Elson Araújo
Todos precisam, mas poucos sabem cuidar dela. Falo da voz, esse poderoso instrumento humano que de tão importante ganhou até um dia no calendário mundial: 16 de abril. Em Imperatriz a data foi comemorada. Teve campanha na TV e técnicos da saúde foram para as ruas propagar os cuidados que devemos ter com a voz.
A voz é um elemento da nossa evolução extremamente complexo. A Wikipédia, a enciclopédia eletrônica, a define como um conjunto do sistema nervoso, respiratório e digestivo, e de músculos, ligamentos e ossos, atuando harmoniosamente para que se possa obter uma emissão eficiente. Associada à fala, na realização da comunicação verbal, pode variar quanto à intensidade, altura, inflexão, ressonância, articulação e muitas outras características. Mas não é sobre o sentido da mecânica da voz que quero falar na coluna de hoje, não. Vou me arriscar a destacar um pouco sobre modo de usá-la, e a influência desse fundamento humano nas relações interpessoais.
Sigamos. Muitas vezes quem sabe usar não a voz, mas o tom da voz acaba se transformando num campeão, ou num outro vértice, num vilão. Não é o que se diz, é como se diz, me alerta um amigo quando o abordo sobre essa questão.
E o amigo tem razão. Na semana passada vi de perto duas amizades estremecerem quando um dos interlocutores admoestava, a seu modo, o colega de trabalho sobre uma tarefa a ser cumprida. A intenção era a melhor possível, no entanto, o modo, o tom usado na emissão da fala surtiu efeito contrário e por alguns instantes gerou um mal estar, e tudo por causa do tom de voz usado na inocente interlocução.
No cotidiano nos deparamos com vários exemplos como este já citado. A autoridade exercida no grito, ou aos gritos, termina não sendo autoridade. Isso nos faz crer que o tom da voz, não importando se é bonita ou não, nas relações humanas é uma questão que deve ser, diria, “vigiada”; isso porque na condição de humano é impossível manter a voz sempre no mesmo tom. Todos em alguns momentos, pelos mais diversos motivos, terminam alterando a voz em ocasiões diversas.
O uso adequado da voz nas relações humanas, por não parecer importante, termina desprezado pela grande maioria das pessoas sendo a preocupação com este item praticamente zero. Acredito até que um aprendizado nesse sentido pode nos livrar de muitos dissabores e nos ajudar nas pequenas, médias e grandes conquistas. O ideal seria educar a voz e mantê-la sob vigilância permanente, e dessa forma, dependendo de cada ocasião, fazermos uso dela adequadamente. Fácil, certamente não é, mas vale a pena tentar.
No ambiente acadêmico há muita gente pesquisando sobre o tom da voz. O estudante Adriano Braun Domingos Xavier escreveu um trabalho monográfico profundo sobre “A Importância do uso Consciente da Voz no Espaço de Trabalho”.
Outro que tem um texto brilhante sobre o tema é o escritor Bernardino Nilton Nascimento. Ele assinala que a voz humana é o instrumento mais delicado que Deus Criou, e que pode ser educada. Ressalta ainda que se pode fazê-la expressar todas as espécies de emoções do fascinante rol das sensações humanas, desde a maior tristeza até o maior êxtase de alegria.
No seu trabalho monográfico, o estudante Adriano Braun escreveu que a voz é considerada uma tradução da personalidade humana, um símbolo que apresenta o indivíduo ao mundo por meio de sons. É uma “carteira de identidade” ou o equivalente à “impressão digital”, posto que seja única e, portanto, singular. “Através dela, as pessoas demonstram quem são o que sentem e como enxergam o mundo. Na voz, é possível detectar as sombras e a luminosidade de cada um. Ela é, igualmente, uma arma de extremo poder nos processos comunicativos”.
E, para encerrar, mais uma observação feita pelo escritor Bernardino Nilton Nascimento sobre a voz. “Dê atenção a ela e seu interesse despertará para melhorar o tom de sua voz. Uma boa voz pode ser adquirida, assim como se pode alcançar um desejo. Regular o tom de voz é tão importante como possuir um tesouro, pois nenhuma outra faculdade humana se iguala no poder de influenciar os outros.
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