Para a maioria dos pesquisadores da história de Imperatriz, a evolução da cidade se deu em razão de vários ciclos de ordem econômica, começando com o ciclo da borracha, quando Imperatriz ainda não passava de um povoado dando os seus primeiros passos em busca de uma definição para o seu desenvolvimento. Para essa maioria, o segundo ciclo foi o do arroz, quando então grandes fazendas se formaram na região, considerando que a área pertencente ao município, já então emancipado, era de 27.542 km². O terceiro ciclo econômico teria sido o da madeira, oportunidade em que investimentos foram feitos e grandes empresas do setor se instalam na cidade, que em 1979 alcançou o expressivo número de 320 serrarias entre pequenos "engenhos" e grandes empresas, destacando-se na época a Domasa, Cobraice, Sunil, Nacional e Três Pinheiros, todas com seus próprios geradores de energia elétrica. Em seguida, veio a febre do garimpo de Serra Pelada (Pará), que deixou Imperatriz à beira da falência. No entanto, segundo a própria história, a cidade teve dois períodos distintos para a sua evolução em todos os sentidos, sendo o primeiro a Rodovia Transbrasiliana passando próxima à cidade velha, e o segundo o advento da energia elétrica, que de maneira definitiva proporciona a Imperatriz uma economia estável e condições de crescimento ordenado em todos os setores.
Wilton Alves
O histórico da energia elétrica em Imperatriz é algo de extraordinário e parece sair fora da realidade, haja vista que, apesar de todas as adversidades e de desafios imensuráveis, foi ela a grande responsável pela evolução da cidade, desenvolvimento urbano, e principalmente para que Imperatriz se constituísse verdadeiramente no maior e mais importante modelo econômico da região e um dos mais destacados do Maranhão.
As lamparinas a querosene começaram a ser substituídas pela energia elétrica no dia 3 de julho de 1953, quando o prefeito Simplício Moreira colocou em operação um gerador adquirido pelo seu antecessor, Urbano Rocha, que não chegou a testemunhar a sua grande realização em decorrência de sua morte no dia 19 de junho de 1953. Urbano Rocha foi também o responsável pela colocação dos postes de madeira (aroeira) para a instalação da primeira rede de energia elétrica nas três ruas existentes na cidade e poucas travessas até então abertas naquele período.
Este gerador, que estava instalado no prédio da antiga prefeitura na Rua XV de Novembro, funcionou até os primeiros meses de 1960, quando foi enviado pelo prefeito Raimundo de Moraes Barros para ser recuperado na cidade de Marabá (PA), onde literalmente virou um amontoado de ferro velho deixando Imperatriz sem energia elétrica até o mês de novembro de 1971. Foi nesse período que o governo do Maranhão, via Cemar, foi obrigado a reconhecer a importância de Imperatriz e a necessidade de solucionar esse problema.
Assim, no dia 10 de novembro de 1971, desembarcam na cidade, além do diretor da empresa, Josimar Martins, os técnicos José de Ribamar Borges (Pingola), José da Silva Catanhede e Pietro Marino, que sob a supervisão técnica do engenheiro Antonio Bayma Jr., montam e colocam em operação os dois primeiros grandes geradores instalados na BR-010. Nesse período outro setor entra em frenética atividade, que foi a substituição dos antigos postes de madeira na parte velha da cidade por outros de concreto, que também deveriam ser colocados em todas as ruas já abertas para que a rede fosse estendida e interligada com os geradores instalados, que entraram em operação no dia 10 de dezembro de 1971, nos horários restritos das 18 às 24 horas. É importante observar que a logística da implantação da rede era de responsabilidade da Cemar, mas a geração da energia elétrica ficava sob o controle da CHESF - Companhia Hidroelétrica São Francisco.
À medida que a demanda aumentava, novos geradores eram instalados, chegando no final de 1977 a ter 16 geradores em operação, o que não impediu um colapso no fornecimento em 1978, quando a Chesf trouxe de Teresina (PI) mais dois grandes geradores, mas ainda longe de solucionar o problema existente face à demanda que não parava de crescer.
Ninguém acreditou
No final da década de 70, estavam em fase bem adiantada os trabalhos de conclusão das usinas hidroelétricas de Boa Esperança e Tucuruí. Por isso, eram agilizadas as obras de dois linhões que interligariam as duas e o ponto de convergência onde seria instalada a estação rebaixadora seria Imperatriz, que teria pouco tempo para construir sua própria rebaixadora para receber e distribuir energia gerada por hidroelétricas, aposentando de vez os velhos geradores a diesel.
No dia 7 de maio de 1979, quando ninguém acreditava em mais nada quando o assunto era energia elétrica por causa do colapso de 1978, passamos a informação de que o governo federal anteciparia em um ano a chegada da energia em Imperatriz, com o título de que "no próximo ano (1980) Imperatriz teria energia elétrica". Uma rede de conexão já havia sido iniciada partindo da hidroelétrica de Paulo Afonso rumo a Imperatriz, de onde também sairia um linhão com destino a Belém (PA). Esta informação era parte integrante de um relatório confidencial do presidente da Eletrobrás, de que no final de 79 ou início de 80, Imperatriz estaria dotada de energia elétrica.
Na época a fonte foi mantida em sigilo por razões óbvias, mas hoje, 34 anos depois, podemos revelá-la: tratava-se do jornalista Waldin Rosa, que trabalhava na Assessoria de Imprensa da Presidência da República. O sigilo foi a pedido dele, pois o relatório tinha o caráter de "confidencial". Talvez por isso a informação não tivesse sido levada a sério ou não merecesse crédito, pois não faltaram aqueles que a qualificaram de mentirosa e improcedente. A informação era muito boa para ser verdadeira.
Corrida contra o tempo
Antecipar em um ano a chegada da energia elétrica em Imperatriz impunha novas regras e uma corrida contra o tempo a ser vencida pela Cemar, com o desafio de construir uma estação rebaixadora para esse fim.
Mais uma vez o engenheiro Antonio Bayma Jr. retorna a Imperatriz, desta vez como presidente da Cemar, para coordenar os trabalhos de construção e instalação da estação rebaixadora, localizada na atual Avenida Pedro Neiva de Santana. Havia pressa, até mesmo porque a estação rebaixadora da Eletronorte já estava recebendo os primeiros equipamentos e transformadores para a sua montagem final.
Finalmente, depois de 27 anos de espera e do primeiro gerador inaugurado em 1953, Imperatriz teria energia elétrica em abundância, poderia consolidar sua vocação industrial e viabilizar com qualidade a prestação de serviços tão almejada. O fantasma dos "apagões" seria de uma vez por todas afastado do histórico da cidade. Imperatriz poderia sonhar e "aposentar" os geradores que alimentaram seus dois mais importantes ciclos empresariais, o do arroz e da madeira. A indústria e comércio poderiam crescer para se transformar, como de fato se transformou, na Imperatriz de hoje. (Esta matéria é dedicada aos pioneiros da energia elétrica em Imperatriz, José Catanhede da Silva e Pietro Marino)
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