Raimundo Primeiro
Morreu na madrugada dessa quinta-feira (15) em Imperatriz, aos 55 anos, Raimundo Nunes da Luz Ferreira, conhecido como Neném Bragança, que tornou conhecida a música “Ave de Arribação”, de autoria de Javier di Mar-ya-bá.
A voz marcante, grave, que conseguia ir além do que as pessoas geralmente esperavam do cantor, também deu voz a outros sucessos, entre eles “Imperador Tocantins”, do imperatrizense Erasmo Dibel.
Neném Bragança não era imperatrizense, pois havia nascido em Bragança (PA), mas considerava-se filho da cidade que o adotara desde que aqui chegou, apresentando-se em vários festivais, caso do Festival Aberto do Balneário Estância do Recreio (Faber), realizado às margens do Rio Tocantins.
O cantor teve seu nome projetado após ganhar cerca de 70 troféus em concursos de músicas. Vivia em Imperatriz desde os anos de 1980, possuindo uma elevada gama de admiradores. Seus shows não ficavam vazios. O público acorria aos anúncios, indo prestigiá-lo. O trabalho não foi em vão. O cantor ficou conhecido como “papa festivais”. Fez e deixou história no campo em que soube atuar – o da música.
Neném Bragança, havia um ano, lutava contra um câncer no palato (céu da boca). O cantor esteve tratando da doença em São Paulo (SP), retornando a Imperatriz para dar continuidade perto de familiares e amigos. O cantor deixa mulher e filhos.
Neném descobriu a doença durante tratamento dentário realizado antes de entrar em estúdio para começar a gravação do Projeto “Som do Mará”, projeto composto por um DVD e um CD, lançado em 16 de dezembro de 2014, no “Brasileirinho”, em Imperatriz, com a confirmação acontecendo após biópsia.
Há vários meses sem trabalhar, o show realizado por ocasião do lançamento de “Som do Mará” teve por objetivo levantar fundos para a continuidade do tratamento de Neném. Beneficente, o evento conseguiu levar para as dependências do “Brasileirinho”, Centro de Imperatriz, artistas e pessoas dos diversos setores da comunidade.
Para o instrumentista Chiquinho França, amigo e parceiro do cantor há vários anos, coordenador do Projeto “Som do Mará”, Neném era um dos melhores intérpretes da Música Popular Maranhense (MPM). Com sua voz e performance, ele conseguiu fazer ecoar a música estadual, principalmente a tocantina, obtendo, por meio dele, projeção e reconhecimento nacional.
O poeta, compositor, cantor e escritor Zeca Tocantins, membro da Academia Imperatrizense de Letras (AIL), que também esteve envolvido na divulgação de “Som do Mará” em Imperatriz, destacou a importância de Neném para a música maranhense. Segundo ele, as referências são as melhores possíveis. Zeca esteve fazendo visita recentemente a Neném, em sua casa. “Estávamos confiantes e esperançosos”, comentou à reportagem.
Por meio da realização do Projeto “Som do Mará”, Neném conseguiu deixar registrado seu talento e trabalho para as futuras gerações, abrindo um novo leque de oportunidades para os novos autores e intérpretes imperatrizenses.
A morte de Neném repercutiu nas redes sociais. No Facebook, por exemplo, vários comentários sobre a perda deste importante artista da música imperatrizense foram feitos ao longo da quinta-feira.
O universitário Nilton Nogueira dos Santos, estudante da Faculdade de Educação Santa Terezinha (Fest), lembrou que, quando uma árvore é cortada, renasce em outro lugar. “E nosso querido Neném Bragança, com certeza, está renascendo noutro lugar onde exista muita paz e amor”, aproveitando para acrescentar: “Dizem, também, que Deus usa a morte pra nos mostrar a importância da vida (…). Descanse em paz, poeta imperatrizense”.
O jornalista Elson Araújo, assessor chefe de Comunicação da Prefeitura de Imperatriz, ressaltou, no meio da tarde, que Neném Bragança “deixa um enorme vazio, hoje preenchido pelas lembranças das suas múltiplas apresentações nos festivais e nas peças de teatro que participou”.
Elson Araújo lembrou, a propósito, que “será impossível esquecer aquele homem simples, de voz poderosa, imortalizada pela belíssima interpretação de ‘Ave de Arribação’, a composição de Javier di Mar-ya-abá, que o consagrou como um dos mais importantes intérpretes da música maranhense”.
Em tom de desabafo, Neto Garcia também fez comentários sobre a morte de Neném Bragança: “Triste, principalmente pra mim, que tava com ele, aqui em Ribeirão Preto (São Paulo), quando ele tava fazendo os exames e os médicos falaram que ele ia ficar bom e ‘zerado’, só dependia do maldito dinheiro. Ficam aqui meus sentimentos à família, minha indignação de ver que, perante aos homens, não somos nada mesmo. Ainda bem que Deus é misericordioso”.
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