Francimar Moreira
Primeiro dia do mês de janeiro de 2020, quinta feira, 4h30min da madrugada, como de costume, estou ao computador vendo algumas notícias, lendo alguns comentários e, às vezes, até escrevendo algumas linhas.
De repente aquela sonoridade cadenciada que a toda alvorada estimula meus sentimentos:
-- TOC-TOC, TOC-TOC, TOC-TOC, TOC-TOC... É o som das pisadas de um cavalo no asfalto, com seus cascos maltratados, puxando a carroça e conduzindo o seu guia.
A primeira imagem que me vem à mente é a do cidadão carroceiro, que, às três horas da madrugada, quem sabe antes, já estava embrenhando em algum matagal procurando o motor de seu veículo movido a tração animal.
A segunda imagem a povoar meu cérebro é a do equino, um irracional dócil que, pela facilidade com que se deixa domar e a utilidade que tem, foi feito escravo, junto com o seu guia. Procuram-no todas as madrugadas, e mesmo sem haver cometido nenhum crime, é preso, maltratado e suas energias exploradas à exaustão.
A terceira imagem a edificar-se em minha mente, a qual eu não seria capaz de repelir, é a do político LADRÃO, esse salafrário integrante de um bando que infesta o Brasil de ponta a ponta, rouba os recursos da merenda escolar, da saúde e outras áreas, e é responsável por milhões de brasileiros terem de trabalhar tanto, para custear mordomias e roubos de políticos.
O dinheiro que esses facínoras malbaratam e furtam poderia atenuar a carga de trabalho do carroceiro, do cavalo e de milhões de brasileiros que dão um duro descomunal para sobreviver. Poderia, ainda, alimentar melhor as crianças e salvar muitas vidas humanas, com melhor assistência médica, além de melhorar as condições de vida, em geral, da população.
A quarta imagem, que também não fui capaz de evitar, foi a de um turbilhão de neurônios se engalfinhando em uma luta frenética contra a situação a que a cambada de políticos ladrões impôs ao Brasil. A revolta que agitava meus agentes da cognição parecia própria de quem desejava, a qualquer custo, romper a caixa craniana para se libertar e puder lutar contra a política nefasta imposta ao Brasil.
Mas libertarem-se mesmo de quê, de quem e para quê?!... Do carroceiro? Do cavalo? Do político ladrão? Do invólucro craniano que os contém, ou dá inércia e ignorância que mantém a maioria dos DUZENTOS E DEZ MILHÕES de brasileiros submetidos à vontade de uma malta política mais perniciosa do que bandos de assaltantes de armas em punho?! Esta é a questão que precisamos discutir com firmeza, visto não restringir-se a um guia de cavalo, a um equino, a um político vigarista, ou mesmo aos neurônios de um indivíduo, a tarefa de enfrentar os problemas sociais que afligem o Brasil.
O fato de milhões de brasileiros, como aquele carroceiro e seu cavalo, madrugarem diariamente, para sub-alimentar uma família e, ainda assim, viverem miseravelmente, enquanto uma caterva de políticos execráveis, cinicamente, rouba e tripudia sobre o povo brasileiro, ação criminosa e repugnante, resulta de uma cultura de dominação milenar imposta pela força bruta e mantida à custa do medo de castigo.
São milhões de brasileiros que, como aquele carroceiro e seu cavalo, madrugam diariamente e laboram de dez a quinze horas por dia, para se manterem e sustentar suas famílias e a máquina pública que dá guarida a CORRUPTOS, LADRÕES E PARASITAS DE TODOS OS MATIZES, o que é, simplesmente, uma infâmia que precisa ser combatida com a força da fúria popular, porém guiada pela bússola da razão.
Se os políticos saqueiam os recursos públicos, roubam e traem a consciência do povo, e este, como boiada que ignora a força que tem, não reage e procura dar um basta nisso tudo, é sinal de que estamos, indiscutivelmente, sendo cúmplices da patifaria, do massacre. E, é claro, a questão sai da responsabilidade de uns poucos indivíduos e passa a depender do despertar da consciência coletiva.
Ah, mas essa cumplicidade é fruto do medo e da desinformação, como já foi explicitado neste texto, e não vai mudar tão cedo! Sim, mas a reação é um instinto inato a toda a espécie animal; não precisamos elaborar nenhuma teoria sofisticada para manifestá-la. Logo, o que falta é o transbordar da ira popular e coragem moral para guiá-la. A CORAGEM da qual falou Erich Fromm, pensador, psicanalista, sociólogo e filósofo alemão.
À grande maioria do povo brasileiro falta coragem moral, discernimento, capacidade para reconhecer a força da boiada contida na massa humana. Infelizmente, vamos continuar patinando nesse lamaçal mal-cheiroso da política imunda. Até quando?! Até a maioria dos brasileiros adquirirem consciência de que VOTO é coisa séria. Acho, porém, que a internet, com sua enorme penetração, tem um grande poder antecipatório.
A quinta imagem a povoar minha mente é a de uma elite fluida, inculta, antiética, amoral e desprovida de qualquer sentimento humanitário. Uma elite - econômica, acadêmica, profissional e dirigente - que não mede esforços para se distanciar e se diferenciar do padrão médio de vida que leva a esmagadora maioria do sofrido e espoliado povo brasileiro. Povo esse tangido, de forma criminosa, para longe dos centros urbanos, o que lhe torna a vida muito mais dispendiosa e cruel.
Ou será que alguém tem dúvida de que o deslocamento para áreas distantes ou periféricas, nas médias e grandes cidades do Brasil, de grandes contingentes humanos, quando são jogados em lugares íngremes e de difícil acesso, resulta da ganância patológica das elites econômicas e dirigente em conluios criminosos?!...
Ou o mundo inteiro não sabe que as áreas loteadas e o seu entorno estão sempre sob o domínio de aproveitadores odientos?! Que loteamentos em lugares inapropriados têm sempre o objetivo de beneficiar pessoas abastadas e sem escrúpulos?!...
Por fim, diga-se, para elucidar o tema em debate que, a elite contribui sobremaneira para sacrificar, cada vez mais, a vida da maioria do povo brasileiro. Aliás, alguém já teria dito:
-- O problema do Brasil é sua elite!
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