Cenas do dia a dia são percebidas por todos nós nos difíceis tempos da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Sentimos falta de coisas, que, na maioria das vezes, passavam normalmente. Não chamavam a atenção.
Olha só o que narra João Maurício Martins, o Maurício da Embratel, observador do cotidiano de nossa gente.
Maurício conta que, há 17 anos, Isaque Aires, comercializa “sua apreciada salada de frutas na rua Ceará, no setor compreendido entre a sede da extinta EMBRATEL (Empresa Brasileira de Telecomunicações) e o Residencial Minas de Prata”.
Isaque aprendeu o ofício com o pai, ainda criança, acompanhando-o pelas ruas da cidade, “na sublime missão de sustentar a família, por meio da venda de saladas”. Não parava, trabalhando de segunda a sexta-feira,
Isaque Aires mora no Parque Amazonas e percorre cerca de dois quilômetros até a Nova Imperatriz para vender salada. Pela manhã, na calçada de minha casa. Já a noite, o local escolhido é a calçada da Igreja Santo Antônio, atendendo a todos com cortesia. Seus fregueses, são motoristas de lotações, mototaxistas, ciclistas e pedestres. Ou seja, transeuntes de diversas regiões da cidade.
Com ele, saboreando a salada, amenizam o calor. Com sorriso no rosto, mostra-se simpático e um ótimo papo. Os assuntos são vários. As conversas sobre política e futebol, entretanto, predominam. Homens e mulheres ouvem-lhe atentamente. Trivialidades sobre a nossa imperosa constam da pauta. Tudo ao redor da venda de Isaque.
Certo dia, porém, Isaque tem sua ausência percebida por Maurício, fazendo vir à tona o “sinal amarelo”. Foi quando sua esposa, Inalda, comentou sobre o “sumiço” do amigo. Os apreciadores da salada de frutas e ouvidores das conversas de Isaque, também percebiam a falta, buscando informações sobre ele.
No terceiro dia, ligaram para Isaque. Ele informou sentir dores na cabeça, no corpo, febre e fadiga, acrescentando que “já estava no chá caseiro”. Os dias se passaram. “Sinal vermelho”.
Foi quando Maurício, então, solicitou-lhe que buscasse atendimento médico, fizesse exames, entre os quais o teste para COVID-19. Fez e deu negativo. Novos exames foram feitos – nos rins, fígado e coração. Após dias de sofrimento, constatou-se um cálculo renal. Medicação, orações e repouso.
Após trinta dias, Isaque voltou a vender salada. Foi um grande susto, ficando a lição de que nos habituamos com a rotina das pessoas, não valorizando os momentos nos quais as mesmas estão conosco.
Maurício conclui: “só damos o devido valor quando sentimos a ausência e, muitas das vezes, será tarde demais!”
Bem-vindo, amigo Isaque, “você nos fez falta!”.
(Por João Maurício Martins)
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