A poesia de cordel de mão em mão, nas feiras e no campo, um lia pro outro, já que o analfabetismo era elevadíssimo, e o teatro mambembe também exercia papel importante na conscientização do povo camponês da França pré-revolucionária. Eram esses os meios de comunicar que a sociedade precisava de mudança, e de mudança radical! Aqui, foi o Facebook que andou divulgando as indecências praticadas pelos políticos do nosso Brasil contemporâneo, já que a imprensa tradicional está comprometida. Nesse negócio de um compartilhar com todos as informações de que deputados e senadores fazem essa e aquela negociata (mensalão), de que Governo esse e aquele fazem essa e aquela manobra na licitação (privataria), de que muitos ganham verdadeiras fortunas sem nem ir às sessões do Congresso, voam e voam rápido. Compartilhando de um para o outro (como o cordel na França), foi se formando uma indignação forte. Um enojamento principalmente na juventude, que ainda sonha, que tem tempo pra lutar por uma mudança e vontade de lutar por essa mudança.
A corte francesa nunca imaginava que o povo francês fosse marchar contra o palácio de Versailles, que o povo francês fosse derrubar os portões e prender aqueles governantes, menos ainda que fosse colocar a cabeça deles na guilhotina! A tremenda indignação fez aquilo! Nossos governantes, por esse Brasil afora, também pensavam que estava tudo sob controle, que o povo recebendo Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida fica satisfeito. Parece que não é bem assim, parece que há uma tremenda indignação por aqui. Indignação esta que está a exigir mudança, e tudo indica que é mudança radical!
O movimento de rua, por esse Brasil continental, tem um apelo local, que difere de lugar pra lugar. Em uns, é o transporte coletivo ruim, em outros, ruas esburacadas, sem saneamento básico e pelo país inteiro Educação e Saúde públicas de péssima qualidade... Além dos muitos impostos nas costas desse povo, e muita corrupção que some com os recursos que deveriam melhorar os serviços. Coincidência! Era assim também na França pré-revolucionária: o povo carregava nas costas o Clero e a Nobreza, que não pagavam impostos, como aqui hoje.
O problema é mais profundo do que parece ser. Estamos diante de uma profunda crise política. Nosso povo está cheio desse modus operandi dos políticos que fazem o Brasil atual. Nas campanhas parecem todos diferentes, com suas ideologias bem demarcadas. Depois que passam as eleições eles se juntam e... parecem todos iguais! Vira tudo farinha do mesmo saco! O que é isso? Não votamos pra ver essa bandalheira, votamos em um grupo que pregou uma proposta de mudança, votamos em um grupo que pregou uma ideologia. Por que, depois da vitória, quem votamos se junta com quem queremos ver fora do governo? Eis aí o cerne da indignação maior do povo brasileiro. Esse povo não aceita o que gesta o estado de coisas ruins por consequência. Negociatas para garantir maioria parlamentar, estrutura governamental exacerbada para acomodar todos os aliados e até cooptar inimigos. Tudo é feito escancaradamente, impossível não notar! E é podre, é vil tudo isso que gera muitas despesas governamentais, custo alto da máquina pública. A indignação é geral porque a coisa ocorre desde a estrutura menor até a maior. É prefeito negociando apoio político com vereadores, governadores negociando com deputados estaduais e presidente negociando com deputados federais e senadores. Tudo feito de forma aberta, e muita coisa antiética.
E agora? Eles e elas que fazem a política nacional não sabem fazer diferente, se acostumaram a fazer assim já faz muito tempo. Esse modus operandi que está indignando o povo foi se cristalizando a cada mudança de governo e virou o modelo "ideal", o modo "civilizado" de fazer política. Mas o povo não quer isso, pois se for pra ser assim não precisa mais disputa eleitoral. Não aceitamos mais sermos enganados nem ver suas maracutaias e ficarmos calados. Não precisamos e não queremos a manutenção desse descaramento. E agora? Agora é estudar alguma forma de acalmar um povo que já disse que dez centavos não o compra.
Objetivamente o povo luta por redução no custo do transporte público, mas subjetivamente o povo quer uma profunda mudança ética, de valores e de princípios que possa colocar o nosso Brasil nos trilhos do desenvolvimento sustentável. Para isso, são necessários maciços investimentos em Educação! Mas parece que esses governos que se alternam no poder em nosso país não fazem muita questão, afinal povo mais educado é povo que cobra melhor.
Políticos do Brasil afora, façam a adequada leitura das imagens das manifestações. O povo está queimando as bandeiras que simbolizam os partidos políticos no meio das manifestações e expulsando todos aqueles que, oportunisticamente, tentam infiltrar o símbolo de alguma ideologia político-partidária no movimento. Façam uma urgente reflexão do que estamos vendo, antes que se vire uma França de 1789.

Luis Fernando Pires Pinto
Gerente Ministério do Trabalho em Imperatriz