*Roberto Wagner

O que leva uma pessoa, com inteligência mais do que suficiente para avaliar corretamente suas chances em determinado processo criminal, a seguir negando sua participação em fatos já devidamente apurados? Um milagre, na suposição de que, nessa seara, milagres podem acontecer?
Embora apenas episodicamente atue na área criminal, penso que há momentos em que o advogado deve fazer seu cliente entender que é absolutamente inútil continuar insistindo em negar o inegável, já que nenhuma dúvida poderá ser alegada no sentido de favorecê-lo.
Dá até para entender que, em casos em que o crime foi praticado por uma só pessoa, esta, não vendo outra saída, prefira negar que tenha sido a autora, na espera do tal milagre a que me referi acima. Mas tal desesperada atitude soa incompreensível nos casos em que, em razão da enormidade do crime ou dos crimes cometidos e do grande número de pessoas envolvidas, pode lançar mão da chamada delação premiada, ainda que não seja de todo impróprio dizer que trata-se de algo acentuadamente antiético e imoral. Para salvar a própria pele, pode-se argumentar, vale tudo, até ser antiético e imoral.
Essas considerações vêm a propósito, já deu para o leitor perceber, da situação de Renato Duque, que insiste em seguir travando uma luta claramente inglória contra os fatos. Imagino que ele tenha advogados  inquestionavelmente brilhantes, entre os melhores do País, mas aí eu me pergunto: o que eles estão esperando para tirar a corda do pescoço do ex-diretor de Serviços da Petrobras, em vias de ser condenado, se não optar rapidamente pela delação premiada, a uma pena que certamente alcançará dezenas de anos?
Há quem afirme que a esperança desses e de outros advogados que estão atuando em defesa dos envolvidos na Operação Lava-Jato que preferiram, pelo menos até agora, fazer vista grossa para a delação premiada, é que, mais à frente, o Supremo Tribunal Federal anulará, sabe-se lá por qual razão, todo o extenuante e irretocável trabalho do juiz Sergio Moro.
Ainda que não se deva duvidar de nada nesse País, nem de longe passa pela minha cabeça que o STF terá coragem para se lançar em tão tresloucada aventura.

Até a próxima.

 Advogado*