Hemerson Pinto
Na primeira vez que nossa reportagem passou pela Avenida Frei Manoel Procópio, na manhã de sábado, 14 de setembro, e viu o cidadão em um dos bancos do canteiro central, imaginou que o vendedor estava parado apenas para descansar. Cerca de 30 minutos depois, passamos novamente pelo mesmo local. O homem continuava ali como sequer houvesse se movimentado. Não era apenas para descansar.
Resolvemos parar e conversar por alguns instantes com aquele cidadão que parecia olhar distante, para algo que não estava distante poucos metros. O carrinho pintado em azul e amarelo tinha cobertura de um tipo de lona e carregava tangerinas, mamões, laranjas e bananas. O homem calçava chinelos de dedo, vestia um calção de cumprimento acima dos joelhos e uma camisa azul de mangas longas. Para proteger a cabeça, um boné.
José Borges Vieira nasceu em uma cidade que o homenageia com o nome do município: Joselândia-MA. A terra de José foi deixada por ele ainda moço. Trabalhando de roça, percorreu alguns municípios maranhenses até chegar a Graça Aranha, no mesmo estado. Mais tarde, mudou-se para Senador La Rocque e em 1989, Imperatriz.
Aqui o serviço braçal foi trocado pela venda de frutas. A atividade que exerce desde 1989 também exige força nos braços, mas nem comparado ao esforço de quem precisa trabalhar o chão para plantar. Talvez compara-se ao esforço para manter a família, composta pela esposa e cinco filhos. Hoje, quatro. Um morreu em 2008 aos 24 anos nas águas do rio Tocantins.
Sentando no banco do canteiro central da Avenida Frei Manoel Procópio, seu José estava a poucos metros do rio. O olhar distante, em direção ao final da rua, na verdade refletia as lembranças da vida do homem de 56 anos, inclusive a perda do filho. A confirmação veio durante a entrevista. Sem tocarmos no assunto, pois nem tínhamos conhecimento, seu José contou: “Um filho meu morreu no rio Tocantins, em 2008”. O olhar finalmente se aproximou, como se ele necessitasse falar aquilo para ‘voltar’ à realidade.
O carrinho de mão é o mesmo de 24 anos atrás. Até a cor da pintura, renovada quando começa a perder a cor. O tamanho é o mesmo, abriga a mesma quantidade de frutas. Ganha apenas manutenção com rodas, câmaras de ar e alguns pregos para mantê-lo firme. Até o percusso é praticamente o mesmo.
“Eu saio cedo para o Mercadinho, compro as mercadorias e começo a vender pelo Centro até chegar aqui na ’15 de Novembro’ (antigo nome da Avenida Frei Manoel Procópio). Daqui, vou até o final da Rua Coronel Manoel Bandeira, vou para a Praça Mané Garrincha e pela Nova Imperatriz, até chegar em casa”, diz o morador da Rua São Bento.
Enquanto conversava com o O PROGRESSO, atendeu dois clientes. Um deles, um senhor de cabelos grisalhos que parou um carrão no meio da rua. Sem ligar alertas, deixou uma das portas aberta. Gritou com o vendedor, ordenando que parasse de conversar com o jovem que segurava um gravador e uma câmera de fotografar e viesse atendê-lo. José deixou a entrevista prontamente.
O sujeito, de jeito brincalhão, é cliente de José há muitos anos. “Toda vez que ele aparece é assim. Como se estivesse brigando comigo. Gosta muito dessa brincadeira”, justificou o vendedor. Após o atendimento ao cliente especial, José retoma a conversa apenas para afirmar que deseja continuar a venda de frutas, “até o dia que Deus deixar”.
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