Raimundo Primeiro (*)
Em entrevista exclusiva ao “Repórter nos Bairros”, programa veiculado pela TV Anajás (Canal 16), retransmissora do sinal da Rede Vida em Imperatriz, edições exibidas na Sexta-Feira da Paixão, às 12h30 e às 15h, respectivamente, o bispo da Diocese de Imperatriz, dom Gilberto Pastana, destacou ser imprescindível que, durante o período da Páscoa, os cristãos reflitam, rezem e não se esqueçam de que todos são filhos de Deus. “Deus valoriza tudo aquilo que ele cria”, afirmou.
Ao falar sobre a mídia, dom Gilberto foi categórico: “Estão comercializando a Páscoa, a exemplo do que já fizeram com o Natal”, frisando que o comércio deveria mudar um pouco o foco quando fosse promover campanhas promocionais que visam o aumento das vendas durante os dias que antecedem a Páscoa. Para ele, os assuntos relacionados à preservação do meio ambiente também estão distantes de muitas pessoas.
O bispo também falou sobre a programação de Quinta-feira Santa, na Catedral Nossa Senhora de Fátima, começando os momentos de reflexões. Depois, houve a missa dos Santos Óleos, quando foram abençoados os santos óleos dos catecúmenos e dos enfermos e consagrado o santo crisma e os presbíteros renovaram, diante de dom Gilberto, suas promessas sacerdotais.
Dom Gilberto informou que nos dias 15 e 16 de abril a réplica da cruz peregrina da Jornada Mundial da Juventude, que vai acontecer em 2013, no Rio de Janeiro, percorrerá as paróquias de Imperatriz. A cruz já chegou à Catedral Nossa Senhora de Fátima. O objetivo, segundo o religioso, é levar uma grande caravana de jovens para o evento, ano que vem.
A seguir, confira outros trechos da entrevista com dom Gilberto Pastana.
O Progresso – O que é a Semana Santa e qual a sua simbologia?
Dom Gilberto – Tudo bem, comecemos, então, pela importância da Semana Santa. Claro que todos os dias eles são santificados, enquanto criaturas obras de Deus. E assim, nós devemos viver, como originados em Deus. Mas a Semana Santa, especificamente, quer recordar os acontecimentos que culminaram com a entrega, a traição, a prisão, a flagelação, a crucificação, a morte e a ressurreição de Jesus. Portanto, são dias considerados porque nós temos essa possibilidade de refletir na nossa vida a luz daquele que é o autor, o senhor da nossa vida, o nosso Deus.
A Semana Santa começa sempre no Domingo de Ramos, dia em que Jesus entra triunfalmente em Jerusalém, mas essa triunfalidade de Jesus é para mostrar que o reino Dele é o reino da humildade. Por isso, que Ele entra em cima de um jumentinho. Quando Ele pede o jumento, Ele diz: ‘quando perguntarem pra que? Digam que o Senhor precisa dele’.
Veja como Deus valoriza tudo aquilo que ele cria. Tudo aquilo que foi criado pelo Senhor é de importância capital pra Ele. Por meio do jumentinho que Jesus entrou triunfal em Jerusalém e o povo clama: ‘Hosana, filho de Davi, bendito aquele que vem em nome do Senhor, viva o Rei, viva o filho de Davi!’. Talvez, esse povo não tivesse a concepção, como hoje muitos não têm a concepção do reinado, do significado do reinado de Jesus. É um reino de justiça, de fraternidade e de paz. Não é um reino comparado com o reino desse nosso. Por isso, esse mesmo povo que grita viva o filho de Davi, cinco dias depois, gritará crucifica-o, crucifica-o; é o mesmo povo. O que mudou? Mudou a concepção que esse povo tinha do reinado, mudou a concepção de Messias que eles esperavam.
Então, a Semana Santa começa com o Domingo de Ramos. Depois, a gente tem esses três grandes dias, que a gente chama de Tríduo Pascal, começa com a Quinta-feira Santa, que é o Dia em que Jesus institui a Eucaristia. Instituindo a Eucaristia, Ele complementa a Páscoa dos Judeus, fazendo nascer assim a Páscoa dos dias cristãos. Em relação à segunda pergunta: o que é a Páscoa? A Páscoa é a passagem, a passagem de uma vida de escravidão para uma vida de libertação; ainda hoje, os judeus celebram a Páscoa aos moldes do Antigo Testamento.
Eles celebram a libertação do povo do Egito, através de Moisés, sendo que ainda hoje eles esperam o Messias. Jesus estava celebrando isso, estava celebrando essa Páscoa. E aí vem a Páscoa cristã, o sacrifício não é mais o cordeiro, o cordeiro é Jesus mesmo, que se oferece por nós todos, que se entrega para ir ao matadouro e se oferecer como oração viva por nós, pelos nossos pecados, pelas nossas vidas; e por isso, que Ele pega o pão, que é também o símbolo da Páscoa judaica, e diz ‘isso aqui não é mais pão, é o meu corpo. Tomai e comei’. Todos aqueles que comem este corpo, terão a vida eterna’. E fez a mesma coisa com o vinho: ‘isso aqui não é mais o vinho, isso aqui é o sangue. Tomai e bebei’. Então, aqui está a Páscoa cristã, dentro de uma Páscoa judaica, Jesus acrescenta esses elementos do pão e do vinho, fazendo com que o seu corpo e o seu sangue sejam transformados em alimentos para as nossas vidas. Ele conclui a Ceia dizendo: ‘façam isso, fazei isto em memória de mim’. E é isso que nós celebramos na Quinta-feira Santa. Na Quinta-feira Santa, nós celebramos essa ceia pascal.
Foi nessa ceia que Jesus lavou os pés dos seus discípulos como gesto de humildade. Existe um gesto de humildade maior do que este? O Messias, que é senhor das nossas vidas, lavar os pés de todos nós, os pecadores. E Jesus conclui este gesto ensinando aos seus filhos: ‘vocês me chamam de Mestre e Senhor. Ora, eu, que sou Mestre e Senhor; façam isso também ao mesmo tempo. Lavem os pés uns dos outros.’ E aqui, queridos irmãos e queridas irmãs, está o maior ensinamento da fé cristão, está o maior ensinamento da Páscoa cristã. Oxalá, se nós aprendêssemos a fazer isso, não teríamos tantas disparidades, tanta violência e tanta crueldade no mundo.
O Progresso – Apesar de ter vivido 33 anos, Jesus Cristo teve pouco tempo para cumprir o seu evangelho. Durante apenas 3 anos, ele anunciou o que viera fazer na terra. Que vida intensa teve este homem?
Dom Gilberto – Jesus viveu 30 anos naquele ambiente da Galileia, que é um dos estados da palestina. Mas existe ainda a Judeia e a Samaria. Era como daqui a Carolina a extensão de todo este país, portanto, Jesus ficou muito conhecido. Com 30 anos, ele assumiu a missão que o Pai deu a Ele, começando assim a sua missionaridade, iniciando a pregação à boa notícia. Três anos foi tempo suficiente para Ele formar os discípulos, que, depois, vão dar continuidade a sua missão. Já com a novidade da ressurreição. Ao mesmo tempo, foi suficiente para criar, diante daqueles que na época tinham o poder, que enganavam e manipulavam o povo, teve este período que eles perseguissem Jesus culminando com a sua morte, mas também com a ressurreição por parte do Pai.
O Progresso – As atividades desenvolvidas pelo comércio desvirtuam a data religiosa?
Dom Gilberto – Olha, certamente, que nós vivemos numa sociedade pagonizada em razão de certos laicismos dos poderes do mundo, uma vez que o povo é religioso, tem a sua fé. O brasileiro, sobretudo, é cristão por excelência. Os católicos aproximam-se de 75% da população, mas as outras determinações são cristãs. Elas também devem celebrar também a ressurreição, devem celebrar a Páscoa do Senhor, já que sem ressurreição, não há vida de Jesus. Quando eu digo que uma sociedade é pagonizada, quero dizer que as leis estão distanciando cada vez mais a população destes momentos. Estão comercializando a Páscoa como já comercializaram o Natal.
O Progresso – Como o senhor observa o trabalho da mídia em relação aos assuntos da igreja?
Dom Gilberto – A mídia ajuda quando ela favorece a verdade, o diálogo, quando tem uma filosofia que vai de encontro à natureza das coisas e não na aparência. A ajuda acontece quando propõe o debate, escuta as diversas opiniões. Prejudica quando é sensacionalista e leva para o ar programas que não contribuem com a formação das pessoas. Além de não se preocupar, não tem o cuidado de orientar as pessoas, indicar os bons caminhos.
O Progresso – O que o homem deve fazer para viver melhor, principalmente em harmonia com o meio ambiente, quando temos uma palavra em voga hoje em dia: sustentabilidade?
Dom Gilberto – Começando a renovar para renascer, dizendo eu não sou assim.
O Progresso – O que é a oração das laudes?
Dom Gilberto – A introduzimos em 2010. A laudes é a oração da manhã. Antes da Celebração das Bênçãos dos Olhos, nós temos a laudes, que deve ser feita por todos os católicos. Na verdade, são os salmos cantados. A igreja primitiva fazia muito isso: reza com a palavra de Deus. E os Salmos são isso. Temos 150 Salmos na Bíblia. Há Salmos para todos os momentos: louvor, penitencial e pedido, dependendo da situação que estamos vivendo. Hoje, por exemplo, nós rezamos o padecimento de Jesus já anunciado e falado pelos salmistas.
(*) Raimundo Primeiro é apresentador do programa “Repórter nos Bairros”
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