estado do Tocantins, parecem não ter sido lembradas por Mundico Barros, e muito menos pelos vereadores da cidade, em todas as legislaturas, que nunca se posicionaram a favor de tributos a esses municípios, à contribuição que eles deram para o desenvolvimento de Imperatriz.
Pode causar estranheza o fato de estados importantes que mais contribuíram com o progresso migratório, como Goiás e São Paulo, não terem sido lembrados nesse tributo. Outros estados, de igual importância, também não foram lembrados nessa "área central" projetada por Mundico Barros. Pode não ser um prejuízo moral, mas sem dúvida alguma é um prejuízo histórico, porque Imperatriz é o resultado de homens e mulheres vindos de todas as plagas e sempre acreditando nas potencialidades do município, e principalmente nas oportunidades oferecidas para uma sociedade voltada para o trabalho, progresso e desenvolvimento.
Não cabe qualquer julgamento a essa questão, mas é incompreensível que estados como Goiás, São Paulo, Mato Grosso, Santa Catarina, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Paraná ficassem fora desse tributo, e se historicamente exime Mundico Barros, o mesmo não acontece em relação à Câmara Municipal.
Relevante lembrar ainda, que nesse período não existiam os estados do Tocantins, Amapá, Rondônia, Acre, Mato Grosso do Sul e Roraima. (A matéria de hoje é dedicada aos notáveis Abdias Rocha e Gladstone Pimenta).
N.A. - na matéria passada - Rua Souza Lima - o proprietário de bar mais conhecido da Farra Velha não era Dodô, como publicado, mas sim, Godô, como era conhecido o senhor Godofredo.
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