‘Parente’: “Não tem segredo: é acordar cedo e dormir tarde”

Hemerson Pinto

“Não dava para pagar nem o talão da energia”, comenta sorrindo o que antes era um verdadeiro drama na vida de José Messias, da esposa Maria das Graças e dos filhos. As contas não batiam, a família passou sufoco e hoje compra e vende, por semana, cerca de 54 toneladas de frutas no sacolão mais conhecido e frequentado da cidade. Mas antes de tudo isso, Parente, como é conhecido o personagem dessa história, trabalhou na roça, sujou as mãos de graxa e viajou muito.
Filho do casal de lavradores (in memoriam) Antônio Pereira da Silva e Raimunda Pereira da Silva, José Messias Pereira da Silva, o ‘Parente’, nasceu no município piauense de Floriano. Uma das lembranças que não tira da cabeça foram as várias idas com os país para a lida na roça. É o mais novo dos 16 irmãos (oito homens, oito mulheres). A mudança da família para Imperatriz, quando o garoto tinha apenas 10 anos, não alterou a rotina. “Meus pais continuaram trabalhando com roça e a gente sempre acompanhando e trabalhando junto”, lembra.
Foram 13 anos morando na região do Grande Santa Rita. Entre os 13 e 14 anos de idade, aprendeu os primeiros passos de um bom mecânico. Anos depois, já casado, mudou-se para Belém, capital do estado do Pará. Foi inscrever-se em uma empresa que prestava serviços à Petrobras. O jovem, com pouco mais de 20 anos, cursou somente até o Ensino Fundamental (antigo 1º grau), mas conseguiu uma das vagas para a área de mecânica. O emprego o trouxe de volta para perto de Imperatriz. Foi destinado a trabalhar na região de Pequiá, município de Açailândia. Mais tarde, Imperatriz era novamente o destino do ‘Parente’.
A volta para a cidade trouxe desafios. Morando no Parque Alvorada, onde reside até hoje, ‘Parente’ foi proprietário de um comércio de secos e molhados. O negócio começou a desandar e quebrou. Foi nessa época em que até pagar a conta de energia elétrica era um sacrifício. O jeito foi encontrar em outra atividade, também no ramo de vendas, a saída para tirar a família do aperto.
Empurrando uma bicicleta de frutas durante três anos, acompanhado dos filhos, “Parente” colheu aos poucos os frutos do trabalho forçado e desgastante. Conseguiu alugar um espaço no cruzamento da Avenida Bernardo Sayão com a Rua Piauí e instalou o ‘Sacolão do Parente’. Ficou mais conhecido pela atenção dispensada aos clientes, aos quais sempre tratou como ‘parente’.
“De tanto eu chamar a todos de parente, fiquei conhecido assim. Foi uma forma de eu me dirigi às pessoas chamando-as assim. Não sabemos os nomes de todos, para não chamar de “dona Maria”, seu José” sem esses serem seus nomes verdadeiros, comecei a chamar assim mesmo: ‘Diga aí parente’. Hoje o parente sou eu”, diz em tom descontraído.
O ‘Sacolão do Parente’ cresceu e não coube mais no lugar onde antes funcionava o estacionamento de um supermercado. Foi necessário alugar outro espaço, desta vez na Avenida Ceará. Hoje emprega seis pessoas, os filhos e a esposa continuam se dedicando ao negócio da família. Se o ‘Parente’ precisou pagar alugou para morar, agora tem inquilinos e não precisa andar a pé: tem três carros.
A política é outro espaço que o ‘Parente’ deseja conquistar. Em 2012 foi candidato a vereador pelo PSDC, quando conquistou 970 votos de ‘parentes’, ou seja, amigos que acreditaram no projeto do empreendedor. “Valeu a experiência e agora quero seguir tentando. Sou de família de lavradores, sei que a dificuldade de ser vereador em Imperatriz é grande diante de tantos nomes que temos na cidade disputando as vagas. Mas como Deus sempre abriu as portas pra mim, sei que vou chegar àquela casa (Câmara)”, declara. Finalizando, “começo trabalhar às 5h da manhã e paro às 11h da noite. A vida me ensinou”.