Manoel da Voz é um dos fundadores do Ouro Verde
Bairro construído próximo a barrancos

Hemerson Pinto

Em meados da década de 1980, provavelmente no ano de 1986, um bairro distante cerca de 7km do centro de Imperatriz começava a receber os primeiros moradores. A ideia era que o pequeno pedaço de chão localizado em uma parte alta da cidade recebesse construções em regime de mutirão. A conquista do terreno e das mil casas (este seria o número de construções) foi da extinta associação dos inquilinos, formada, logicamente, por famílias que moravam em residências alugadas.
Quem deu notícias ao O PROGRESSO sobre a existência da tal associação foi um dos primeiros moradores e cooperadores durante as construções das casas onde hoje é o Ouro Verde. Seu Manoel Félix Duarte, o ‘Manoel da Voz’, idealizador da Voz da Liberdade. Segundo o homem de 59 anos, o nome verdadeiro do bairro é outro: Vila Sarney. “É assim que está no papel”, comenta o morador.
“Pois as casas que seriam construídas em mutirão seria na época do presidente José Sarney, que facilitou o processo enviado verba para ajudar na compra do terreno. O prefeito da época era Ribamar Fiquene, mas logo em seguida começou o mandato de Davi Alves Silva. Sei que não foi à frente o projeto, pois as casas deveriam ser entregues totalmente prontas aos proprietários, com direito à cerimônia de entrega das chaves, mas não foi assim”, explica Manoel da Voz.
Segundo o morador da Rua Tarciso Meras, os governos municipal e federal não concluíram o projeto e os próprios moradores que seriam beneficiados acabaram assumindo a causa. “Nos reuníamos sempre nos sábados, domingos e feriados, e cada pessoa ajudava ao outro construir sua residência. Quem não podia pegar no pesado pagava diárias a alguém para fazer isso, mas todos estavam presentes durante as construções. Não foram as mil casas, mas aos poucos outras pessoas foram chegando, comprando terrenos, invadindo, e o bairro foi se transformando no que é hoje. Muita gente criticou, pois o terreno adquerido era longe, acidentado e em local perigoso”.
A energia elétrica chegou mais tarde e Manoel afirma ter participado entre as lideranças que corriam as ruas do Ouro Verde colhendo assinaturas para o abaixo assassinado, que tempos depois conseguiu um transformador que gerou os primeiros ‘bicos’ de luz. Água encanada, nem pensar. Os moradores cavavam poços até encontrar água considerada apropriada para beber e para o preparo de alimentos.
A Voz da Liberdade surgiu ao final da mesma década. “Recebi equipamentos doados pelo Davi. Eram dois alto-falantes, amplificador e microfone. Usei um pequeno cômodo da casa para transforar em estúdio. Às 6h da manhã tocava a ave maria. Mais tarde tocava algumas músicas para anunciar comerciais. Criei o programa ‘Documento Sertanejo’, com músicas sertanejas das que o povo gostava de ouvir. A Voz chegava até ao bairro Santa Rita. Sei disso porque tinha uma costureira de lá que vinha aqui pagar para fazer anúncios. Ela dizia que toda a vizinhança ouvia, e bem, a Voz da Liberdade”, lembra Manoel.
Deficiente visual desde muito jovem, Manoel ignorou o que seria uma barreira na vida e passou a usar ouvidos e voz para superar a falta da visão. A Voz da Liberdade durou até meados de 1990. “Os equipamentos queimaram, quebraram e não tive condições de levantá-la novamente”. Por volta de 2000 conseguiu reerguer a Voz, mas anos depois voltou a desativá-la. “Por falta de recursos mesmo. Mas não abandonei a ideia de colocá-la em funcionamento mais uma vez”, diz, determinado.
Quase 30 anos depois, o bairro, que ganhou o apelido Ouro Verde, pelo qual é conhecido atualmente, guarda características da época em que era uma área recém habitada. “Pode olhar para a maioria, mas a maioria mesmo das nossas ruas. Não tem tantas diferenças dos anos em que começamos o bairro”, declara Manoel, afirmando que Ouro Verde era o nome da fazenda que vendeu parte do território à construção do bairro.
No bairro Ouro Verde existem quatro comunidades ligadas à igreja evangélica, uma católica, um açougue, pequenas mercearias (entre elas, uma que vende pães), um campo de futebol, bares, um posto de saúde, uma escola. “Não tem farmácia. Quem tiver procurando um bairro para inaugurar uma, vai lucrar por aqui”, adianta seu Manoel.