Elson Araújo 

Pela leitura que pode ser feita do mundo, conclui-se que o homem desde que começou a pensar, rapidamente chegou à conclusão que se quisesse  prosseguir organizadamente com  sua  saga sobre a Terra precisaria “ acreditar em alguma coisa” para justificar a própria existência - seus fracassos e vitórias, individual  ou coletivamente.  Daí, diante da realidade então vigente, render honrarias à lua ao sol e a outros elementos da natureza passaram a servir de “moleta” para determinar o sucesso nas colheitas, nas batalhas e até no enfrentamento de problemas de saúde.  Algumas populações indígenas, ainda ligadas à cultura ancestral, guardam muito disso no seio das suas comunidades.
Na obra “Cidade Antiga”, o historiador  Fustel de Coulanges, mostra a morte como um dos  primeiros eventos  indutores  da sedimentação de uma crença.  Segundo ele, os patriarcas ao morrerem - para os seus familiares- se transformavam em deuses, os chamados deuses domésticos que a partir daquele evento passavam a proteger o núcleo familiar  do qual pertenciam, sendo que para isso,  era exigida algumas obrigações dos seus entes, caso contrario,  virariam “alma penada”  ou voltariam para atormentá-los pelo não cumprimento da obrigação.
Conforme o mesmo autor, com o tempo os deuses domésticos passaram a proteger, não só seu tronco familiar, mas a dividir a proteção originária com as comunidades que  foram se formando e   dando lugar, às vilas e cidades.  Não é à toa, portanto, o aparecimento a posteriori, dos deuses greco/romanos como Júpiter,  Hermes, Dionísio,  Diana,  “destronados” depois pelo aparecimento do Cristianismo que implicitamente acabou absorvendo  alguns dos  rituais  religiosos, até então, dedicados aos deuses pagãos, o que não  é caso a ser abordado na coluna deste Domingo.  
O mundo mudou e atualmente aqui no ocidente acreditamos em só Deus que nos protege do amanhecer ao anoitecer, e que dependendo dos nossos procedimentos e das nossas crenças, nos ouve em oração e sacia  todas as nossas  necessidades. 
 As orações, com o tempo, se tornaram um poderoso instrumento de fortalecimento da fé e de acesso ao Divino. Sejam aquelas  prontas - as em forma de mantras ou  as espontâneas.  
Os mais antigos, relatam que as orações, sobretudo aquelas prontas, tinham muita importância nas sociedades principalmente nas campesinas. Na ausência das tecnologias de hoje a saída para resolver os problemas de saúde e até mesmo de pragas nas pequenas e grandes propriedades rurais, era a fé, traduzida pelas orações, muitas passadas de pai para filho.  
A mim, já relatadas várias histórias de pessoas que ganhavam a vida “fazendo orações”. Como por exemplo, as de latifundiários que  pagavam para afugentar    até cobras - meu avô carregava uma oração e afirmava que se fosse  picado de cobra a cobra é quem morria”, relata o jornalista Domingos Cezar.  
Quem com mais de 50 anos nesse interior do Nordeste, quando criança não foi levado até uma vozinha para “ser curado” de asma, febre, espinhela caída, e até quebranto?  O mover silencioso dos lábios da “vozinha ou do vôzinho” intermediava a “cura”. Fato era o encontro de fé refletia resultados positivos.
O mundo evoluiu e o processo de orar, também.  Orar se consolidou um momento íntimo com Deus. A própria ciência já fez e publicou estudos sobre a eficácia das orações na vida das pessoas ficando comprovado que orar, faz bem tanto para saúde espiritual quanto física.