Hemerson Pinto
Não são apenas as pessoas com residências às margens do rio Tocantins que têm a rotina modificada com o sobe e desce do nível do rio. Quem trabalha com o transporte de passageiros ou mercadorias nas embarcações também precisa ficar atento à velocidade da água e ao local aonde deverão atracar os barcos ao final do expediente. Qualquer ‘vacilo’ pode significar prejuízos.
Antônio Conceição das Chagas, o Curica, conhece bem o percusso que faz há 35 anos entre o povoado Imbiral, lado tocantinense, e o Cais de Imperatriz. De acordo com o barqueiro, o conhecimento sobre o rio garante uma navegação tranquila, porém desde o funcionamento da hidrelétrica de Estreito, no Maranhão, a atenção precisou ser redobrada.
“Agora a gente não sabe mais quando o rio está com o nível baixo nem quando a água vai subir. Conhecemos todo o caminho, por onde levar o barco, os melhores locais para passar, é uma viagem tranquila. Mas com esse sobe e desce temos que ficar mais atentos, até mesmo com a força da água”, diz o navegador.
Curica aponta outra mudança que, segundo ele, passou a ser rotina na profissão dos barqueiros desde que o rio começou a apresentar nível inconstante. “Quando encerramos o expediente, não podemos mais deixar o barco perto da margem. Agora, temos que usar uma corda grande e forte para amarrar a embarcação afastada da margem do rio, isto é, mas para dentro do rio. Temos que fazer isso todos os dias antes de ir dormir.
A medida preventiva foi adotada por barqueiros como o Curica, quando começaram a sofrer prejuízos. “Muitos barcos amanheceram o dia tombados ou virados. Você vai dormir e deixa ele amarrado na parte mais rasa, na margem mesmo. Quando acorda no outro dia, a água baixou de uma vez e o barco não se segurou na terra, e virou. Sempre dá algum prejuízo”, conta.
O barqueiro Curica lembra que há algum tempo ainda era possível ver o nível do rio Tocantins se manter estável ou com pequenas alterações durante meses. “Entre setembro e outubro de um ano e até o mês de maio do outro, o rio ganhava água e se mantinha assim. Todo barqueiro, pescador e viajante sabia disso. Agora não tem mais como ninguém saber”, conta.
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