Illya Nathasje
Na manhã de ontem, um casal morreu no acesso da JK com a BR-010, sob as rodas de uma julieta ou bitrem, de propriedade de uma dessas empresas que prestam serviço para a Suzano Papel e Celulose. A empresa chegou, trouxe renda de imediato através dos aluguéis e determinada geração de emprego. Esse foi parte do almoço que já foi servido. A sobremesa virá ao longo dos anos, através do aumento da receita via ICMS, gerada pela comercialização de seus produtos para o mercado externo. Se a cidade vier a ter um gestor competente que saiba utilizar a receita própria, podemos pensar que a cidade terá, naturalmente, melhor qualidade de vida. O atual, Sebastião Madeira, somente poderá utilizar esses valores em 2016, último ano de seu mandato.
Não tem almoço grátis. A conta a ser cobrada no tocante a conurbação próxima do inferno que Imperatriz se transformou, com os acessos para João Lisboa e Davinópolis transformados em sucursais, são os acidentes e suas vítimas fatais. Na maioria das vezes, quem sobrevive carrega sequelas para sempre. Se culpar os mortos pelos acidentes já é trágico, culpá-los por suas mortes, então, beira, além da irresponsabilidade, a desumanidade.
Nove fora estes, embora desnecessário, é preciso dizer que a culpa é das autoridades. Dos responsáveis. Descobrir quem são esses é outra história. Se ninguém faz nada, vão assumir o quê?
Triste nesse cotidiano é o de sempre, muita estória, muito blá-blá-blá e nada efetivo. É a travessia urbana que não existe e, como promessa, tantas vezes anunciada. Enquanto isso, as mortes se somam.
Vergonhoso nessa história é que cidades de menor porte em nossa vizinhança, como Araguaína (população: 168.093 hab), Guaraí (24.629 hab), Colinas (33.078 hab), Paraíso (47.724 hab) e Gurupi (81.729 hab) possuem travessia urbana. Vergonha das vergonhas é ver no noticiário que nessa mesma Belém-Brasília, o trecho entre Anápolis e Gurupi será duplicado.
O acidente de ontem é só o primeiro deles. Imaginem quando começar a pleno vapor o corte de eucalipto. Serão trezentas carretas (cada uma delas com trinta metros de comprimento) trafegando, a maioria delas na BR-0l0 e todas elas com destino a Imperatriz. Quantos mortos herdaremos?
Enquanto isso, para Imperatriz, incompetente pela ausência de competentes em resolver o problema, só o barulho das rodas e as freadas dos acidentes, como um enunciado das mortes a deixar fraturas na alma de quem fica.
Publicado em Cidade na Edição Nº 14972
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