Em 1960 a Belém-Brasília estava concluída e inaugurada pelo presidente Juscelino Kubstcheck de Oliveira. Estava concluído também o traçado das ruas de Imperatriz, e na época a mais importante delas, a BR 14, muito embora não houvesse uma justificativa técnica para explicar uma BR urbana de responsabilidade do município, uma vez que todas as estradas brasileiras com a sigla BR sejam de responsabilidade do governo federal. Para alguns dos moradores mais antigos da cidade e que testemunharam os eventos daquele período, a rua recebeu o nome de BR 14 em homenagem ao Presidente, assim como ao engenheiro Bernardo Sayão, responsáveis pela obra. Testemunhos antigos também relatam que a mudança do trajeto da Belém-Brasília, que deveria passar por Carolina, foi desviada para Imperatriz atendendo solicitação do então prefeito Mundico Barros, que não via trajeto de tão importante rodovia sem passar por sua cidade, e não por razões técnicas (a construção de uma ponte sobre o rio Tocantins, inviável em Carolina e perfeitamente viável em Estreito). O fato é que a estrada foi desviada, e a partir de então, dando a antiga Vila Nova da Imperatriz, a oportunidade e perspectiva de transformar-se no maior, mais influente, dinâmico e de maior capacidade econômica do interior maranhense. Mas é verdade também que Bernardo Sayão, com seus homens, máquinas e equipamentos, foi de vital importância para a abertura da BR 14, que naquela época onde não era um imenso areal, era constituída pela conhecida lagoa da Covap e um imenso brejo que desafiava a presença do homem para que a rua fosse de fato aberta.
Wilton Alves - Quem ousaria acreditar que naqueles idos da segunda metade da década de 50, que uma pequena travessa que ia da Rua XV de Novembro à Godofredo Viana, viria a ser uma das maiores referências do progresso e desenvolvimento de Imperatriz? Para a maioria, o nome da travessa se perdeu ao longo do tempo, mas para outros, o remanescente daqueles pioneiros que acreditaram nas potencialidades da nova rua, a travessa era conhecida como Duque de Caxias, mas não há um registro histórico sobre isso, porque a sociedade representada pelos políticos não tinha essa preocupação. Assim a Travessa Duque de Caxias, com o traçado elaborado por Mundico Barros, a partir da Rua Godofredo Viana, em sentido Entroncamento, viria a ser a BR 14.
Para os céticos, uma rua larga e no meio do brejo, de alagadiços imensos no período das chuvas, era uma utopia supor que em algum dia a BR 14 pudesse dar tanta importância à cidade. Mesmo assim, com tantos problemas à vista, a BR 14 começou a se desenvolver, a crescer buscando seu encontro com a Transbrasiliana. Nessa época, as primeiras residências, assim como as primeiras casas comerciais, estavam sujeitas ao tempo e à capacidade da população em vencer todos os obstáculos existentes.
Para os moradores mais antigos, a década de 70 foi prodigiosa em relação à BR 14, principalmente após a morte de Dorgival Pinheiro de Souza, em 1971, e pouco tempo depois, por decisão da Câmara de Vereadores e Lei sancionada pelo Prefeito, ela passou a ser denominada de Rua Dorgival Pinheiro de Souza, vice prefeito que havia sido assassinado, emprestando seu nome à BR 14.
Nessa época, antes de findar os anos 70, a rua já havia alcançado a Transbrasiliana, e mais que isso, havia superado todos os obstáculos existentes e se consolidava como a grande alternativa para o desenvolvimento de Imperatriz, inclusive vencendo velhos problemas de ordem política, como o funcionamento da Câmara Municipal em uma sala da própria Prefeitura, quando ainda estava localizada na atual Praça da Cultura, que foi o segundo endereço do legislativo municipal, que em seus primeiros dias também esteve em uma sala da Prefeitura quando ela estava na Rua XV de Novembro.
Herança da BR 14 - Se por um lado a situação da BR 14 era atípica em razão dos acidentes geográficos - lagoa, brejo e areal - não é menos verdade que esses acidentes pareciam estimular a garra daqueles que investiram em Imperatriz e de novos migrantes que passaram a atuar nos mais diversos setores da economia e prestação de serviços. Por outro, se era preciso acreditar, alguns políticos acreditaram tanto que chegaram a "desmembrar" a Câmara Municipal da Prefeitura, transferindo-a para uma casa localizada na BR 14 que era de propriedade do senhor Leôncio Pires Dourado, até que ela fosse novamente transferida para a atual Praça da Cultura, onde funcionou o antigo Cine Muiraquitã.
A Câmara Municipal foi instalada na esquina da Rua Rio Grande do Norte com frente para a BR 14. Quando ela retornou à Praça Castelo Branco, atual Praça da Cultura, o imóvel foi cedido para uma Loja Maçônica da cidade. Esse trabalho foi realizado pelo vereador e presidente da casa, Leôncio Pires Dourado, eleito em 1967 e reeleito em 1970 para um mandato tampão de dois anos. Foi nesse período que ele foi eleito presidente da Casa.
Muito relevante ainda para a história da BR 14, aconteceu em 1968, quando foi criada a TELIMSA - Telefônica Imperatriz S.A., que foi devidamente organizada como empresa no dia 30 de agosto do mesmo ano. À frente dos trabalhos técnicos estava Francisco R. da Silva, da firma COTEC. Concluída a parte técnica, foram instalados 138 aparelhos telefônicos na cidade, na sua forma mais primitiva: um PBX que completava a ligação por meio de GIGAS, mas era um avanço para as comunicações em Imperatriz naquela época que dependia apenas dos Correios e Telégrafos para qualquer comunicação fora da cidade, que no sistema da TELIMSA não era possível realizar um interurbano.
A TELIMSA era constituída, como empresa, por 89 ações, sendo a maioria de propriedade da Prefeitura. Na fachada da sede da empresa havia apenas uma sigla: CTI, que abreviava o nome fantasia de Companhia Telefônica de Imperatriz. Seu presidente era o empresário Pedro Américo de Sales Gomes.
Quanto a Agência dos Correios e Telégrafos, que foi inicialmente instalada na Rua XV de Novembro desde 1885, tendo à frente o agente Tibúrcio Paz de Brito, com o telégrafo entrando em operação em 1912, inaugurado pelo engenheiro Falcow e como primeiro funcionário o jovem Antonio Gonçalves de Moraes.
A nova Agência, na atual Dorgival Pinheiro de Souza, até os dias de hoje, funciona com modernidade e teve desmembramentos com a criação de novos postos de atendimento para suportar uma demanda crescente e das mais expressivas do Maranhão.
Dorgival Pinheiro de Souza - A situação política de Imperatriz, ainda que fosse uma cidade emergente na metade da década de 60, conseguia exercer grande influência na região, pois políticos de oposição após o golpe militar de 64, eram vistos de maneira equivocada, como verdadeiros inimigos da pátria, e entre eles o jovem Dorgival Pinheiro de Souza.
As reuniões mais importantes eram realizadas em sua máquina de beneficiar arroz, na Getúlio Vargas, enquanto que o maior comício tenha sido realizado às suas portas, onde estavam várias lideranças de oposição, como João Menezes e muitos outros.
Dorgival Pinheiro de Souza, além de ser um líder político nato, deu imensurável contribuição ao desenvolvimento de Imperatriz, como empresário e um dos mais importantes pilares para a fundação da Associação Comercial de Imperatriz.
Natural do Piauí, onde nasceu no dia 9 de novembro de 1939, e com apenas 32 anos de vida, a maioria dedicados à cidade, morreu assassinado no dia 12 de novembro de 1971, e ainda hoje a motivação de sua morte não foi devidamente esclarecida, já que os mais antigos moradores dão três versões como móvel do crime: passionalidade, crime político e de motivação financeira. A única coisa bem clara, seja lá qual for a motivação, é que foi um "crime de encomenda".
Mais que superação - Prolongar-se até alcançar a Transbrasiliana para uma cidade emergente era pouco para a BR 14, que já despontava como Rua Dorgival Pinheiro de Souza a partir de 1972, porque nos idos das décadas de 60 e 70; era preciso investimentos, estimular um crescimento ordenado e gerar oportunidades em especial no mercado de trabalho. Em sendo assim, na esquina com a Rua Rio de Janeiro, foi construído o terceiro mercado da cidade, um elo de ligação do centro com a região que passou a ser conhecida como Entroncamento.
Em pouco tempo Imperatriz passou a conhecer também os investimentos públicos, como o Hospital Otávio Passos e o apoio da administração municipal para atrair novos migrantes e acentuar ainda mais as atividades da construção civil. Os novos investimentos, cada vez mais expressivos, refletiam novas necessidades na prestação de serviços. Em 1967, o migrante pioneiro Francisco Soares Filho, abre as portas de sua Farmácia dos Bons Remédios.
Os desafios continuavam sendo superados apesar das adversidades, e em 1980 é inaugurada a fábrica de refrigerantes River, em uma demonstração de que a área econômica do município estava em franco desenvolvimento.
Um fato interessante para a BR 14 foi a participação da Rodobrás, que construiu um "bueiro" na Lagoa do Murici e piçarrou os pontos mais críticos daquela região, a começar pela Avenida Getúlio Vargas, a primeira a ser traçada, aberta, destacada e loteada por Mundico Barros. - a matéria de hoje é dedicada aos notáveis médicos Augusto Boado de Queiroga e Ovídio Raposo. (continua na próxima edição)
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